Com um breve histórico que levou os presentes da idade da
pedra à idade da informática, o economista Ignacy Sachs trouxe à reflexão o
cenário da Terceira Era Energética, ou a era das alternativas sustentáveis. A
terceira grande revolução se impõe como transição que nos levará da era
petrolífera para a biocivilização. "Depois de termos passado muitos milhares de
anos da coleta e caça para a agricultura e criação de animais, vivemos a era dos
abundantes e baratos combustíveis de origem fóssil (carvão, petróleo e gás),
começada há poucos séculos. Esta Era será revista historicamente como um
"interlúdio que provocou um grande aumento da população mundial (hoje somos 6,7
bilhões de habitantes, seremos cerca de 9 bilhões em meados deste século, com a
maioria da humanidade vivendo em áreas urbanas)", ensina o economista polonês
radicado na França.
Este cenário deverá ser pautado, segundo ele, em
primeiro lugar pela economia dos recursos energéticos naturais (e fósseis!); em
segundo, por maior eficiência nos serviços de energia já prestados; e em
terceiro, pela substituição do que temos pela bioenergia (caso do etanol, diesel
e biomassa para fazer eletricidade). A chamada "biocivilização" deve se apoiar
no uso múltiplo da biomassa (que é captada pela energia solar por biossíntese).
Nesta sociedade, teremos biorefinarias para os produtos que usaremos para a
construção civil, em plásticos, fibras, fármacos e cosméticos.
Os dois
grandes e iminentes desafios são as mudanças climáticas e o dilema da abismal
desigualdade social (e o crônico e severo déficit de oportunidades e trabalho
decente). Segundo relatório da FAO, consumimos 7 vezes mais biomassa do que
qualquer outra sociedade já o fez. Estudos avaliam que no final dos anos 80
teríamos já consumido, destruído e dilapidado 50% da biomassa disponível no
mundo…
"Até onde poderemos caminhar utilizando a biomassa?" ou "Qual
Estado para que paradigmas?" são algumas das perguntas a serem respondidas,
indica Sachs.
O Brasil, com 80% da Amazônia intocada e a maior
biodiversidade do mundo, prefere ser altamente performático na produção
mecanizada de biocombustíveis, com aumento significativo de pessoas nas favelas;
ou aproveitar das oportunidades geradas pelo novo ciclo de desenvolvimento rural
incluindo os produtores familiares e associando a produção agrícola à silvícola
em florestas biodiversas? Em 30 anos podemos dobrar a eficiência e a
produtividade mundial nas áreas biologicamente ativas, tendo meios de transporte
50% mais leves que absorvam as novas tecnologias. Mas para quem virá esta
revolução?
A questão da urbanização (50% da população do mundo) como
sinônimo de desenvolvimento e a da demanda crescente por alimentos foram
questionadas por Luis Laranja, do WWF, em estudo que faz o balanço da capacidade
dos recursos da Terra para suprir as necessidades atuais, e até 2030, no modelo
não sustentado. "O desafio é produzir mais e melhor, porém conservando o solo, a
água, a biodiversidade e diminuindo as emissões de gases que superaquecem o
planeta. O mundo produz, desde 1975, mais trigo, arroz, milho e soja (exceção
para a pecuária, onde são raros os casos em que a produção é alta por hectare e
o aproveitamento da cabeça bovina ultrapassa 50%). E o Brasil tem grande
potencial para os biocombustíveis com a biomassa extraída da cana de açúcar",
afirma Laranja, para quem a toada só irá continuar se respeitarmos os limites do
planeta, preservando a biodiversidade e a água, sem exaurir o solo e concentrar
a terra, e abastecendo localmente com alimento as populações. "Só neste caso a
exploração para biocombustíveis não será incompatível com a preservação de
florestas", completa.
Para José Carlos Pedreira, o problema da
sustentabilidade hoje é de valor, vontade política e liderança, preceitos
tirados de Fritoj Capra. "As empresas hoje passaram a ter 80% de seu valor
calcado em valores intangíveis, a despeito dos 90% de valor tangível que tinham
até a década dos 1970″, lembra. Para Sachs, o caminho está no uso social de
florestas, e no pagamento pelos serviços ambientais (incluindo as florestas
secundárias), com financiamentos dos paises ricos em fundos de ação global (e
não pontual como o pagamento no varejo via créditos de carbono, que são as
indulgências deste século…). Luis Laranja defende que a solução está centrada
mais no reposicionamento do consumo do que na problemática da
produção.
Pelo que foi dito e ouvido durante o Encontro Latino Americano
de Comunicação e Sustentabilidade, a solução é múltipla, e a ser reinventada. A
boa informação é peça capital da equação.
*A cobertura do Encontro
Latino-Americano de Comunicação e Sustentabilidade está sendo feita por uma
equipe de jornalistas. A coordenação é de Naná Prado e o material será publicado
no site da Envolverde (http://www.envolverde.com.br) e do Mercado Ético (http://www.mercadoetico.com.br).
Crédito de imagem: Clóvis Fabiano
(Agência Envolverde)