Obama: Uma dose étnica para a crise capitalista mundial

No meio de uma das piores crises que o capitalismo atravessa em sua história, dentro de um evidente panorama de desaceleração da economia mundial, se desenvolveu um singular processo eleitoral no país do Norte, sem dúvida a maior potência imperialista do mundo.

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De fato não é todo dia que um presidente norte-americano clama a seu Congresso para que apóie sua proposta de plano de reativação, cuja aplicação requer nada mais nada menos 700 bilhões de dólares, muito mais que a soma do Produto Interno Bruto de todos os países da América Latina — exceto Brasil e México. Dinheiro que seria destinado à aplicação de uma série de medidas de nacionalização que demonstram que o estatismo longe de ser uma política revolucionária por si, também pode facilitar a reacomodação do sistema capitalista em situação de crise. O que de certa forma permite desmascarar o cacarejado Socialismo do Século XXI de Hugo Chávez, pois em sua declaração Bush optou da mesma forma pela nacionalização de bancos e empresas quebradas, agora que o barco capitalista jorra água por todos os lados.

A sucessão presidencial ianque aconteceu em meio a esse contexto e a candidatura e posterior eleição de Barack Obama, que esteve sempre à frente nas pesquisas realizadas pelos monopólios dos meios de comunicação ianques, introduziu alguns ingredientes, não propriamente novos, à disputa.

Barack Obama é um jovem advogado, formado pela Universidade de Harvard, natural do Havaí e criado em Chicago, filho de um africano imigrante do Quênia e uma mulher norte-americana de origem inglesa. Obama vem sendo constantemente interpelado por sua aproximação com os jovens, grupos underground, panteras negras, ativistas dos direitos civis dos afro-descendentes, pessoas vinculadas a setores da esquerda e até mesmo seitas religiosas radicais, antecedentes que demonstram que estamos diante de uma figura inédita num espaço central da política norte-americana porque foram raras às vezes em que um candidato a presidência do USA se aproximou de tantos grupos marginalizados ou excluídos do poder.

Tais antecedentes de Obama foram habilmente explorados pelos meios de comunicação ianques, assim como também pelos meios de comunicação dóceis à linha imperialista em todo o mundo, que como nunca se preocuparam por manter informados segundo a segundo dos pormenores da campanha política presidencial ianque, desde as eleições primárias quando Obama competiu com Hillary Clinton, relegando o interesse pelo processo de eleição de John Mc Cain na casa republicana; o que demonstra a mobilização sem precedentes de una parafernália midiática, por certo muito carnavalesca, entorno a uma eleição cujo vencedor estava cantado muitos meses antes de que acontecesse.

Por outro lado é mais do que necessário falar do tema étnico, dada a forte carga racista que se apresenta através da história norte-americana, que definitivamente não acabou com a Guerra de Secessão no final do século XIX. Pelo contrário, se prolonga até nossos dias, passando por inúmeras lutas por direitos civis na década de 60, lideradas por Martin Luther King.

Ainda mais se Obama provém de uma das cidades estadunidenses onde existe uma forte segregação residencial sob os critérios étnicos e de classe, lembrando que Chicago foi um laboratório para o estudo das características adquiridas por uma cidade fragmentada em anéis concêntricos, com zonas plenamente identificadas pelas características de sua população que permitiam aplicar uma série de políticas repressivas que apreendiam em guetos populações de negros e trabalhadores, assim como estabelecia maiores cuidados e segurança para os espaços ocupados por pessoas brancas e bem nutridas.

O passado de Obama também está ligado ao mundo das instituições de desenvolvimento fortemente vinculadas ao lobby para a inclusão de políticas sociais na agenda pública norte-americana, conchavos para inserir políticas assistencialistas a favor de setores desfavorecidos da sociedade.

Este passado ligado ao mundo outsider da política e da sociedade é muito exótico para o gosto dos setores ultraconservadores dos Estados Unidos e um verdadeiro banho de frescor para a imagem para lá de reacionária da maior potência imperialista, frente a um mundo que a odeia e se sente incomodado, principalmente em razão das agressões imperialistas empreendidas nesta década a diversos países, em especial as que ocorrem no Iraque e Afeganistão, sem falar nas eternas intromissões nos assuntos internos de diversos países do Terceiro Mundo, e sem dúvida em toda a América Latina, que sempre a tratou como seu quintal.

Costuma-se dizer que para o capital e o sistema de exploração capitalista, não importa a cor do papel, no entanto o racismo tem base anterior ao capitalismo, que se instalou como remanescente dos processos de colonização que possibilitaram a fixação do capitalismo em todo mundo, sobre o qual desenvolveu também a exploração imperialista.

Mesmo com esse toque étnico indiscutível, Obama de maneira alguma modificará minimamente as características exploradoras do imperialismo. É apenas uma forma de se desfazer de sua base cultural anterior ao capitalismo, o que resulta um peso na atualidade, porque o estilo genocida de se fazer política de George W. Bush destacou suas agressões imperialistas sob a justificativa ideológica do choque de culturas, civilizações, religiões e raças, ainda que este último conceito seja realmente anticientífico, dada a inexistência de pureza de sangue.

Em alguns países da América Latina, alguns iludidos que se autodenominam líderes de esquerda observam deslumbrados a eleição de Barack Obama, destilando ingenuidade ou cumplicidade, para criar um clima favorável à exploração imperialista disfarçada de certa dose étnica, este tipo de gente costuma ser a mesma sem escrúpulos que mostra suas inclinações pelo Partido Democráta ianque e antipatia diante o Partido Republicano, como se ambos partido não fossem duas caras da mesma moeda imperialista.

Barack Obama, com exceção de suas promessas de maiores subsídios e de políticas fiscais brandas em comparação as aplicadas pelo incompetente Bush — abrandamento usual em época eleitoral — apresentou provas claras de que não mudará nem um milímetro a política ianque de agressão imperialista. Pelo contrário, lança ações provocativas para mantê-la, inclusive aprofundando sua política exterior genocida, e deixando ainda mais rigorosas suas políticas migratórias.

No caso de seu opositor John Mc Cain, não só sofre como arrasta os passivos do desgaste de seu correligionário Bush, ainda que para elevar sua candidatura tenha escolhido Sarah Palin como sua companheira ao cargo de vice, ela que veio do Alaska, cuja estupidez chega a ser similar ou até mesmo superior a do presidente que sai, o que o distanciou das possibilidades de ser-lhe conferido como presidente dos Estados Unidos.

Nestas eleições, uma questão ficou clara: está comprovado que o imperialismo nunca dorme e que se tem que se desfazer de uma cultura pré-capitalista para criar condições favoráveis para sua estratégia de reimpulsionar o capitalismo, não titubeará em deixar de lado sua pesada carga racista que mantém até hoje, ainda que de uma forma ilusória. Apesar de Obama ter se aproveitado convenientemente da cor da sua pele, evita fazer maiores menções sobre o tema racial.

Certamente a atual crise capitalista, que é produto do acelerado nível de especulações na bolsa, as finanças mundiais e o mercado imobiliário, não necessariamente representam o fim do capitalismo, sua atual situação agonizante é parte das crises cíclicas do capital, das que Marx e Engels já falavam desde o século XIX.

No entanto a derrota total do capitalismo não será ocasionada por uma queda por apodrecimento, mas devido à ação direta das massas organizadas de todo mundo. Posições contrárias a esta foram vencidas nas primeiras décadas do século XX, quando foram derrotadas as posições da social democracia na II Internacional. De fato o aparecimento de Obama no cenário político mundial demonstra como a ave de rapina imperialista ianque resiste a perder sua condição hegemônica.

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