Clima extremo atinge com tudo pobres do Sri Lanka

clima Clima extremo atinge com tudo pobres do Sri Lanka
O antigo provérbio “a natureza é um grande nivelador” já não vigora para os mais pobres em países como Sri Lanka. Foto: Amantha Perera/IPS

Pansalgolla, Sri Lanka, 31/10/2012 – A antiga afirmação “a natureza é um grande nivelador” não se aplica mais a países como o Sri Lanka, onde as pessoas mais pobres ficam com a pior parte dos eventos climáticos extremos. O agricultor Gamhevage Dayananda, da aldeia de Pansalgolla, no distrito de Polonnaruwa, norte do país, é um reflexo desta realidade, ao sofrer períodos de seca e de inundações, alternadamente.

As inesperadas chuvas de fevereiro de 2011 obrigaram os engenheiros a abrir as comportas de grandes tanques de irrigação, que alagaram hectare após hectare de terras cultiváveis, entre elas a modesta parcela de Dayananda, que perdeu toda sua plantação de arroz, o que não é pouco para sua família de quatro membros que dependem desse cultivo para viver. E este ano lhe coube sofrer outra crise, quando a seca destruiu suas plantações e o deixou a ponto de aumentar mais sua dívida. “Em uma estação só chove, na outra há muito sol. Não há um ponto médio, só extremos”, afirmou.

É pouco provável que mude a tendência de eventos climáticos extremos que se alternam ano após ano, segundo W. L. Sumathipala, ex-chefe da unidade de mudança climática do Ministério do Meio Ambiente. O Sri Lanka sofre as consequências da mudança climática, afirmou.

O informe anual 2011 do Fundo Central de Resposta a Emergências, da Organização das Nações Unidas (ONU), diz que “as emergências climáticas, como as vinculadas a secas, inundações e tempestades, expõem as pessoas mais pobres e vulneráveis a perigos que têm consequências duradouras para sua saúde, seu meio de vida e seu bem-estar, já que são as que têm menos capacidade para lidar, e mitigar, com os efeitos dos desastres naturais.

Cerca de 8,9% dos 21 milhões de pessoas que vivem neste Estado insular da Ásia meridional são pobres. “Os pobres de zonas urbanas têm mais probabilidades de serem afetados pelas mudanças do clima”, opinou Abha Joshi-Ghani, diretora da unidade de governo local e desenvolvimento urbano do Banco Mundial. “São os mais vulneráveis porque vivem em áreas sensíveis, em zonas precárias onde ninguém mais se instalaria”, afirmou.

A organização humanitária Homeless International, com sede na Grã-Bretanha, estima que 12% dos três milhões de pessoas que vivem nas cidades do Sri Lanka residem em assentamentos precários. O secretário de Defesa e Desenvolvimento Urbano, Gotabaya Rajapaksa, disse que a maioria das pessoas que vivem nos assentamentos de Colombo reside em “terras estatais”, e acrescentou que “muitas vivem em reservas ao lado de lagos, canais e vias férreas”.

A maior ameaça para elas são as rápidas inundações. Desde 2007, a capital e outras áreas do oeste ficaram submersas mais de 20 vezes. Algumas áreas alagaram após apenas 30 minutos de fortes chuvas, como ocorreu na terceira semana de outubro. O problema pode, em parte, ser atribuído à comprometida capacidade do sistema de drenagem. Mas as precipitações cada vez mais fortes pioraram a situação, especialmente porque não parece que a tendência vá se reverter.

Na Segunda Comunicação sobre Mudança Climática de 2012, o Ministério do Meio Ambiente disse que a capital Colombo e o resto das planícies ocidentais só podem esperar por dias mais úmidos, com períodos de chuvas intensas. Por outro lado, os produtores da arroz provavelmente sofrerão períodos de seca nos próximos tempos. Segundo o Ministério, as terras cultiváveis em partes das províncias Norte e Leste, incluída Polonnaruwa, não só receberão menos das chuvas necessárias como também sofreram temperaturas mais elevadas. O Banco Central estima que uma alta de 0,5 grau na temperatura reduziria a produção de arroz em 5%.

Por isso, não surpreende que o informe do Banco de Desenvolvimento Asiático de 2011 qualifique a mudança climática como a “maior ameaça à segurança alimentar”. O especialista em desenvolvimento sustentável, Riza Yehiya, também alertou que as “variações na segurança alimentar ocasionadas pela mudança climática serão acompanhadas de instabilidade energética, o maior requisito da sociedade moderna”, junto com alimentos e água.

“Os efeitos combinados deste trio, água, alimento e insegurança energética, farão com que os setores mais pobres da sociedade se tornem extremamente vulneráveis, a menos que a segurança social se fortaleça para eles no contexto do programa de mitigação da mudança climática”, acrescentou o especialista. Os produtores de Palonnaruwa protestaram em setembro depois que os engenheiros deixaram de fornecer água por causa da seca. Os camponeses disseram que mais de 16 mil hectares de arrozais que dependem dos tanques de irrigação de Parakarama Samudarya estavam a ponto de secar totalmente.

Após sofrerem, no começo de 2011, inundações que destruíram 16 mil hectares de arrozais e cerca de 10% das primeiras colheitas, os agricultores do norte e do centro sofrem outro flagelo. A severa seca dos primeiros nove meses deste ano afetou 1,3 milhão de pessoas, segundo uma rápida avaliação do Programa Mundial de Alimentos (PMA).

Os especialistas estimam que cerca de 29% da colheita prevista de 1,1 milhão de toneladas se perderão, enquanto 76 mil hectares, ou 19% dos cultivos, já foram destruídos. “As conclusões preliminares indicam um substancial impacto no modo de vida de um amplo espectro da população, bem como a deterioração da segurança alimentar”, segundo a Atualização em Segurança Alimentar Global do PMA, apresentada este mês.

O economista Muttukrishna Sarvananthan acredita que o desemprego poderá afetar 20% da população economicamente ativa em algumas partes da província Norte, embora não haja dados oficiais que o confirmem. Envolverde/IPS

* Este artigo foi produzido no contexto da série em inglês Climate Change: A Reporting Lens from Asia, da IPS Ásia Pacífico.

(IPS)
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