Lisboa, 18/03/2008 – Da mão de uma administração municipal que reclama sua vocação ambiental, a capital portuguesa se encaminha para desenvolver a energia eólica, restaurar e conectar seus espaços verdes e promover o transporte limpo e a vida ao ar livre. Durante décadas, Portugal ignorou as possibilidades da natureza para aproveitar as energias alternativas aos combustíveis fósseis, enquanto os interesses imobiliários destruíam pulmões verdes de suas cidades, afirmam os ecologistas. Mas em 2005, quando o engenheiro e ambientalista José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa, então com 47 anos, se converteu em líder socialista e jurou como primeiro-ministro, o país começou a notar que é a nação européia com maior quantidade de horas de sol por ano, tem ventos fortes e constantes e enormes ondas em seu litoral atlântico.
Esses elementos da geografia permitiriam a Portugal, em poucos
anos, subir dos últimos para os primeiros lugares em matéria de respeito ao meio
ambiente e aproveitamento de energias limpas, afirmam os estudiosos. Lisboa
parece encaminhada. O conselheiro encarregado do meio ambiente na assembléia da
prefeitura, José Sá Fernandes, pretende que em seis anos a capital do país se
converta em exemplo para as demais cidades portuguesas e européias. "Apostamos
em três coisas: economia de energia, desenvolvimento de fontes alternativas aos
combustíveis fosseis e realizar circuitos dentro da cidade ligando todos os
jardins, não apenas para podermos nos locomover, em especial a pé e de
bicicleta, mas também para respirar melhor nas ruas", explicou o Fernandes à
IPS.
A prefeitura de Lisboa vai instalar "algumas turbinas eólicas de
aproximadamente 10 metros, como se fossem faróis, chamando, assim, a atenção
para a produção de energia de outras maneiras, acrescentou o conselheiro. O
projeto que é chamado de Wind Parade (Desfile do Vento), consiste em instalar de
15 a 20 turbinas eólicas em Lisboa em maio e junho deste ano para gerar
eletricidade, que depois será injetada na rede e abastecimento público para ser
usada pelas entidades Energia Sustentável para a Europa, Associação européia de
energia do Vento (respectivamente, SEE e EWEA, siglas em inglês) e a Associação
Portuguesa de Energias Renováveis.
O projeto tem duas fases, "a primeira
é um apelo à sensibilidade da população para a produção de energia a partir de
fontes renováveis, enquanto na segunda se destaca uma ação de formação nas
escolas", afirmou a prefeitura. "Desta maneira se estará beneficiando o meio
ambiente, já que cada turbina pode economizar (menor emissão de contaminantes)
até 2,15 toneladas de dióxido de carbono por ano, além de não representar um
gasto porque as turbinas serão doadas por empresas privadas e instaladas em
áreas municipais", afirmou o conselheiro. "O principal impacto que esperamos é o
psicológico, levando as pessoas a pensarem na ecologia", acrescentou.
Nos
prédios municipais "colocaremos painéis solares, aproveitaremos as águas quentes
das piscinas para produzir energia através do gás, mudaremos as lambadas dos
semáforos por outras mais modernas e econômicas, o que se traduzirá em uma
grande redução da fatura energética. "Lisboa necessita de tempo para se
recuperar do desastre causado nos últimos seis anos pelas maiorias do Partido
Social-Democrata (PSD, conservador) que foi acusado de ceder às pressões das
grandes imobiliárias durante sua gestão no município, disse Fernandes.
O
governo municipal está nas mãos do governante Partido Socialista desde meados do
ano passado. O independente Fernandes, escolhido nas eleições municipais
antecipadas de 2005 e reeleito em 2007 pelas listas do Bloco de Esquerda, diz
amar tanto a cidade em que nasceu em abril de 1958 que desde que tem uso da
razão trava os mais diversos combates em sua defesa. Junto com o cineasta José
Fonseca e Costa e o arquiteto Gonçalo Ribeiro Telles, faz parte de um trio de
protagonistas de várias batalhas para a defesa de Lisboa com cidade antiga e
senhorial, contra o avanço dos grandes interesse imobiliários.
Ao projeto
energético, Fernandes une outro plano ambiental, os Corredores Verdes, com
ciclovias, ligando os grandes parques, jardins e espaços florestais que existem
na capital. "E tudo isso sem necessidade de dinheiro", assegurou. "Se
conseguirmos ter uma estrutura ecológica montada, se as pessoas verificarem que
há outros tipos de transportes que facilitam a locomoção, se virem que estão
sendo preservados os jardins, mirantes, terraços, espaços para as crianças
brincarem, isto será um sinal de esperança", afirmou.
O plano é ambicioso
e complicado, mas possível e barato, assegurou o conselheiro, que obteve apoio e
compromisso de donos de grandes espaços verdes que não são hospitais. "Vamos
interligar todos os jardins e parques da cidade, o que nos permitirá uma notável
estrutura ecológica que dará lugar a boas práticas ambientais, como transformar
em calçadões várias ruas da cidade", acrescentou. Quanto aos transportes
públicos, em coordenação com a empresa estatal Carris que administra este setor,
"fomentaremos a reabilitação dos bondes", especialmente na margem do rio Tejo.
Nesta capital, "todos os componentes ambientais, água, terra, ar, sol, terão
aplicações práticas graças a uma orientação política, ou seja, ir passando do
discurso teórico para algo concreto e palpável", ressaltou.
Entre essas
concretizações se destacam algumas obras com um possível grande impacto no
turismo, principal fonte de divisas para o país, que anualmente recebe cerca de
11 milhões de visitantes, especialmente europeus sedentos por temperaturas
amenas, animação e boa mesa. Haverá um "grande impulso às mesas nas calçadas, a
vida na rua, com cafés e restaurantes ao ar livre, uma vida que podemos nos
permitir pelo clima que temos, e já no final de 2009 quem nos visitar entenderá
que Lisboa é uma cidade verde, que tem duas coisas que ninguém pode tirar: sua
luz e o rio", prometeu. (IPS/Envolverde)
(Envolverde/IPS)