Vitória do Hamás reduz a cacos a posição de Netanyahu−EUA

Localização do aeroporto Ben Gurion

O Hamás acaba de alcançar grande vitória. As empresas norte-americanas de aviação DeltaUSAir e United Airlines suspenderam por tempo indeterminado os voos de e para Israel. Isso, depois que um foguete lançado de Gaza explodir perto do aeroporto Ben Gurion em Telavive.

Depois que o MH-17 foi derrubado na Ucrânia, a sensibilidade a possíveis problemas em voos aumentou dramaticamente. Nenhuma empresa quer ser a próxima a perder uma aeronave por causa de um ou mais mísseis errantes pelo céu.

Na prática, é como se o único aeroporto internacional de Israel estivesse fechado, o que aumenta ainda mais a pressão para que Israel aceite algumas das condições do Hamás para um cessar-fogo.

Ainda demorará algum tempo e o massacre, por hora, prosseguirá. Nem o Hamás e a população de Gaza, nem o governo de Netanyahu e o povo em Israel parecem, até aqui, interessados em fazer concessões. Dos dois lados o povo empurra os respectivos governos a continuar a briga.

Míssil atingiu proximidades do aeroporto Ben Gurion em Telavive

E ainda não há real pressão internacional para um cessar-fogo. Kerry e seu clown-clone na ONU, Ban Ki Moon, estão na região tentando encontrar solução que favoreça Israel. Mas não há solução, sem que se aceitem as condições que o Hamás está impondo. Terão sorte se conseguirem algum ímpeto entre os árabes na direção de concessões, ou para pressionarem o Hamás. Os únicos que poderiam negociar em nome do Hamás e apoiando o Hamás são o Qatar e a Turquia. Mas Erdogan, que em breve já estará convertido em novo ditador turco, já não conversa com Obama e tem outros problemas. As galinhas já estão correndo de volta ao poleiro, agora que “contrabandistas” do Estado Islâmico já começaram a matar soldados turcos na fronteira entre Turquia e Síria. O Qatar não é bem quisto pelos demais estados árabes do Golfo, e é especialmente detestado pelo Egito, pelo apoio que tem dado à Fraternidade Muçulmana.

Mas o Egito é o país vizinho, ao lado de Israel e EUA, que terá de fazer concessões ao Hamás. A abertura da passagem de Rafah na fronteira, indispensável para levantar o sítio contra Gaza, só poderá ser conseguida com plena aprovação pelo Egito. Kerry gostaria de ter conseguido isso, mas quando chegaram para a reunião com o ditador Sisi do Egito, o próprio Kerry e toda a comitiva que o acompanhava foram submetidos a detalhada revista pelos órgãos de segurança, antes de receberem autorização para entrar no palácio no Cairo. Foi um muito significativo tranco de chega-prá-lá; e mais trancos viriam durante as conversações.

Passagem de Rafah - Fronteira Gaza-Egito

Os EUA simplesmente já não estão em posição da qual possam efetivamente criar soluções políticas no Oriente Médio. Como Chas Freeman analisa, o governo Obama conseguiu, ao longo dos anos, tornar o Oriente Médio ainda mais confuso e desesperado do que sempre foi e é. O vício que torna os EUA dependentes de Israel (e uma hipocrisia abissal) arruinou a própria posição dos EUA:

Desde o início, Israel usou o “processo de paz” como fator de distração, enquanto ia criando “fatos em campo”, sob a forma de colônias ilegais. O expansionismo israelense e políticas a ele relacionadas acabaram por tornar a coexistência entre Israel e os palestinos – e, portanto, também com todos os demais vizinhos árabes de Israel – impossível.

Os EUA criaram o risco moral” [1]  que levou Israel a pôr-se nessa atual posição, absolutamente insustentável. 40 anos de diplomacia norte-americana enviesada e tendenciosa, orientada exclusivamente para obter aceitação regional e internacional para Israel, geraram, como agora se vê, perversamente, o exato oposto do que queriam: só fizeram aumentar o isolamento e o opróbrio que desceram sobre o “Estado Judeu”.

Agora, teremos de “cobrir a retaguarda” de Israel na ONU, por causa dos maus tratos que Israel infligiu a uma população inteira de árabes que são mantidos cativos; os recentes atos de Israel completaram a sua própria deslegitimação e determinaram o seu próprio ostracismo.

Os EUA pagaremos pesado preço político por essa posição, globalmente, no Oriente Médio e muito provavelmente também na escalada de terrorismo contra norte-americanos no exterior e em casa. Talvez satisfaça algum senso de honra por aqui. Mas parece muito mais técnica de suicídio assistido, que estratégia para a sobrevivência de Israel e da própria posição dos EUA no Oriente Médio.

Com o aeroporto Ben Gurion fechado, Netanyahu terá de achar meio para pôr fim à guerra que ele iniciou – com apoio dos EUA – e sem motivo razoável. A posição de Netanyahu enfraquecerá cada vez mais dentro de Israel e, depois dele, gente ainda mais doida que ele chegará ao poder. Com isso, o poder político dos EUA será cada vez mais reduzido e a região, afinal, deixada entregue a ela mesma, talvez consiga encontrar um novo balanço que a própria região possa manter.
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Nota dos tradutores
[1] Orig. Moral hazard [“expressão cunhada por Kenneth Arrow, pode ser traduzida por “risco moral”]. Significa um excesso de confiança, pelos agentes econômicos, de que alguém os socorrerá, se alguma coisa der errado em suas operações. Num exemplo concreto: o Banco Central providenciará uma rede de proteção, se ocorrerem grandes perdas decorrentes de uma avaliação errônea dos riscos apresentados por determinado mercado (quase sempre o mercado financeiro).
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22/7/2014, Moon of Alabama
Hamas Win Leaves Netanyahoo and U.S. Position In Shambles
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

[*] “Moon of Alabama” é título popular de “Alabama Song” (também conhecida como “Whisky Bar”  ou  Moon over Alabama”) dentre outras formas. Essa canção aparece na peça  Hauspostille  (1927) de Bertolt Brecht, com música de Kurt Weil; e foi novamente usada pelos dois autores, em 1930, na ópera A Ascensão e a Queda da Cidade de Mahoganny. Nessa utilização, aparece cantada pela personagem Jenny e suas colegas putas no primeiro ato. Apesar de a ópera ter sido escrita em alemão, essa canção sempre aparece cantada em inglês. Foi regravada por vários grandes artistas, dentre os quais David Bowie (1978) e The Doors (1967).

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