ECILA

José Milbs

Capitulo XIX

“Carlos, esta aqui é dona Ecila, minha patroa. Ela veio visitar você e quer ajudar a gente.”, A esqualidéz do corpo franzino do ex ajudante de caminhão, acidentado e jogado por patrões comuns num pais de canalhas, deu luar a um olhar firme e de encanto. Prazer, Dona. Minha velha mãe olha para o lado, rosto sempre rindo e diz para sua companheira: Chame o proprietário deste gueto que quer por vces na rua. Chegou o dono do Gueto. Olhar cruel de quem jamais teve infancia.Minha mãe Ecila olha o proprietario do gueto e lhe pergunta com a vóz suave e firme de quem sabe estar no comando: “

:quanto lhe deve a familia? Na afirmativa reposta, carregada de maldade e dúvida, o homem chutou uma quantia. Minha mãe Ecila lhe devolve a voz e diz: É pra vender o imóvel, quanto o senhor quer a vista? O brilho nos olhos do desgraçado “dono do gueto” fazia corar de pena ao mais cruel dos investigadores de CPI. Um brilho misturado com ansia de dinheiro e de poder abocanhar algo jamais tido em sua vida, já que nunca tinha pensado em vender aqueles comodos, sem água e sem luz num bairro onde sempre existiu a lei do mais forte. Fitou aquela mulher a sua frente. Baixa, cabelos brancos, bolsa a tiracolo. Olhar fixo no horizonte do mundo e com um voz que lhe fazia entender, na sua cruel vida de homem rude de favela, que a existencia de gente diferente e corajosa existia tambem nas vestes elegantes de uma mulher de quase 80 anos.


anterior índice próximo

Jornal O Rebate