Livro/crônica inspirado na vida de uma mulher que, nascida nos anos 20, do século passado, numa cidade do interior do Rio de Janeiro, onde vigorava uma educação rígida, espelhada, ora nos olhares cuidadosos dos latifundiários e, vezes outras nos restos mortais da monarquia. É a espelhação de uma vida sempre rompendo com os padrões sociais e as barreiras da criação rígida, impondo sua vontade que, na realidade era a vontade de todos que habitaram seu mundo nestes anos de encantamento e muita repressão.
Ecila veio ao mundo no dia 27 de abril do ano de l9l9 numa cidadezinha com ares marinhos. A cidade tinha o frescor dos ventos de suas ilhas nativas e seu povo vivia, alguns da agro-pecuária outros da pesca que era abundante e fluía naturalmente em seu mundo geográfico com rios, lagoas, serras e mares por todos os cantos. Seus pais queriam um menino porque haviam perdido um com 2 anos e, Ecila nascendo mulher já começava a se sentir diferenciada embora criada com todo o carinho que uma filha, herdeira de um grande latifúndio merecia.
Aos 8 anos perde seu pai, Capitão Mathias Coutinho de Lacerda, aos 64 anos. Filha única passa a ter na orfandade a ausência do pai de um herói e seu primeiro amor.
Quem nesta idade resistiria tamanha ausência? O colo paterno, o beijo noturno e diurno, o afago nas corridas, pela extensão do Velho Casarão na Rua da Boa Vista, as cavalgadas, embrenhadas nas matas da Fazenda Ayris sob olhares vigiativos dos campeiros de seu pai e as alegres brincadeiras com as filhas dos camponeses que, com sua idade, iam lhe ornando a existência com uma integração social e humana que a iria acompanhar por toda a vida de Ecila.
A vontade de chegar correndo mostrar os deveres do colégio ao seu paizinho, a segurança do olhar firme e corajoso, tudo isso e muito mais foi tirado da vivencia de Ecila aos 8 anos. . As roupas novas que queria mostrar ao pai, o futuro namoro que iria avisar que teria, tudo fugiu aos pés de Ecila como que por encanto de algo que ela não entendia. Por mais que sua mãe Alice lhe afirmasse que tudo era obra de Deus e que o seu pai Mathias estava no céu ela não se sentia feliz.
Nos braços de sua avó Adelayde Bastos da Silva e de seu avo Emílio Tavares Ribeiro da Silva ela procurava transferir a ausência do seu pai. Muitas noites, em sonho ou em vigília, enquanto esperava sua mãe chegar da Igreja Ecila via o vulto belo do seu pai. Mathias era um homem extremamente belo.Em seu cavalo baio, com o chapéu caído para frente e as roupas lindas nas caminhadas, Mathias vinham preencher seu mundo em sonhos lindos e distantes céus prometidos e de dúvidas existentes.índice | próximo |