O Cotonete Azul e A Nova Democracia

José Milbs de Lacerda Gama

Uma viagem ao redor da mente. 
Saber de sua abertura e existência... 
Olhar o velho mundo se distanciar. 
Saber do belo ... 
Ouvir a voz do vento... 
O murmúrio do passarinho... 
Viver. 
Saber da vida... 
(José Milbs)

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Uma música longe faz com que as Duas Mentes desviem o olhar do clareado eterna e se olhem de frente. As sombras se foram. Só existe uma mente. Olham-se e pensam já uniforme. Onde estaria aquele ponto azul? Onde estariam todas aquelas sombras, algumas em círculos outras em paralelos?

Porque a misteriosa mente sumiu e se sente mais leve e solta? A música que ouve começa a ir embora lentamente e suave como veio. Não existe mais o lado negro da Mente. As coisas estão mais claras, mais nítidas. O olhar se torna mais leve e a cor tem mais brilho. Borboleta, água de nascente, flor, passarinhos, árvores, cheiro, tudo se integra numa visão apenas. Como se tudo fosse irmão. Bicho, humanos, flores, peixes.

O vital?

Sim o vital você é vital como todos nós somos. Brigue por nós e você estará brigando por você. Olha em torno e não vê de onde veio a voz fina e bonita. Parecia a voz do vento. Somente depois que sentindo um piscar ao seu lado, pode ver um pequeno filhote de rolinhas. Caído de um ninho num galho de árvore. Olha para cima e ainda pode ver, se fechando, o bico da rola que falava. “Sim eu to ficando loco” mais ouvi a rolinha falar ou alguém a fez me fazer ouvir aquela frase: “sim você é vital é vital como todos nós somos”. Ai percebe que não esta só. A mente escura agora lhe faz presença clara. Não mais absorverá as negatividades dos homens maus, da civilização ou da sociedade repressora.

Agora ela vai amalgamando as coisas novas que, antes parecia loucura aos olhos dos homens normais, passam a ser informes do vital. Informes da vida. Informe da longa busca que os homens jamais poderão encontrar enquanto o lado escuro e misterioso da Mente permanecer sem luz.

Agora a ex duas Mente sem sentem inseguras por alguns instantes. Pensa, já com os lados abertos e iluminados: “Se antes uma de nós”, agora juntas, segurava as maldades, às vezes brutas, os olhares maldosos, a vontade ficar cheio de bens materiais, de roubar as pessoas, mentir e ouvir mentiras, como será agora tendo que ir na cidade, ver gente bruta, ter que ver televisão e ouvir vozes brutas e gritos das mulheres das teles novelas?

O TERCEIRO OLHO

Como será agora que não tenho quem vá se escurecendo, me livrando destas coisas terríveis que o mundo capitalista nos impõe goela a dentro? Será “como agora, que estamos uma só”? Segundos se passam. Ainda estava absorvido pelas preocupações desta nova vida quando um vento frio, quase gelado passou por sua face. Não ouviu vozes. Nem ouviu música. Apenas entendia e, disto passou a ter certeza. Agora saberia ter como passar por estas coisas naturalmente sem que precisassem de uma mente auxiliar que lhe amortecesse estas loucuras humanas. Agora a Mente única, clara, brilhante, iluminada e límpida tinha como passar pelas mazelas humanas sem se contaminar nem sofrer com as brutalidades das vozes. O ponto de luz do meio de sua testa, que às vezes se torna azul e outras vezes branquinho vai absorver tudo isso.

Sem que seja preciso abrir a testa e fechar o lugar como fazia os antigos que tinham estas mentes abertas. Agora tudo mudou. Você irá ter uma vida livre das articulações materiais e viverá assim até que, um dia as mentes escuras de outros humanos se abram e conheçam a verdadeira função do vital que você é. As cores as imagens e os sonhos acordados junto com inspirações diferentes das que sentiam antes, fazem parte deste terceiro olhar. Sublime, limpo, que vagueia na antiga escuridão da misteriosa mente escura e busca as bases para sua perfeição.

Ao longo uns patos cantam

Galinholas. Saquês, galinhas e pintos. Passarinhos voam em bandos. Aquele casal de rolinhas passa alegre e olha a caminhada. Penso: seriam os pais daquele filhote? Acho que sim porque algo me fez sentir isso, como um sopro diferente do vento ameno de inicio de junho na “EstânciaVista Alegre” onde moro. Sopro parecido com o que senti quando ouvi a frase do vital.

A caracterização psiquiátrica denominada “sensações auditivas” agora se parece com piadas e invencionice de quem nunca se tornou vital. Alguns passos e vejo com alegria alguns galhos de Ipês Amarelo brotando. Milhares de pequeninhas gotas da chuva que vai e volta, animam as centenas de nascimentos na terra que habito a mais de 35 anos. Estou no Início da Primavera. Seria este local, se assim eu não tivesse querido, algum outro das centenas de galpões que o bairro tem espalhados na busca do petróleo e na destruição do vital?

Acho que valeu a pena lutar, silenciosamente, numa guerra que só eu sinto contra a destruição deste pedaço de terra que seria transformada em cimentações e pisada por carretas e “caretas”.

Meus passos ainda são lentos. Não pelos 67 anos de existência. Mais porque a mente agora esta mais leve e com esta leveza contornasse meu corpo pedindo que caminhe mais lento. Que olhe mais para os outros vitais; para o ar que respiro; para o vento suave que o mês setembro e início de outubro trás com a estação da Primavera.

Que vontade de voltar a ouvir a frase: “Você é vital como todos nós somos”. Esta frase esta martelando as duas ex-Mentes e, agora uma só.

O passado alegre da vida, os momentos felizes da existência tudo parece belamente exposto nas claridades que entram na “Unamente”. Os bilhões de escaninhos de dentro da cabeça, parecidos com as casinhas que as abelhas fazem em formação do mel, estão sendo limpos. Como que se tivesse uma mão suave com Cotonete Brilhante fazendo esta limpeza. Alguns escaninhos estão cheios demais. Este deve ser o escaninho da sexualidade reprimida.

Muito cheios de “naos”, de mentiras criadas e ouvidas. O Cotonete, de Luz azul, volta com negras peles se parecendo argarças ou mesmo algas verdes/amareladas. Várias vezes este escaninho é limpo. Ali deve residir o Amor. Ali deve ser sempre o local sagrado de seus desejos. Usar este escaninho como ser vital, revestido de humano.

Olhe o Escaninho do Desejo dos seres em sua volta. Veja o Escaninho do Passarinho, do Pato ou do Peixe. Veja como os seres humanos que não tem esta “Unamente”, fazem uso deste Escaninho e como eles deturparam o amor. Veja a sexualidade que estas mentes expõem nos explícitos das tevês. Dos jornais etc. Eles são vitais iguais você mais ainda está com o lado escuro, misterioso e sombrio da Mente.

Agora olhe mais e seu redor e veja o Vital, seu irmão, nas Folhas das Flores, dos Galhinhos Verdes do Pé de Manga, da sutileza do frescor da Zínia. Eles estão com este Escaninho aberto, limpo, alegre e suavemente natural. Daí que todos são felizes e vivem em harmonia com o que denominou chamar de Natureza. O Amor esta agora com o Canal de Escaninho Aberto.

A PAZ E O AMOR

Os demais serão, na medida em que o Amor vai entrando, devagar, livre, leve e solto. A “Unamente” passa a ver, nas claras luzes que brilham e transmite ao vital, os momentos em que o Amor esteve presente. Faz ver , e neste instante, uma gotinha de lagrimas, cai na minha face e se fixa por entre as covas do sorriso que se prende, o significado da Paz de Amor. Quantos morreram, enlouqueceram, levaram porrada do sistema e tiveram que deixar famílias?

Quantos perambularam por estradas, cabelos ao vento, sem documento presos, espancados e até mortos nos anos 70 onde tudo parecia ser lindamente um Maravilhoso Mundo Novo? O amor, no silêncio que o escaninho aberto emite, faz mal a quem tem as duas mentes.

A escuridão quer a luz não por saber de sua claridade. Tão somente com intuito de posse. O silencio de quem leva o amor, com escaninho aberto, incomoda. Quantos que, desprendido das coisas vãs da matéria e com escaninho aberto, foram perseguidos e mortos por quem tem duas mentes. A mente misteriosa de formato quadrangular sempre estará atenta, atuando em Mentes de duas Mentes, para descobrir e tentar eliminar quem recebe este vital puro que é a “ Umamente”. Esta busca não é de hoje na humanidade.

Milhares de homens buscam este conhecimento que a Mente única dá, no formato redondo na unidade de seu corpo. As sombras estarão sempre em círculos e muitas paralelas ao quase infinito quando o espelho da vida é acionado. Mestres em filosofias, mestres em medicina, mestre em estudo das condições sociológicas do mundo tentam de todas as formas este entendimento.

Ininteligível para eles. Vivenciar os fatos da vida, sofrer na carne o desprezo da sociedade de consumo, saber a dor da magoa, a dor do não reconhecimento e até a tristeza pelo amigo que rejeita, faz parte da cimentação destes seres possuídos de “Unamente”.

O Amor que vai sendo colocado no Escaninho Limpo com o Cotonete de Luz Azul leva estas experiências humanas. Homens que sofreram as ingratidões do mundo, que buscava o amor jamais terão seu escaninho maculado e turvo. Por mais que se queira conhecer o significado do Vital, que abre as portas para uma só Mente, só terá acesso a este beneficio aquele Vital que for tocado pela Amplitude do Saber Maior. A residência do Amor, no Escaninho que habita e vive na Eternidade do Vital, sempre esteve presente na humanidade.

Bastam olhar os livros, os Poetas, os Escritores Iluminados, os grandes homens das descobertas, crianças que sorriem, velhos que olham, homens que meditam. Uma vasta legião de seres humanos, ou pregaram o Amor ou viveram este lindo sentimento. O Escaninho do Amor, quando tocado e limpo com o Cotonete Azul que brilha como a Luz do Sol, este coloca o humano no patamar dos outros vitais. Forma daí, quando este sopro bate ao rosto como brisa de verão, a experimentação de algo sublime.

Algo que vem no formato da beleza que toca, que faz brilhar e fornece ao Vital Possuído, a verdadeira essência do Viver. A harmonia com que a vida se torna, ao ser tocado pelo Cotonete Azul, e saber que ele esta atuando na limpeza do Escaninho do Desejo faz soar ao ouvido a sonora música dos deuses. Harpas, violinos inimagináveis dão a sinfonia do prazer de moldar uma sensibilidade impar. Ao ser tocado pelo Cotonete Azul, no escaninho do Amor, o Desejo de unifica.

Passa a ser a grande semente que, cultivada pelo amor, vai brotando e fazendo com que toda a extensão da “Unamente” trabalhe sob seu comando. A partir desta sementeira imaginária e fértil, toda a vitalidade do ser humano passa a ter o comando maior do amor, residência que passa a ter no escaninho limpo e perfumado. A partir daí, todos os sentimentos até então separados, sem formatação e desleixados, espalhados pelos bilhões de escaninhos da atual “Unamente”, passam a vigiar o Escaninho do Amor. Assim como fazem as Abelhas com sua “Abelha Rainha”.

Os bilhões de Escaninhos, já com a Mente Una, Indivisível e Aberta, passam a ficar de guarda no Escaninho do Amor. Vigiando os Desejos para que eles nunca mais turvem este Escaninho.

Sendo membro do vital e, por conseguinte, fazer parte do todo, o ser humano após a “Unamente”, estará em conformidade com os demais seres irmãos, começará a entender mais o significado da Existência. Começa a saber da Imortalidade do Vital.

Não a imortalidade egoísta de seres humanos e crenças terrestres que, pregam uma imortalidade diferenciada da real em busca de uma conotação essencialmente capitalista e mentirosa.

O Saber, que faz parte do Universo dos seres vitais o humanos, com a “Unamente” aberta, iluminada, com seu escaninho vigiado pelos bilhões de sentimento e o Amor sendo a Abelha rainha da Unidade da Mente, o homem vital passa a saber da sua necessidade de lutar, bravamente, pelos seus irmãos vitais na formatação de uma vivencia dedicada a este fortalecimento.


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