O impasse começou ainda nos pré-lançamentos das candidaturas eleitorais no pleito convocado para escolher 124 membros da Assembléia Nacional, 23 governadores, 221 prefeitos e 1.581 vereadores, além do próprio mandatário principal, o presidente da República. Correa sagrou-se vitorioso ainda no primeiro turno das eleições com 51,99%, tornando-se Presidente do Equador pela segunda vez. Em janeiro, sua coligação “Pais” lança a candidatura de María Duarte a prefeita de Guaiaquil para enfrentar Jaime Nebot e Madera Guerrero, que conta com o apoio maciço do empresariado local e tem como triunfo o badalado Malécon - um centro turístico de 2,5 km inaugurado quando Nebot foi chefe da municipalidade no ano 2.000. Nebot e Guerrero vencem e lançam brutal campanha contra a decisão do Presidente Rafael Correa de renegociar o contrato de prestação de serviços da companhia distribuidora de água Interagua por abusos nos preços dos serviços prestados. Os opositores de Correa reclamam ainda uma dívida de 34 milhões de dólares, que supostamente o governo do Presidente teria com a cidade de Guaiaquil. Jaime Nebot chama o governo de Rafael Correa de “irresponsável e ineficiente”, e por causa dessa decisão utiliza essa propalada pendência para insuflar os moradores contra o governo central.
Para piorar os ânimos dessa guerra anunciada, um grupo de camelôs e trabalhadores informais reivindica o livre exercício profissional nas ruas da cidade. Nebot alega que isso traria mais prejuízo ao comércio, mas articula uma revolta desses comerciantes informais contra o governo; para tanto organiza um “exercito” de mais de 100.000 comités “cívicos” para lutar contra Rafael Correa. Essas ações já provocaram diversos confrontos tanto com a Polícia Metropolitana quanto com a Polícia Nacional. No interior do Equador, a oposição é encabeçada pelo empresário e homem mais rico do país, Álvaro Noboa, candidato derrotado nas eleições gerais de abril de 2009 e membro do Partido Renovador. Por causa da aplicação do Projeto de Soberania Energética, que deve consumir a cifra de 152 milhões de dólares na melhoria do sistema elétrico equatoriano, tem havido alguns casos de apagões em Guaiaquil, Quito, Miraflores e Guayas, pois nessas localidades acontece a interrupção temporária da energia para a troca de novas turbinas pela CELEC- Transeletric Companhia Elétrica do Equador. Os oposicionistas Nebot, Álvaro Noboa e consortes têm procurado insuflar a população contra essas atualizações no setor. O caso mais recente é o dos meios de comunicação, em que está em curso o Projeto das Telecomunicações, que visa corrigir históricas distorsões e colocar em prática a justiça midiática. A turba oposicionista tentou usar o fechamento temporário da rádio Voz de Arutam, na cidade de Morona Santiago, como motivo para que grupos indígenas se rebelassem contra o governo Correa. Mas ninguém, e muitos desses grupos mostraram que isso ocorreu porque a rádio usava dos conteúdos violentos e atentava contra os valores das crianças e adolescentes, crime que mundialmente é condenável.
Vi, ouvi e presenciei um Equador com todos os ingredientes de uma guerra civil à flor da pele. Em que pese os ótimos compromissos públicos da gestão de Rafael Correa com seu povo, o clima de conspiração e separatismo é muito forte pois setores importantes do sistema financeiro, especulativo e empresarial e da elite não se conformam em ver em ascenso o poder popular para beneficiar os pobres e historicamente excluídos. Guaiaquil prepara-se silenciosamente para ser o mais novo país latinomaericano, a República de Guaiaquil com o beneplácito dos Estados Unidos e incentivo do Banco Mundial. Há inclusive um plano, já pronto, de divisão territorial com 7 zonas principais encabeçadas por Esmeraldas, Pichincha, Cotopaxi, Manabí, Guayas, Cañar e El Oro. Portanto, as notícias oficiosas divulgadas pelas FARC, e reiteradas pelo camarada Hugo Chávez, de que a Colômbia prepara intento militar contra a soberania do Equador, não são nada desprezíveis.
Alexandre Braga é Relações-Públicas, Articulista e Coordenador de Comunicação da UNEGRO-União de Negros Pela Igualdade - Minas Gerais/Brasil.
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