Uma viagem ao redor da mente.
Saber de sua abertura e existência...
Olhar o velho mundo se distanciar.
Saber do belo ...
Ouvir a voz do vento...
O murmúrio do passarinho...
Viver.
Saber da vida...
(José Milbs)
O mesmo frescor do vento morno que passa a fazer parte do existencial do humano com a uma Mente, cede lugar a voz que veio através do ninho da rolinha. As sensações auditivas, sensitivas, e visuais que levam muitos humanos a gastar milhes em remédios caros e psiquiatria e psicanálise não voltam mais. Com a “Unamente”, estes informes, que a antiga mente dupla sentia, se espantava, se dopava em medicinas e iam em busca de pais de santos, igrejas e outras eternidades prometidas, não vem mais assim.
As informações agora, com a “Unamente” passam a vir numa brisa leve ao Sol de uma Manhã; ao olhar puro de uma Criança; ao Velho que suplica, com olhar de menino, um pão; ao balbuciar de Ondas nas Tardes Amenas; ao roncar de Trovoes anunciando a Chuva, enfim todos os antigos meios de se comunicar com a mente antiga e dava medo e temor, pensando ser “coisa de outro mundo” ou loucura, passa a entrar delicadamente na Mente Una e , depois de filtrada pelas “abelhas” vigiativas do Escaninho do Amor, dando o refrescamento necessário para o vital que tem, nestes informes naturais, o combustível do seu vital/maior.
A história esta repleta de contos, lendas, vidas e vivências de homens e mulheres que serviram de exemplos para o relacionamento de suas existências ao amor. Virtualidades, sonhos, mortes violentas, sofrimentos, martírios e outras tantas impurezas impostas com homens que não possuíam a “Unamente”. A destruição de quem está possuído da “Unamente” é importante para estes seres despossuídos. Até porque este confronto entre o Sim e o Não, o In e o Yang, o Bem e Mal, existe desde os primórdios da humanidade.
O humano nasce “Unamente” e a sociedade, a família estruturada na civilização, na busca de dias melhores apenas para os seus, sem pensar nos outros, a busca pelo enriquecimento, pisando nos pobres e oprimindo os humildes, vai criando a misteriosa mente escura. Esta mente escura quer derrotar a “Unamente” e esta guerra persiste de forma silenciosa mais dentro das pessoas. As perseguições a vitais como os que enumerei acima, e temos milhares de exemplos que podiam ser descritos, faz parte da tentativa de “matar” o ser vital com o Escaninho Aberto e limpo. Os de mente dupla não querem que os homens preguem o verdadeiro amor porque o verdadeiro amor tem luminosidade e ele pode abrir os caminhos para a “Unamente”.
Quer na vida do dia a dia quer se apresentando em sonhos e viagens noturnas. O ser de duas mentes sabe, no mais absoluto das suas entranhas misteriosas e sinistras, que sua existência depende da não existência da Luz.
Antes da limpeza do Escaninho do Amor, feita pelo Cotonete Azul, curiosas perguntas habitavam a mente sombria em sua dualidade. Não havia ainda o conhecimento do vital e portanto a existência era meio vegetativa. Daí as perguntas e respostas nos livros e pessoas que se diziam portadores dos conhecimentos.
Após a total abertura a tonalidade das cores ficaram mais livres para passearem, deitarem nas relvas esverdeadas de todo contorno da Nova Mente. As purificações de todos os escaninhos onde outrora residiam sentimentos passaram a ser também vigiados pelas “Abelhas” Imaginárias.
Vaidade, Tristeza, Alegria, Avareza eram alguns dos muitos que iam sendo, vagarosamente e delicadamente lapidados dando lugar aos desejos tendo como meta principal o verdadeiro sentido que era exercido pelo Amor. Sexualidade, paixão, volúpia, taras dos desvios de conduta iam sendo minuciosamente escovados com essências de flores colhidas, já nos canteiros da vasta “Unamente” onde vários florais e centenas de novas espécies de flores, ornavam todo o redor de onde residia a misteriosa mente escura e a ex-solitária mente. A maioria dos sentimentos estava turva. Muitos tinham apenas o nome mais seu verdadeiro objetivo nunca tinha sido exercitado em sua plena essência. É o caso da alegria. Seu escaninho existia desde que as mentes nasceram. Quando elas ainda não tinham se separado a alegria exercia sua total existência a que foi criada.
A comunhão com o muito exterior trazia para seu escaninho todos os olhares e vozes para seu interior. Porta aberta, ou melhor, nem existia a porta no escaninho da Alegria. Vozes de Mãe, Pai, pessoas que vinham fazer visitas, silencio, alimentos e músicas suaves davam alegria a Alegria.
O tempo, Senhor de todos os Escaninhos, fez com que a porta se postasse e, daí por diante a censura, os”naos”, e os “sins” destorcidos de verdades criadas e inventadas, começaram a dar uma forma de alegria diferenciada da verdadeira Alegria Nativa, quando o ser vital ainda tinha duas mentes.
Ser alegre por ganhar dinheiro, ser alegre quando um trator destrói centenas de árvores, ser alegre quando compra ou vende uma flor ou um pássaro, passou a ser a alegria mentirosa, dentre tantas outras que o vital fazia-se sentir e levava para dentro do Escaninho como sendo a verdadeira alegria.
Escaninho cheio de Alegrias falsas, não havia lugar para outras verdades por mais que estas quisessem entrar na dupla mente. Assim a alegria de ver um pássaro ninhar; de sentir o cheiro de uma flor sem tocá-la, ou tocando-a fazê-lo de modo diferenciado do vendedor de flores, enfim todas as verdades verdadeiras, na formatação da alegria real, não existiam.
Com o Escaninho limpo, feito, repito, com o Cotonete Azul que limpou o escaninho do Amor, a Alegria voltou ao nascimento e a “Unamente” reinando no Escaninho formando mais um elo de encantamento e solicitude a tudo que vem do exterior.
“Abelhas” vigitativas, alguns brilhando como lindos Pirilampos ficam postados na frente do Escaninho de modo que as alegrias “não alegres” os sorrisos frios, igual de vendedores de loja, de candidatos etc., nunca mais penetrem na Mente Una do Escaninho da Alegria.
MINHA DOCE CAMINHADA
A lentidão de minha caminhada até o “Casarão” que meu irmão Ivan Sergio, construiu e que habito, na Estância Vista Alegre, me faz sentir uma leve sensação de um flutuamento que não tem nada a ver com o corpo. É como, se a refrigeração dos sentidos estivesse boiando numa balsa imaginária em manhãs de Sol Azulado na ex-praia de Imbetiba, destruída nos anos 70.
Uma leveza suave e que parecia ter cor. Ou melhor cores.Todas dançando ao som de uma imaginária mais ouvida música. Os acordes faziam nascer algumas ondas de um mar lindo em forma de cachoeira onde via escritas páginas de jornais lindos, coloridos e que me acenava para ir para o computador e escrever. Caminho ainda lenta a e vagarosamente. Já estou quase na metade da Estância. Perto de uma linda mangueira. Olho para os lados de soslaio. Ainda vejo a correnteza da Cachoeira caindo em colorido lindo, no formato de jornais. Seria o jornal do Passado, onde os vitais liam as noticias/ordens da criação? Ou seria o jornal do futuro que seriam lidos nos respingos das águas cristalinas em formato inteligível para quem está com a Unamente?
Estou cercado de vitais que ainda resistem as “forças do não” em forma de progresso. Plantas pedem chuva e elas molham rostos lindos de borboletas que rodeiam os Pés de Mara caxeta ou Aipim de Mandioca e rumam com destino aos Pés de Ipês com suas flores amarelas e seus cachos caídos, quase ao ponto na espera do vento que, vindo após a chuva, espalharão suas sementes para nascimentos de novos Ipês.
PODEM BARULHAR
Os Escaninhos da “Unamente” agora estão protegidos. Podem buzinar, dar marcha-rés barulhenta, podem ligar as turbinas de seus compressores ou fazer presente as correntes de seus possantes tratores. Não mais enlouquecerão porque as “Abelhas” estão atentas ao primeiro sinal de vocês e seus asseclas multinacionais. As cores das folhas da Jabuticabeira se parecem com as da Pitanga que vejo após alguns passos lerdos. Estão floridos. Engraçado que quando as plantei, há 20 anos, um velho sábio que capinava comigo o sítio me disse: “Seu Zé, quem planta não chega a chupar as Jabuticabas. Morre antes”. Felizmente esta profecia de meu amigo Firmino falhou e eu ainda espero outras vezes ver florir estes lindos pés de jabuticabas.
Passo em frente onde outrora tinha uma linda Casinha de Sapê, de pau a pique, onde muita gente boa se abrigou nos anos 70. Algum, vitima da repressão política, outros apenas por precisarem de um canto onde pudesse deitar o corpo e respirar profundamente sem ter medo das cutucadas das frias baionetas da ditadura. Jovens, cansados pelas longas caminhadas repousaram ali, onde hoje ficaram apenas alguns destroços da arquitetura de bambu e barro que tanto encantava pelo artesanato da obra. Centenas de amigos, alguns mortos, outros sumidos no tempo me voltam à Mente Uma, como se eu estivesse apresentando-os eles à mente antiga.
Antes a misteriosa mente escura, sinistra e fria. Hoje uma “Unamente” alegre, feliz e orgulhosa de ver passear nela as lindas figuras sofredoras, às vezes magoadas pela incompreensão familiar e reprimidas nos saudosos anos 70.
Quantos sobreviveram ao Sistema? Quantos conseguiram voltar e, com certeza estão abertas às manifestações do vital?
As plantas ainda respiram aliviadas. Chego ao “Casarão”, abro meu computador, presente de minha mãe Ecila para meu filho de 16 anos, Jose Paulo e presente dele para mim. Abro o Word, Peço a minha linda filha Lais, quase 17 anos, para ler o ultimo capitulo, dar sua opinião. Lê todos os últimos capítulos e, pela sua descrição está bastante inteligível.
Revejo toda a existência vivida. A leva doçura da caminhada até o final do sítio, os olhares confiantes do Moreira, a sutileza e firme presença revolucionária da Ana Lucia e a plenitude do prazer do Waldir pela missão que cumpre abre em mim a certeza na Nova Democracia...
Agora volto e tentarei escrever a VIAGEM QUE NÃO FIZ.
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