Grahamstown, África do Sul, 24/03/2008 – O governo da África do Sul organizou uma serie de atividades pelo Dia Mundial da Água, comemorado no sábado, enquanto as população se preocupa com a deterioração dos serviços sanitários e o fornecimento seguro desse recurso. Até fevereiro deste ano, o termo "crise nacional" não se aplicava ao setor da água na África do Sul. Havia problemas localizados, mas poucos pensavam que pudessem estender-se a todo o país.
Entretanto, o principal partido de oposição, a Aliança
Democrática (AD), e o órgão regulador do setor nuclear divulgaram com poucas
semanas de diferença dois informes respectivos criticando a capacidade do
Departamento de Água e Florestas para cumprir adequadamente suas funções. Este
organismo alertou o governo de que a água jogada fora nas explorações mineiras
está entrando nas camadas subterrâneas. Também informou que vegetais e peixes
coletados perto da cidade de Johannesburgo estavam contaminados com
urânio.
O estudo da AD diz que uma combinação de fontes de água
contaminada com um inadequado manejo de represas, cloacas e unidades de
tratamento levaram a uma situação em que nosso fornecimento de água está sob uma
séria ameaça" o porta-voz do partido para assuntos ambientais. Gareth Morgan,
acusou as autoridades de ignorarem a crise. Segundo o documento, não se dá
atenção às conseqüências ambientais da atividade industrial por disputas
burocráticas dentro do governo. O comentário fazia referência à disputa entre o
Departamento de Água e o de Minerais e Energia sobre a regulamentação da
atividade mineira.
Além disso, o informe destaca que o manejo errado das
represas do país diminui a quantidade e a qualidade da água disponível para o
consumo. A ministra de Águas e Florestas, Lindiwe Hendricks, admitiu que apenas
160 das 294 represas atendem aos padrões modernos de segurança. A maioria tem
entre 30 e 50 anos. Os dois estudos, junto com uma matéria de pesquisa no
semanário Sunday times, teve grande impacto na visão do público sobre o
fornecimento de água, que se soma a uma crise energética.
A companhia
elétrica da África do Sul havia alertado o governo sobre um problema de escassez
de eletricidade que agora é sentido em todo o país, mas não foi ouvida. Muitos
se perguntam se não acontecerá o mesmo no caso da água, o que abriria a porta
para uma catástrofe nos próximos meses. Hendricks reiterou que não existe
nenhuma crise. No último dia 11 a ministra falou no parlamento para dissipar os
temores sobre problemas com a água e destacou que aqueles que a criticam
apresentam dados incorretos.
"A desinformação apenas criará um pânico
desnecessário e desagradável. Estou certa de que ninguém quer isso. Os que falam
de crise deveriam contar com fatos e informação que os apóiem antes de utilizar
termos dessa gravidade", afirmou a ministra. Hendricks também falou de projetos
que serão realizados nos próximos anos, que incluem a construção de uma nova
represa para atender as necessidades da província de Gauteng, o coração
industrial do país, que estará concluída em 2019. A ministra reconheceu que
existem alguns problemas com a água e explicou rapidamente como pretende
solucioná-los.
Mas, ao se referir ao tema mais grave, as deficiências das
redes de esgoto e estações de tratamento, afirmou que a responsabilidade por seu
manejo é das autoridades municipais. "A água que bebemos é segura e fica cada
vez mais segura. Nosso planejamento é idôneo e nossas represas também são
seguras", garantiu a ministra. Depois de falar aos legisladores, Hendricks
começou uma viagem para promover a semana da água, que tinha por objetivo
conscientizar a população sobre sua importância na vida cotidiana e a respeito
das razoes pelas quais se deve proteger, rios, lagos e
represas.
Hendricks assistiu a uma "cúpula" da água, onde discursou
perante 300 delegados sobre os planos oficiais para garantir a disponibilidade
de água no futuro. Nessa reunião lançou uma campanha chamada Masimbambane, ou
água para o crescimento, que se realizará em conjunto com a União Européia, para
financiar projetos em diferentes regiões do país. Nesse mesmo dia, a ministra
uniu-se a um numeroso grupo de estudantes em um centro de ciências para promover
entre eles a conscientização sobre as questões relacionadas com a água. O
governo também distribuiu "pacotes" de informação sobre a semana da água as
estradas do país. (IPS/Envolverde)
(Envolverde/IPS)