Berlim, 21/11/2007 – Espécies de insetos nunca antes vistas na Europa começaram a se estabelecer em todo o continente, causando preocupação pelo impacto do aquecimento global na saúde pública e na biodiversidade. Na aldeia alemã de Dorsten, perto da fronteira com a Bélgica, a escola teve de ser fechada porque larvas de um tipo de mariposa (procesionarias del roble) invadiram o pátio. País e professores ficaram com medo diante das possíveis conseqüências para a saúde dos alunos.
"A presença maciça
destas larvas na Alemanha é uma conseqüência muito recente da mudança
climática", disse à IPS Stefanie Hann, bióloga da Agência Federal para a
Agricultura e Silvicultura. "É tão recente que não temos informação sistemática
sobre sua evolução entre nós", acrescentou. "Estes insetos só podem sobreviver
quando o clima é suficientemente quente", disse, por sua vez, Walter Maier,
médico da Universidade de Bonn especializado no estudo dos parasitas.
A
Europa sofre há vários anos verões e invernos mais moderados, o que criou as
condições para a proliferação de insetos e vírus normalmente considerados
estrangeiros. A tahumetopoeidade pertence a uma família de borboleta que inclui
a procesionaria del roble, assim chamada porque as larvas andam como uma
procissão. Sua presença pode causar nos humanos dermatite, asma, conjuntivite e
outras enfermidades. Até a pouco tampo jamais fora visto no norte da Europa, mas
em julho várias aldeias na província alemã da Renânia do Norte-Westfalia foram
invadidas por estes insetos. Também surgiram na Bélgica, Holanda e em
Londres.
Na província belga de Limburg, o problema atingiu tamanha
magnitude que o governador, Steve Stevaert, teve de recorrer ao exército para
que queimasse as larvas. Algo semelhante ocorre com os jejenes, insetos voadores
pouco menores que um mosquito que também sugam sangue humano. Sua picada pode
causar desde úlceras cutâneas até anemia e inflamação do fígado e do baço,
mortal se o tratamento não for a tempo. Um menino contraiu essa doença na cidade
alemã de Aachen, em julho.
Estes insetos, típicos de zonas tropicais,
foram vistos recentemente em uma área da Alemanha e Suíça que se estende por 300
quilômetros ao longo do rio Reno, desde a cidade alemã de Colônia até Basiléia
na suíça. "Isto é conseqüência do aquecimento do planeta. Nestes casos, que
estão se tornando cada vez mais freqüentes, os jejenes e outros vetores podem se
tornar endêmicos", disse Maier. Além disso, acrescentou que os culicóides
imicola, pequenos mosquitos cujo habitat normal é a África subsaariana, migraram
para a Europa nos últimos anos e encontrou na Alemanha o clima de seu
agrado.
Este mosquito transmite várias epizootias (enfermidades animais)
como a do vírus da língua azul, que afeta cavalos, ovelhas e, com menor
freqüência o gado bovino, cabras, búfalos e inclusive cervos. "Nos últimos meses
encontramos o vírus da língua azul em mais de duas mil fazendas da Alemanha,
Bélgica, França, Holanda e Luxembrugo", disse Maier.
O vírus é
transmitido na Alemanha por uma espécie autóctone de mosquito. "O mais provável
é que o vetor original tenha chegado com animais trazidos desde a África. Mas
por causa dos verões e invernos mais temperados, pode se tornar endêmico.
Veremos nos próximos anos novas epidemias do vírus da língua azul",
completou.
Entre as enfermidades que se repetem com mais freqüência na
Alemanha por causa do aquecimento global figuram a borreliosis e diversas formas
de encefalite, algumas de origem japonesa.
A borreliosis, ou doença de
Lyme, é transmitida pela picada de um carrapato, e a meningoencefalite, que
também contagia por essa via, consiste em uma inflamação viral do cérebro e das
meninges. "Acreditamos que a quantidade de carrapatos aumentou dramaticamente na
Alemanha nos últimos anos. É um caso semelhante ao dos mosquitos exóticos, que
migraram desde a região do Mediterrâneo para a Europa setentrional para aqui se
tornarem endêmicos", disse Maier.
Os caso da enfermidade de Lyme
aumentaram na Alemanha nos últimos meses, acrescentou. E foi registrada
meningoencefalite inclusive na Noruega e em outros países escandinavos. "Isto é
algo novo", afirmou o especialista. Como se trata de um fenômeno relativamente
recente, não há pesquisas minuciosas sobre a relação entre a mudança climática,
a imigração e proliferação de espécies exóticas no norte da Europa e a crescente
incidência de doenças raras. "A correlação entre todas estas variáveis, com o
crescente número de carrapatos, vetores e doenças, ainda não está clara. Não
tivemos tempo de fazer estudos sólidos sobre a presença de astrópodos exóticos e
novas doenças transmissíveis na Alemanha", acrescentou Maier.
(IPS/Envolverde)
(Envolverde/ IPS)