Nos próximos anos, as mudanças climáticas vão definir o rumo dos negócios e certas adaptações serão necessárias para a consolidação de empreendimentos, administração de riscos e geração de oportunidades. Esta é a principal conclusão a que chegou o relatório Adaptation – an issue brief for business (Adaptação, a síntese de uma questão para os negócios), do Conselho Empresarial Mundial pelo Desenvolvimento Sustentável (WBCSD), grupo que reúne 200 corporações de todo o mundo comprometidas com o crescimento baseado na sustentabilidade. O estudo trata das conseqüências das mudanças climáticas para os negócios e da necessidade de repensar estratégias para evitar prejuízos e reduzir os danos ao meio ambiente.
De acordo com o estudo, graças aos impactos ambientais,
alguns deles irreversíveis, a sobrevivência do mercado nos próximos anos
dependerá da capacidade de adaptação de cada empresa. Uma das prioridades
destacadas para o alcance desse novo patamar é a busca contínua por soluções
sustentáveis e o desenvolvimento de novas tecnologias.
Ainda segundo o
relatório da WBCSD, novos riscos e oportunidades emergem nesse novo cenário.
Questões que envolvem locação, design, operação e infra-estrutura podem causar
grande impacto na gestão corporativa, razão pela qual será essencial, para
manutenção do mercado mundial, tomar as medidas necessárias quanto à redução dos
efeitos negativos.
Para Marco Antônio Fujihara, consultor do Instituto
Totum, a adequação ao contexto das mudanças climáticas representa uma
necessidade básica para os negócios. "A grande questão em pauta é que o
protocolo de Kioto transferiu a problemática da área ambiental para a área de
mercado. Transformou a vulnerabilidade das mudanças climáticas numa questão
mercadológica", afirma.
Conforme o estudo, um plano de adaptação
eficiente pode gerar vantagem competitiva e economia de custos para empresas
inovadoras. Além disso, exigirá que as corporações passem a atuar em colaboração
com organizações governamentais e não-governamentais para identificação e
suporte de boas soluções.
Perspectivas para um futuro próximo
Assim como cresce o interesse de consumidores por produtos mais
verdes, resultantes de cadeias produtivas socioambientalmente responsáveis,
evoluem também novos mercados verdes. As empresas que souberem se adaptar a essa
realidade global – atesta o relatório – poderão usufruir de vantagens
decorrentes de novas oportunidades. As líderes brasileiras parecem atentas às
mudanças climáticas. "Com o aumento da conscientização, vão surgir novas chances
no mercado, não só no Brasil, mas no mundo todo. O aquecimento global passou a
representar uma boa oportunidade de negócio que será bem recebida pela
sociedade, algo para integrar a visão estratégica da empresa", admite Luiz
Stano, gerente de saúde, segurança e meio ambiente da Petrobrás.
Segundo
Fujihara, muitas corporações utilizam o desenvolvimento de ações socioambientais
como estratégia de marketing, sem construírem uma estrutura eficiente por trás
dessas atitudes. "Acredito que teremos um aumento na demanda de produtos verdes,
mas é necessário que as empresas demonstrem mais consistência técnica ao fazer a
abordagem de sustentabilidade", explica.
Outro benefício destacado no
estudo do WBCSD diz respeito ao desenvolvimento de uma estrutura regulatória
eficiente, que levará à padronização das ações e leis de mercado para segurança
do meio ambiente. No longo prazo, isso representará redução de riscos e estímulo
à conscientização de mais empresas.
O acesso a matérias-primas em alguns
locais também se tornará mais fácil, possibilitando a exploração de fontes ainda
não descobertas. Porém, o Adaptation revela que a consciência socioambiental das
empresas determinará quão bem utilizadas serão essas novas fontes. A grande
oportunidade no novo cenário, de acordo com o estudo, está mais em saber
reutilizar recursos e reduzir a dependência de fontes do que em descobrir novas
reservas.
Em relação ao mercado que surge diante da transição das
empresas para um modelo mais sustentável, há diversas oportunidades no setor de
consultoria e gestão de riscos, já que a demanda de declarações por parte de
analistas de investimentos tende a crescer devido a forte exigência dos públicos
de interesse. Na opinião de Fujihara, a produção de relatórios de
sustentabilidade mais consistentes, muitas vezes validados por auditorias
externas, também pode garantir mais confiança aos negócios. "Acredito que se a
empresa produz um documento claro, o mercado de capitais absorve as informações
importantes em um primeiro momento e os consumidores relevam esses dados em um
segundo momento", atesta.
Na indústria automobilística, onde a mudança de
combustíveis fósseis para modelos híbridos ganha cada vez mais força, o estimulo
à inovação e a lucratividade de novos modelos tende a gerar cada vez mais
benefícios para as empresas atentas às novas tendências.
Para o estudo da
WBCSD, os riscos das mudanças climáticas serão diferentes para cada setor
econômico. Os que dependem diretamente das condições naturais de clima --
ressalta Fujihara – poderão sofrer sérias consequências nos próximos anos se não
houver um esforço imediato para a adaptação de estruturas. "O de agronegócios
corre riscos complicados, pois enfrentará mudanças desde a época de florada até
a colheita. O que lida com recursos hídricos também será afetado, pois depende
do meio ambiente de maneira geral", diz. Segundo o relatório, a escassez de água
pode representar um risco não só para a produção de energia, mas também para os
sistemas de resfriamento em diversas instalações.
Apesar das diferenças
de impactos, o estudo identifica riscos generalizados para todos os setores,
como, por exemplo, a dificuldade em cumprir obrigações contratuais e os
possíveis danos causados por eventos climáticos à infra-estrutura das empresas.
O fechamento de instalações costeiras graças ao aumento no nível dos oceanos e a
deterioração de comunidades locais incluem-se entre os riscos.
No campo
do mercado de trabalho, o aumento no incidente de doenças pode afetar a
produtividade, gerando aumento nos custos dos seguros de saúde. Outro dado de
interesse geral avaliado pelo estudo é a redução da possibilidade de
planejamento futuro. Devido às mudanças climáticas bruscas, ficará cada dia mais
difícil - enfatiza o relatório - prever com antecedência possíveis danos às
instalações e às cadeias de suprimentos. Com essa falta de perspectiva, planejar
o processo produtivo não será uma tarefa das mais fáceis, podendo resultar em
grandes erros de logística e perda de boas oportunidades.
Empresas mudando paradigmas
A relação com os
públicos de interesse tem perpassado cada vez mais os conceitos da
sustentabilidade e influenciado líderes corporativos na tomada de decisões
importantes. O fim dos recursos não renováveis e uma forte crise nas cadeias de
suprimentos, por exemplo, são riscos já esperados que devem afetar não só as
decisões das empresas, mas toda a cadeia produtiva.
Em relação às
comunidades, o impacto do aquecimento global pode provocar desde prejuízos em
pequenos negócios até menor disponibilidade financeira da população. A escassez
de certos recursos, como a água, também pode afetar a venda de produtos que
utilizam essa fonte na fabricação e consumo. A pressão crescente por parte dos
consumidores, no que diz respeito à conservação desses recursos, aponta uma
tendência que já pode ser visualizada atualmente e se tornará definitiva em um
futuro próximo.
Segundo Stano, da Petrobrás, a questão do aquecimento
global representa um desafio generalizado, que deve ser enfrentado a partir da
integração entre sociedade, governo e empresas. "Não adianta dizer que as
mudanças climáticas são um problema das indústrias de petróleo. Quem é que
consome os produtos? Quem utiliza carro? Como é a estrutura do transporte
público? Na verdade, para resolver essa questão, é necessário engajar a
sociedade como um todo".
Investidores mais atentos às novas tendências
também podem passar a evitar negócios de alto risco, optando por outros com
bases sólidas para enfrentar os riscos dos impactos ambientais. A melhoria no
desempenho socioambiental, de acordo com Stano, gera benefícios econômicos e
proporciona mais facilidade no desenvolvimento de ações e na busca de
financiamentos.
O relatório do WBCSD destaca que os negócios podem
mostrar liderança na área através da análise de fatores de curto e médio prazo e
de ações inovadoras dentro de suas operações e cadeias de suprimentos. Integrar
a sustentabilidade na tomada das decisões corporativas levará a uma redução
considerável de riscos e ajudará a desenvolver uma nova consciência em relação
aos impactos ambientais. "Acredito que os negócios representem um ponto de
partida na mudança de uma série de paradigmas", aponta Fujihara.
Segundo
o estudo, outra área essencial para adaptação das empresas é a relação com a
sociedade. Ações em parceria com comunidades locais podem representar uma
estratégia eficiente, otimizando operações e gerando projetos integrados.
"Apesar de ser possível realizar ações independentes, as atuações conjuntas
produzem mais resultados. A vantagem está na agilidade da capitalização de
processos e na visibilidade em curto prazo", ressalta Fujihara.
É
necessário que as comunidades estejam aptas a resistir a eventos climáticos
severos e se recuperar rapidamente de suas conseqüências, pois vem delas a mão
de obra e público consumidor. Muitas corporações já trabalham com esse
envolvimento em termos de disseminação da consciência socioambiental. No futuro,
no entanto, será necessária uma colaboração mais estreita para o desenvolvimento
de planos eficientes para possíveis emergências. Para Carlos Alberto Roxo,
diretor de sustentabilidade da Aracruz, o relacionamento com a comunidade é
fundamental. "É importante desenvolver a habilidade de construir pontes entre a
empresa e a sociedade em diferentes situações", ressalta o diretor.
Riscos do aquecimento global para as empresas
19% Eventos climáticos extremos
17% Classificação de
exposição regulatória
14% Riscos de reputação
13% Fim dos
suprimentos e das matérias-primas
12% Danos à infra-estrutura e à cadeia
de suprimentos
10% Mudanças climáticas lentas
9% Riscos de
comprometimento
6% Outros
(Envolverde/Idéia Socioambiental)