R$100 milhões em dez anos, é o que está previsto para pesquisas sobre mudanças climáticas globais

Agência FAPESP – O Programa FAPESP de Pesquisa em Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG) foi lançado nesta quinta-feira (28), em cerimônia na sede da Fundação.

A proposta do programa é estimular e coordenar estudos a respeito do clima para ampliar o conhecimento dos sinais, causas e impactos das mudanças climáticas sobre a vida no planeta. O programa é inédito em sua abrangência e no estudo do papel do Brasil nessas mudanças, já consideradas inevitáveis.
O programa terá duração de pelo menos dez anos e a cada ano novas chamadas de propostas devem ser publicadas. Os recursos destinados pela FAPESP somam R$ 100 milhões, que poderão ser complementados por outras agências de fomento a pesquisa.

A cerimônia de lançamento do PFPMCG contou com a presença do professor Fernando Henrique Cardoso, presidente do Brasil de 1995 a 2002, de Francisco Graziano Neto, secretário de Estado do Meio Ambiente, de Carlos Henrique de Brito Cruz e Joaquim José de Camargo Engler, diretor científico e diretor administrativo da FAPESP, respectivamente, e de centenas de cientistas.

Cardoso, durante sua palestra "O Brasil e as Mudanças Climáticas Globais", fez um apanhado de suas experiências sobre o assunto, incluindo reuniões como a de Estocolmo, na Suécia, em 1972, e a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992.

"Essas reuniões conseguiram chamar a atenção dos países para o tema do meio ambiente, mas não tiveram efeito no que diz respeito à geração de políticas públicas que levassem em consideração seus resultados globais. Elas deram início a um imenso trabalho mundial de construção de mecanismos para assegurar uma compatibilização entre o meio ambiente e o desenvolvimento econômico", afirmou.

O sociólogo também mencionou o lançamento do PFPMCG. "Gostaria de manifestar meu agrado por ver a FAPESP, como sempre, na liderança no apoio a pesquisas científicas no Estado de São Paulo. Desejo que os pesquisadores paulistas e do Brasil se lancem com afinco para ajudar os governantes a tomar as melhores decisões", afirmou.

"Com essa base científica que poderá ajudar no enriquecimento da consciência sobre o tema, o processo de compreensão dos efeitos do aquecimento global e a redução dos riscos que envolvem a emissão de gases do efeito estufa certamente terão um avanço grande", disse Cardoso.

Logo em seguida Brito Cruz fez um panorama de como a ciência mundial historicamente tratou o tema das mudanças climáticas globais, começando em 1827 com descobertas feitas pelo matemático Jean Baptiste Fourier (1768-1830), e prosseguindo com contribuições de John Tyndall (1820-1893) Svante Arrhenius (1859-1927), Guy Callendar (1898-1964) e Charles Keeling (1929-2005).

"Muitas pessoas olham para os resultados do IPCC [Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas] e têm a impressão de que o assunto das mudanças climáticas está em discussão apenas nas últimas décadas, o que não é verdade. A comunidade científica vem construindo esse conhecimento há pelo menos 200 anos, motivada pela curiosidade e para tornar a humanidade mais sábia. Foi uma evolução social, não teve um único pesquisador que descobriu o aquecimento global e também não será só um que apontará as soluções", destacou.

Segundo Brito Cruz, é justamente nesse contexto que se insere o Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais. "Queremos juntar e estimular a comunidade científica para que ela trabalhe da maneira mais articulada possível, de tal modo que a troca de informações permita avançar em questões como as conseqüências das mudanças climáticas globais no funcionamento dos ecossistemas", afirmou.

"Não estamos lançando um programa para resolver o problema das mudanças climáticas e sim para descobrir conhecimentos que ajudarão a humanidade a tratá-lo melhor por diferentes meios. A expectativa do programa é mobilizar pesquisadores de várias áreas, desde as ciências exatas e da natureza até as ciências humanas, para que essa fertilização cruzada de idéias gere novas descobertas", disse Brito Cruz.

Chamada de propostas

No encontro a FAPESP tornou pública duas chamadas de propostas destinadas a pesquisadores de instituições de ensino superior e de pesquisa no Estado de São Paulo: Pesquisa em Mudanças Climáticas Globais e Desenvolvimento de Modelo do Sistema Climático Global, que terão recursos totais de R$ 16 milhões, divididos em partes iguais pela FAPESP e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

O objetivo da primeira chamada, que terá R$ 13,4 milhões, é identificar, selecionar e apoiar pesquisas fundamentais e aplicadas, de classe mundial, relacionadas a temas como "Conseqüências das mudanças climáticas globais no funcionamento dos ecossistemas, com ênfase em biodiversidade e nos ciclos de água, carbono e nitrogênio", "Balanço de radiação na atmosfera, aerossóis, gases-traço e mudanças dos usos da terra" e "Mudanças climáticas globais e agricultura e pecuária", entre outros.

"Essa primeira chamada é bem abrangente porque a idéia é compor uma base mais geral de projetos, desde os aspectos físicos e químicos até as dimensões humanas, efeitos antropogênicos e questões institucionais relacionados às mudanças climáticas. Esperamos que os pesquisadores consigam gerar boa ciência que leve o Brasil a ter uma participação mais efetiva no debate científico mundial das mudanças climáticas", explicou Brito Cruz.

Com a compra do supercomputador que será instalado no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o objetivo do segundo edital, que oferecerá R$ 2,6 milhões, é reunir um grupo de cientistas para o desenvolvimento de um modelo climático global.

"A idéia é criar um modelo próprio, um programa de computador com características e interesses regionais, para não ficarmos dependentes dos modelos desenvolvidos em outros países, que também são muito úteis. Na segunda chamada, diferentemente da primeira, iremos selecionar um único projeto, cujo objetivo seja contribuir para o desenvolvimento de um modelo numérico brasileiro do sistema climático global para ser utilizado em estudos de mudanças climáticas globais e regionais", disse.

"Com o supercomputador e com as facilidades adicionais do Inpe em termos de modelagem de uso da terra e de sistemas computacionais, o instituto se coloca à disposição da comunidade científica para um esforço integrado e multidisciplinar em todas as áreas do conhecimento abrangidas pelo programa que acaba de ser lançado", comentou Gilberto Câmara, presidente do Inpe, durante o lançamento do programa.

Mais informações: www.fapesp.br/mcg


(Envolverde/Agência Fapesp)
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