Degelo da tundra deve acelerar mudanças climáticas

Aumento da temperatura na região do Ártico pode causar a liberação de mais de um trilhão de toneladas de gases do efeito estufa, quase três vezes tudo o que já foi liberado pela humanidade desde a revolução industrial

Bilhões de toneladas de gases do efeito estufa, incluindo dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O), resultantes da decomposição de animais e vegetais, estiveram armazenados por milhares de anos de maneira segura sob o gelo que cobre a vegetação predominante das regiões próximas ao Ártico. Porém, pesquisadores russos e finlandeses divulgaram esta semana a descoberta de que esses gases estão "vazando" em virtude do degelo de algumas áreas desse ecossistema.
Em experimentos na cidade russa de Vorkuta, realizados pelo pesquisador Pertti Martikainen da Universidade de Kuopio, foi encontrado um "vazamento" de N2O, resultado de um processo chamado crioturbação, que ocorre quando um solo se descongela e então congela novamente.

"Existem evidências de que o aquecimento do Ártico irá acelerar a crioturbação, o que poderá acarretar na abundância dos círculos de turfa (peat circles), que são os ambientes mais ricos de nitrogênio no mundo. Isto vai aumentar as emissões de N2O da tundra, e, por conseqüência, agravar o aquecimento global", escreveu Martikainen no artigo publicado no último domingo no periódico Nature Geoscience.

Outra pesquisa apresentada também no último fim de semana em um encontro da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS) apontou que o solo congelado da tundra armazena uma quantidade bem maior de gases do efeito estufa do que se pensava.

"A nova estimativa para o total de CO2 armazenado em solos congelados é da ordem de um trilhão de toneladas", afirma Chris Field, professor da Universidade de Stanford e cientista do Painel Intergovernamental de Mudanças do Clima (IPCC). "O degelo desses solos, que eram permanentemente congelados, será como pisar forte no acelerador do aquecimento global".

Para se ter uma idéia, a quantidade de CO2 que foi emitida pela queima de combustíveis fósseis desde o começo da revolução industrial é de cerca de 350 bilhões de toneladas.

Menos absorção

Para agravar ainda mais o cenário, um novo estudo reforça a idéia de que o Oceano Antártico está realmente absorvendo cada vez menos CO2.

Segundo Nicolas Metzl, cientista do Instituto Nacional Francês de Pesquisa, por causa das mudanças climáticas e de buracos na camada de ozônio, fortes ventos estão ficando cada vez mais freqüentes na região, o que movimenta de maneira incomum as águas marítimas e trazem o CO2 do fundo do mar para a superfície e então para a atmosfera.

"Isso se soma a pesquisas anteriores que apontavam para a queda da eficiência dos oceanos para absorver CO2. Hoje a humanidade emite cerca de 10 bilhões de toneladas do gás por ano. Antes os oceanos capturavam dois bilhões de toneladas dessas emissões, porém, infelizmente a tendência é diminuir", conclui Metzl.


(Envolverde/CarbonoBrasil)
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