Com mais de sete mil quilômetros de costa marítima, o Brasil ainda investe timidamente no desenvolvimento de usinas de ondas, uma fonte energética com potencial para a produção de 20 gigawatts entre 2010 e 2020, 40% a mais do que a maior usina hidrelétrica do mundo - Itaipu. Professor de estruturas oceânicas e tecnologia submarina do Programa de Engenharia Oceânica da COPPE/UFRJ, Segen Farid Estefen, diz que o país pode ter uma tecnologia própria, com a participação de empresas brasileiras, se apostar na inclusão desta fonte na matriz energética.
Existem dois tipos de energia relevantes e em grande escala
que podem ser aproveitadas no mar. Uma delas é a das marés, que acontece duas
vezes ao dia, mais ou menos a cada 12 horas. A outra é das ondas, que quando
quebra na beira da praia, dissipa toda a energia transportada do alto mar. Por
isso, o seu aproveitamento deve ser feito em profundidades de 15 a 20
metros.
Relatos comprovam que há mais de 100 anos os ingleses já faziam
experiências para transformar este movimento em energia mecânica e, depois, em
energia elétrica e, assim, ter iluminação pública. Porém o inimigo sempre foi a
própria onda, já que possui um grande poder de destruição, caso venha com muita
intensidade.
O desafio sempre foi manter a estrutura intacta em momentos
extremos. Estefen destaca que, com a evolução tecnológica, agora está sendo
possível retomar a energia das ondas como uma fonte real e potente para a
produção elétrica. "Todos esses mecanismos mostram que a próxima década será a
das energias do mar, ao menos isso é o que nós apostamos."
A primeira
usina de energia das ondas do mundo, o Parque de Aguçadoura, foi construída no
ano passado em Portugal, na Póvoa de Varzim. O objetivo é ter, neste ano, 28
balsas capazes de gerar 24 megawatts, o suficiente para fornecer energia para
250 mil habitantes.
O núcleo de pesquisas da COPPE/UFRJ é referência no
assunto e já trabalha na formação de uma rede com outras universidades,
inclusive planejando projetos pilotos para o Ceará e Santa Catarina. "Nós temos
condições muito boas na região do Ceará e no Rio Grande do Norte, em função dos
ventos alísios, mas em termos energéticos, Santa Catarina é o estado com maior
potencial para a energia das ondas", afirma Estefen.
Potencial
catarinense
A costa catarinense recebe ondas "muito energéticas"
vindas do sul, explica o professor, levando a vantagem em relação ao Rio Grande
do Sul devido a grande quantidade de lama do litoral gaúcho, que amortece o
potencial. A COPPE estuda três locais para a implantação de um projeto piloto em
Santa Catarina: a ilha do arvoredo, uma das duas unidades de conservação marinha
do país; a ilha da paz, ao Norte do estado; e a área de Imbituba, conhecida
pelas presença de baleias francas.
Quanto aos impactos para a fauna e
flora, Estefen ressalta que é um aspecto muito analisado antes de determinar
onde instalar uma usina de energia das ondas. "Temos que levar em conta a rota
migratória desses grandes mamíferos, principalmente se for um local de
reprodução".
Potencial nordestino
Outro projeto
piloto, em menor escala que o previsto para o sul do país, está em andamento na
cidade de Pecém, no norte do Ceará, em parceria com a Aneel e a Tractebel. "Esse
é um projeto pequeno, com apenas dois flutuadores, para gerar 50 quilowatts e
com o objetivo de fazer aprimoramentos e monitoramentos para, depois, evoluir",
explica Estefen.
Para o Nordeste, há ainda um projeto já com o apoio do
BNDES para a colocação de quatro flutuadores em Fernando de Noronha, em um
programa do governo de Pernambuco de substituição da matriz energética, que
inclui a energia eólica.
Segundo Estefen, outras vantagens da Coppe/UFRJ
em relação a outros centros de pesquisas oceânicas no mundo, é a experiência de
mais de 30 anos de um trabalho intenso com a Petrobras no mar e os laboratórios,
que são exclusivos para este fim.
"Não estamos partindo do zero e isso
nos dá um diferencial importante em relação a outros centros no mundo. E eu
diria, sem sombra de dúvidas, que ninguém que está pesquisando esta energia tem
os laboratórios que a gente tem disponível para fazer estas pesquisas",
comenta.
Imagem: Parque de Ondas da Aguçadora, em
Portugal, a primeira usina de aproveitamento da energia das ondas do
planeta.
Crédito: EPA/João Abreu
Miranda
(Envolverde/CarbonoBrasil)