Rio de Janeiro, 05/11/2007 – O Conselho Internacional do Fórum Social Mundial realizou na semana passada, em Belém (PA), uma reunião para preparar os próximos passos dos "altermundistas", incluindo a oitava edição do FMS que acontecerá em janeiro de 2009 e que será amazônica. O encontro reuniu mais de cem representantes de todos os continentes e também tratou do Dia de Mobilização e Ação Global, que consistirá em milhares de manifestações a serem realizadas no dia 26 de janeiro do próximo ano, em lugar de uma concentração mundial, que acontecerá em 2009.
O FMS é um âmbito de encontro e debate de uma variada gama de
organizações e movimentos, cujo denominador comum é sua rejeição ao atual rumo
da globalização econômica e a busca de outros modelos de globalização. Daí serem
chamadas também de "altemundistas". Mas, o Conselho Internacional decidiu
reunir-se em Belém como ato de apoio e aproximação a essa cidade de 1,4 milhão
de habitantes, escolhida como sede do Fórum 2009, disse Cândido Grzybowski, um
dos principais organizadores do FMS e diretor-geral do Instituto Brasileiro de
Análises Sociais e Econômicas (Ibase).
"Foi animador conhecer a densidade
dos movimentos sociais e organizações amazônicas, que asseguram o êxito do Fórum
em Belém", disse Grzybowski à IPS. Os grupos participantes já avançaram "tanto
em organização quanto em idéias", desde que em maio o Conselho Internacional
escolhe a sede da próxima edição centralizada do FMS, acrescentou. a cidade foi
escolhida como forma de destacar a importância da Amazônia para o mundo. Belém é
a porta de entrada para essa região compartilhada por oito países e que
concentra uma grande parte da diversidade biológica mundial e onde o
desmatamento causa temores e protestos em todas as partes.
Também faz
parte da Amazônia a Guiana Francesa, remanescente colonial que será um tema
importante no FMS de Belém, destacou Grzybowski, acrescentando que o grande
encontro dará visibilidade à diversidade da população amazônica, que compreende
indígenas, quilombos (comunidades descendentes de ex-escravos africanos), povos
ribeirinhos e outros, sem esquecer o drama dos trabalhadores submetidos a
condições de escravidão. Não só estará em questão a independência da Guiana da
França como, também, "as conseqüências de sua situação para a América Latina,
especialmente para os países amazônicos", disse à IPS Jean Michel Auboint,
representante da União de Trabalhadores da e da Organização de Direitos Humanos
dessa colônia francesa.
Com exemplos de efeitos negativos Auboint apontou
a militarização e possíveis agressões, a apropriação de conhecimentos
tradicionais e de recursos naturais por parte da potência colonizadora e as
restrições à livre circulação, que é uma tradição cultural entre os povos
locais, como os indígenas e os quilombolas (habitantes dos quilombos). "Os
indígenas não têm direitos legais na Guiana Francesa", ressaltou.
O FMS
realizou suas três primeiras edições em Porto Alegre, seu berço e símbolo por
ter desenvolvido várias idéias democratizantes, como o orçamento participativo.
Em 2004, o encontro anual mudou para Mumbai, na Índia, e voltou à capital gaúcha
no ano seguinte. Em 2006, foi aprovada uma edição policêntrica em três
continentes, com encontros em Caracas (Venezuela), Carachi (Paquistão) e Bamako
(Mali). Este ano, Nairóbi, capital do Quênia, retomou a tradição de apenas um
encontro mundial, mas, pôs fim à periodicidade anual. O FMS agora é bienal e
2008 será dedicado a manifestações locais em diferentes lugares do
mundo.
Em seu balanço da mobilização que é preparada para 26 de janeiro
próximo, o Conselho Internacional comprovou que haverá uma grande diversidade de
atos e iniciativas. Belém organizará seminários e duas grandes manifestações
para afirmar-se como uma referência do movimento por "outro mundo possível", ou
"altermundista". No Rio de Janeiro um espetáculo na praia encerrará o ato "Rio
com vida", para ressaltar a preocupação local com a segurança, enquanto São
Paulo promoverá um encontro de quatro dias pelo direito à educação, enquanto
seminários e campanhas acontecerá em outras cidades brasileiras, informou Salete
Valesan, do Instituto Paulo Freire e permanente organizadora desses
encontros.
A comunicação ganhou uma importância-chave neste processo
"pulverizado de manifestações em todo o mundo, para dar visibilidade e
estabelecer a conexão entre tantas atividades. Por isso, o Conselho
Internacional aprovou a criação de um site interativo (www.fsm2008.net) com variadas ferramentas que
permitirão informar, inclusive de forma audiovisual, sobre as múltiplas ações,
disse à IPS Antônio Martins, da Associação por uma Taxa para as Transações
Financeiras e Ajuda aos Cidadãos (Attac). Cada organização, "por menor que
seja", poderá proporcionar informação sobre suas mobilizações. Outra iniciativa
convida profissionais e amadores a fazerem vídeos de até um minuto de duração
para compor uma "história audiovisual coletiva' da Ação Global que se estenderá
por vários dias antes e depois de 26 de janeiro.
O conselho deu "passos
gigantescos" na organização do FMS, destacou Grzybowski. Decidiu-se criar um
Grupo de Enlace, formado por 11 titulares e cinco suplentes, com representação
de todos os continentes e equilíbrio de gênero, para suceder o grupo brasileiro
de organizadores que até agora se encarregou dos trabalhos administrativos do
movimento. Além disso, houve avanço em um plano para obtenção de recursos de
forma permanente, não apenas voltados às atividades, mas para melhor
sustentabilidade do processo, buscando superar as dificuldades financeiras e
organizacionais que apresentam a preparação e execução de cada edição do FMS,
concluiu Grzybowski. (IPS/Envolverde)