Mais mulheres em frentes de combate

Nações Unidas, 26/10/2010 – A percepção de que as mulheres participam de conflitos armados fundamentalmente em forças internacionais de paz está sofrendo uma gradual transformação. 

Um crescente número se converte em combatentes, inclusive realizando atentados suicidas no Afeganistão, Iraque, Nepal, Palestina, Chechênia e até há pouco tempo no Sri Lanka.

Um debate de uma semana sobre o papel das mulheres em paz e segurança, que começou ontem em Nova York, coincide com o décimo aniversário da histórica Resolução 1325 da Organização das Nações Unidas (ONU), que reconhece a importância delas nos esforços de resolução de conflitos.

A secretária-adjunta da ONU e representante especial para a questão das crianças e os conflitos armados, Radhika Coomaraswamy, explicou à IPS que as menores se uniam às forças armadas por diversas razões.

“Algumas simplesmente são sequestradas de suas casas e obrigadas a se unir. Convertem-se em escravas sexuais e combatentes do Exército de Resistência do Senhor (no norte de Uganda) e de grupos armados na Libéria e em Serra Leoa”, afirmou.

Em outras partes do mundo, integram-se nas fileiras de organizações armadas por razões ideológicas.

“Às vezes é uma mescla de ambas as coisas”, disse Radhika, ex-relatora especial da ONU sobre violência contra as mulheres, e que viajou com frequência a regiões de conflito na África, Ásia e América Latina.

Recordou o caso de uma menina no Nepal que contou ter visto como insurgentes maoístas chegaram a uma escola e exortavam os alunos a aderirem à “resistência”.

Radhika disse que a menina decidiu juntar-se aos maoístas porque “sentia que era o que se esperava de uma pessoa jovem”.

As mulheres representavam cerca de um terço das forças rebeldes que durante dez anos enfrentaram o governo do Nepal. Em fevereiro, o Exército de Libertação do Povo foi desmantelado e três mil menores desmobilizados, dos quais cerca de mil eram meninas.

Um documento divulgado na semana passada pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), intitulado “Do Conflito e da Crise à Renovação: Gerações de Mudança”, diz que os grupos feministas em geral afirmam que as mulheres são naturais pacifistas que preferem soluções não violentas em lugar do enfrentamento, sempre que possível.

“Entretanto, desde tempos ancestrais, as mulheres foram à guerra e os conflitos contemporâneos envolvem muitas mulheres, tanto por opção destas como por recrutamento forçado”, acrescenta o estudo.

A pesquisa, elaborada por Barbara Crossette, ex-chefe do escritório do jornal The New York Times na ONU, afirma que os conflitos étnicos, de classe ou nação levam muitas mulheres a aderirem aos grupos armados ou, às vezes, ao terrorismo.

Além disso, a alta tecnologia de guerra nos países industrializados atrai muitas mulheres em busca de carreiras militares, onde competem com os homens por posições de comando.

Os Tigres para a Libertação da Pátria Tamil-Elam (LTTE), grupo rebelde que travou uma guerra civil de duas décadas contra o governo central do Sri Lanka, foi um dos pioneiros em utilizar mulheres como atacantes suicidas.

Até um quinto dos integrantes do LTTE era formado por meninas e mulheres, que assumiam posições na frente de combate.

Swati Parashar, conferencista na Universidade de Limerick, na Irlanda, disse no informe do UNFPA que “as mulheres, que apoiam ou consentem a violência discriminada ou indiscriminada contra instituições do Estado e civis desarmados, não só redefinem as noções de nacionalismo, gênero e identidade religiosa como revelam sua complexidade e as problemáticas relações com o feminismo.

“Até que grau a participação em atividades militantes e de combate armado proporciona às mulheres oportunidades para transcender os papeis de gênero convencionais? Como essas mulheres são influenciadas por estes movimentos políticos e como elas influem nesses movimentos?”, perguntou.

Outra questão importante é o que acontece com as mulheres quando termina o conflito.

Nepal e Sri Lanka levam adiante um processo de reintegração para as ex-combatentes após o fim dos enfrentamentos.

Segundo o informe do UNFPA, estas desempenharam papeis ativos durante a insurgência no Nepal.

“Foram combatentes, pessoal de segurança estatal, único sustento da família, pesquisadoras, ativistas, jornalistas e políticas”, afirma.

Quando foi assinado o acordo de paz em 2006, também tiveram acolhida no processo de reconciliação, acrescenta o UNFPA. Envolverde/IPS


(IPS/Envolverde)

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