Os Tavares, os Silvas, os Almeidas, os Pratas
e a HISTÓRIA DE MACAÉ.

José Milbs de Lacerda Gama


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VOVÔ EMÍLIO

Ele cavalgava por cidades e negociava cavalos em Rio Dourado, Bicuda, Trajano de Moraes e, segundo relato que veio de meus primos, demorava dias sem que dele tivessem noticias.

Segundo meu primo Mirnes Tavares Lobo, a ida para Bicuda era em cavalos e iam por "Rio Dourado" que era o único itinerante existente. Era uma longa caminhada. Mirnes me contava que ao lado da chácara de tio "Chico Lobo", pai dele, era o local onde os cavaleiros, vindo de todas as regiões, punham seus animais para descanso e pernoite.

UMA PEQUENA QUANTIA DAVA INICIO AO QUE HOJE SE CHAMARIA ALUGUEL DE PASTO.

As noites eram de longas conversas, histórias e parentescos se avivavam sob luares ou chuvas intermitentes. Abrindo um longo e belo sorriso, Mirnes me diz que sua mãe Santa adorava futucar parentescos, era ela que descobria as ramificações da família toda e divulgava nas conversas da casa.

Sempre se conhecia novas de longínquas regiões como se faziam trocas de cavalos e terras. Além "de Nhasinha", a união de Emílio com Adelayde gerou uma filha Ana que casou com João Pinto e ramificou se na família que originou se Luiz Pinto pai do paisagista macaense Ruy Pinto.

No segundo matrimonio nasceram Aristo, Ayres, Éneas, Osias, Odete, Odetina, Zilda, Zeny, Zilá, Zélia que se casou com Moacyr e foi para São Paulo e as demais foram para Niterói e São Cristóvão no rio de Janeiro de onde não se tem notícias, segundo minha mãe Ecila, de seus descendentes.

Quando eu tinha uns 6 anos, meu avô Emílio me levava num carrinho feito de caixotes até a praia de Imbetiba distante da casa onde eu morava, na Rua do Meio, uns 400 a 600 metros. Este percurso era pra mim uma longa viagem pelas picadas de mato, areia e conchas vindas das resscas. No caminho recebíamos os cumprimentos dos vizinhos que ainda abriam suas casas nas manhãs de sol ainda nascente.

MINHA BISAVÓ ADELAIDE

Ela vivia mais sua existência preocupada com as histórias de Carapebus e sua gente. Falava dos "Tavares", dos "Silvas" e dos "Pratas" Todos parentes que habitavam esta região.

Durante minha infância estas pessoas tinham danças suaves e profundamente afetivo em minha cabeça. Isto sem falar que eram historias reais, vividas por personagens de uma cidade ainda virgem, nos idos de 1845, ano que ela nasceu em Carapebus.

Cavaleiros, andarilhos estes homens corajosos e valentes espalharam seu sangue por toda esta região onde o viver era rudimentar mais docemente alegre e feliz.

Suas testas tinham um branco nitidamente alvo que sóm apareciam quando tiravam o chapéu e abriam o bornal para uma alimentação, nas sombras de árvores que ornavam os caminhos de Carapebus, Macaé, Conceição de Macabú, Casimiro, Rio Dourado, Rocha Leão e Santa Maria Madalena. Eles faziam este trajeto e corriam mundos em lombos e animais por lindas noites e dias ensolarados. Meu Bisavô era uma espécie de "Cigano" com forte queda para desbravador de estradas. Suas idas e vindas proporcionava as experiência e as histórias que ele contava quando de suas voltas alegres e, fantasiosamente puras.

Meu primo Elbe Tavares de Almeida, que sempre esteve de perto com meu bisavô, me contava passagens históricas de "Carapebus e sua Gente", num tempo em que o lugar era ainda bravio, hostil e brabo.

Elbe escreveu no jornal "O REBATE" nos anos 60 e assinava uma coluna. Seus escritos tinham a pureza nativa de um escritor nato. Era sempre em papel de cadernos e com lápis ou caneta.

Em sua casa não tinha ainda luz elétrica e Elbinho tinha o cuidado de escrever sempre ao nascer do Sol. De Carapebus, ele ainda me falava da presença de meus familiares na vida do distrito.

Minha tia "Chiquinha" Prata, filha de "Visconde" que veio a ser pai de Déco Prata. Enfim ele, "Elbinho", era um dos mais puros e sensíveis narradores desta região. Soube que uma sua filha está juntando dados para publicar livro sobre "Carapebus e sua Gente" o que deverá coroar o trabalho de pesquisa de seu pai Elbe Tavares de Almeida.

OS URUTUS E OS GUARULHOS

Nas noites em que não podia sair de casa para brincar, nas poeiras da Rua do Meio, pulava na cama alta e quente de minha bisavó para ouvir a presença viva de velhos índios e bandoleiros que povoavam os sertões de Macaé. Conhecia detalhes das andanças a cavalo por Rodagem, Quissamã e todas as estradinhas abertas por trotes e gente do lugar.

Carapebus tinha sido berço da temível tribo de Índios Urutus que Ruy Pinto sempre diz sermos descendentes por parte de nossos avós de "Capelinha do Amparo". Dizia que os Tamoios que habitavam Cabo Frio e os Goitacazes de Campos foram facilmente domesticados por franceses e portugueses.

Os "Urutus" de Carapebus e os "Guarulhos" de Campos eram arredios e antropófagos. Daí que a maioria foi dizimados pelos brancos. "Guarus" em Campos tem este nome porque esta tribo habitava o outro lado do Rio Paraíba e estava sempre em guerra com os Índios "Goitacás".

Como meu pai é dos sertões de Campos, do lado de Guarus e meus avós de Carapebus eu acho que este sangue corre fervendo nas minhas veias.


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