Segundo a ONU, a definição do processo de desertificação que atinge várias áreas do globo, seria “a degradação das terras nas regiões áridas, semi-áridas e sub-úmidas secas, resultantes de diversos fatores, tais como as variações climáticas e as atividades humanas”. Significa então que o solo perdeu sua capacidade produtiva devido aos fatores citados. Em regiões áridas, já existe uma pré-disposição ao processo de degradação, que pode inclusive, iniciar naturalmente, porém, sem desequilíbrio. Bem, o que as pessoas deviam saber sobre desertificação é que ela não existe só na África e Ásia, mas no Brasil também, e não é apenas uma região brasileira que apresenta o problema em nível já avançado, mas inúmeras.
No estado do Rio Grande do Sul, especificamente nas regiões dos
municípios de Alegrete, Quaraí e adjacências, já se observa um agressivo
processo de degradação do solo, intensificado pelo manejo inadequado dos
recursos naturais.
Os solos da região já apresentam tendências naturais à
degradação, visto que são mais arenosos, com baixa coesão entre as partículas,
baixa fertilidade e esparsa cobertura vegetal. Porém, com a intervenção
inadequada do homem, as áreas se expandiram e até mesmo áreas não degradadas,
hoje apresentam o processo de arenização, formando os chamados “areais”. Neste
local, não é atribuído o nome de desertificação ao processo que atinge o local,
visto que o Rio Grande do Sul não está inserido nas faixas climáticas árida e
semi-árida.
No nordeste do país (região árida e semi-árida), há quatro
núcleos de desertificação existentes, com área de cerca de 18.000km2, sendo que
“núcleos de desertificação” são consideradas áreas com o processo de degradação
já irreversível. Fora isso, cerca de 1 milhão de km2 das regiões nordeste e
norte do estado de Minas Gerais se encontram susceptíveis ao processo e já o
apresentam a um certo grau.
Com base em pesquisas do Centro Hadley do
Escritório Meteorológico do Reino Unido, até o ano de 2100, um terço do planeta
estará convertido em deserto. Migrações de milhões de pessoas para terras mais
férteis, em busca de sobrevivência, se tornarão comuns, aumentando o impacto do
homem no meio ambiente e aumentando a pressão por demanda de recursos, e com
isso, desequilibrando ainda mais os efeitos das mudanças climáticas no
globo.
O papel do homem nesta história é o de sempre, o manejo inadequado
e exaustivo dos recursos naturais. No caso do nordeste brasileiro, a exploração
mineral, agricultura e pecuária acabam por minar a rala vegetação existente,
funcionando como um acelerador da desertificação. Sem a colaboração das
prefeituras dos municípios atingidos e claro, do próprio governo, e ainda, o
desenvolvimento de uma consciência ambiental no próprio homem, não haverá
escapatória quanto à irreversibilidade do processo de desertificação, não apenas
no nordeste brasileiro, mas no mundo todo. E as conseqüências provavelmente
serão imensuráveis e irrecuperáveis para a população mundial.
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Carolina Carvalho é geóloga (UNESP), mestre em sensoriamento
remoto (INPE) e doutoranda em planejamento energético na Coppe
(UFRJ).
(Envolverde/CarbonoBrasil)