Cerca de 1,4 bilhões de pessoas vivem hoje em áreas que dependem de bacias hidrográficas que estão secando e outros um bilhão de indivíduos já sofrem com a falta de água potável para beber, o que diminui a expectativa de vida ou causa problemas de desenvolvimento imprevisíveis.
O evento foi aberto oficialmente nesta segunda-feira (18), com o pronunciamento do professor britânico Anthony John Allan, que recebeu o Prêmio da Água de Estocolmo 2008.
Durante estudos sobre a falta de água no Oriente Médio, o professor Allan, da Universidade King's College de Londres (UK), desenvolveu o conceito "água virtual", que seria o volume de água potável usada para produzir um produto, medida no lugar onde o produto foi realmente fabricado. Através desta concepção, o problema da água passa para o campo político e pode cair no comércio internacional.
Allan sugere a utilização da importação virtual da água, através dos produtos e alimentos, como uma alternativa de "fonte" de água potável para reduzir a pressão sobre bacias hidrográficas disponíveis em países que já lidam com a escassez.
Na palestra "Conhecendo a água e entendendo porque nós a usamos e consumimos deste modo" , proferida ontem, o professor Allan alertou para os padrões de consumo de água dos países do hemisfério norte, que desperdiçam água através do consumo de alimentos e poluição, e das nações do sul, onde é preciso melhorar a eficiência no uso da irrigação do solo.
"A água virtual é, evidentemente, uma questão muito política", afirmou, destacando que, ambos, a água virtual e sua migração, são invisíveis e a sociedade precisa ter consciência deste processo para que sejam obtidos avanços com relação ao modo como a água é consumida.
Países como Estados Unidos, Argentina e Brasil "exportam" bilhões de litros de água por ano, segundo Allan; enquanto outros como Japão, Egito e Itália importam bilhões. Allan sugere que os produtos que necessitam uma maior quantidade de água sejam importados de países que possuem mais disponibilidade hídrica.
Comércio de água
Assim
como para o clima, o mercado já desenvolveu também ferramentas para lidar com a
questão da poluição da água, como nos Estados Unidos, onde em 2003 foi criado um
comércio voluntário de créditos de redução de poluição.
Neste sistema,
uma indústria ou empresa que tem um alto custo para controlar a poluição que
produz pode comprar créditos de redução de poluição de outras que tenham um
custo mais baixo para reduzi-la, diminuindo assim os custos para cumprir as
obrigações ambientais.
A China também já experimenta a criação de um
mercado de água para aliviar as diferenças de disponibilidade dentro do seu
território. Em fevereiro deste ano, o país criou um esquema de alocação de
direitos sobre a água de províncias, regiões autônomas e municípios que estejam
diretamente sob a jurisdição do governo central.
"Enquanto a demanda por
água se mantém alta, os resíduos líquidos se mantém perversos devido ao 'livre
acesso' a recursos hídricos atualmente na China", ressalta o gerente do programa
chinês da ong Worldwatch Institute, Yingling Liu.
Ele explica que, de
acordo com as estatísticas, o coeficiente de utilização do país para irrigação
agrícola era de apenas 0,4 a 0,5 em 2003, comparado a 0,7 a 0,8 dos países
industriais. O uso de água por unidade do produto interno bruto estava em 413
metros cúbicos, quatro vezes a média mundial, enquanto que o uso de água por
valor adicionado pela indústria era de 218 metros cúbicos, 5 a 10 vezes o nível
de países industriais.
Em 2000, o país teve uma primeira experiência de
comércio de água, quando a cidade de Dongyang comprou 50 milhões de metros
cúbicos de água anualmente de Yiwu, por US$ 0,57 por metro cúbico. Até 2005,
ambos os lados foram beneficiados, até que uma forte seca atingiu Yiwu. A cidade
evitou os custos significativos de ter que construir um reservatório próprio
porque Dongyang passou a receber fundo para manter um reservatório
existente.
Desde então o país lançou diversos testes em iniciativas
locais para aliviar crises de água ou esforços do governo para promover
economia. Segundo Liu, isto deu confiança para que os politicos exploraressem um
esquema nacional, resultando nas regulamentações recentes.
"Se tornar-se
efetivamente lei, poderá ser tão significativa quanto a reforma de terra
largamente adotada nos anos 50, que liberou os trabalhadores rurais e tornou
possível alimentar a nação de 1,3 bilhões de pessoas. Apesar de muito trabalho
ainda ser necessário, uma regulamentação é um grande passo em direção ao
gerenciamento hídrico na China", disse.
(Envolverde/Carbono Brasil)