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Roma, Itália, outubro/2013 – A cada ano fazemos uma foto do progresso mundial na luta contra a fome crônica. Em 2013 o panorama é melhor, mas ainda não é suficientemente bom.
Entre 2011 e 2013, cerca de 842 milhões de pessoas sofriam fome crônica segundo O Estado da Insegurança Alimentar no Mundo, um informe conjunto publicado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida), e o Programa Mundial de Alimentos (PMA).
Este número representa uma redução em relação aos 868 milhões de famintos em 2010-2012, e queda de 17% desde a medição no período 1990-1992. Apesar do significativo que pode ser esse progresso, não pode esconder a crua realidade: aproximadamente uma em cada oito pessoas sofre fome.
A grande maioria de pessoas subalimentadas (827 milhões) vive em países em desenvolvimento, enquanto 16 milhões vivem em países desenvolvidos. É inaceitável que em um mundo de abundância seja negado a centenas de milhões de pessoas seu direito mais fundamental de não sofrer fome. O único número aceitável é zero.
Uma das duras realidades que destaca o informe é que, apesar dos progressos globais realizados na redução da fome, persistem acentuadas diferenças entre regiões, com muitos países que ficam muito atrás. A África subsaariana fez modestos progressos nos últimos anos, mas continua sendo a região com maior prevalência de subalimentação (24,8%).
Na Ásia ocidental não se vê nenhuma melhora notável, enquanto a Ásia meridional e o Norte da África são testemunhas de um lento progresso. Ásia oriental, sudeste asiático e América Latina, por outro lado, experimentaram um maior alívio da fome extrema, com reduções significativas no número e na proporção de pessoas que sofrem fome.
A segurança alimentar depende de uma série de fatores. Embora a disponibilidade de alimentos seja importante, é o crescimento econômico equitativo e o acesso dos pobres ao emprego o que melhora o acesso a alimentos nutritivos.
O informe mostra que transporte, comunicação, água potável, saneamento, cuidados sanitários e práticas de alimentação adequadas também são cruciais para reduzir a fome crônica e a desnutrição.
Considerando que 75% das pessoas mais pobres do mundo vivem em zonas rurais e que dependem principalmente da agricultura como meio de vida, fomentar o crescimento inclusivo significa investir em agricultura.
Está demonstrado que esta inversão é capaz de gerar dividendos na redução da pobreza. Estima-se que o crescimento na agricultura é cinco vezes mais eficaz para reduzir a pobreza do que o crescimento em qualquer outro setor.
E que na África subsaariana é 11 vezes mais eficaz. Como os pequenos agricultores produzem até 80% dos alimentos disponíveis, nessa região e em algumas da Ásia, também existe um evidente impacto na segurança alimentar.
O crescimento econômico que chega a grandes parcelas da população pode reduzir a pobreza, o que leva à melhoria da segurança alimentar. Em Gana, o crescimento econômico equitativo contribuiu para tirar cerca de cinco milhões de pessoas da pobreza em apenas 15 anos, e menos de 5% da população sofria desnutrição entre 2011-2013.
Entretanto, esse crescimento nem sempre é suficiente para garantir que todos tenham o que necessitam para viver uma vida sadia e produtiva. Em muitos casos, apesar da redução da fome, se deteriora a situação nutricional, por exemplo, com aumento da prevalência do atraso no crescimento infantil.
A ingestão inadequada de vitaminas e outros micronutrientes, altas cotas de doenças, água insalubre, escasso saneamento e deficientes práticas de alimentação das crianças pobres nas etapas mais importantes de seu crescimento causam sérios problemas de saúde a quase dois bilhões de pessoas no mundo. São necessários maiores esforços com um enfoque global para combater a desnutrição.
Há 13 anos, os líderes mundiais estabeleceram uma série de objetivos de desenvolvimento que devem ser cumpridos até 2015, conhecidos como os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM).
Sob o ODM 1, que tem por objetivo erradicar a pobreza extrema e a fome, o mundo se comprometeu a reduzir pela metade, entre 1990 e 2015, a proporção de pessoas subalimentadas.
Restam apenas dois anos e 62 países já alcançaram esse objetivo, enquanto 22 deles também conseguiram uma meta mais alta, estabelecida durante a Cúpula Mundial sobre Alimentação de 1996, realizada em Roma, de reduzir pela metade o número absoluto de pessoas que sofrem fome no mesmo prazo. Contudo, para esse êxito se estender a todo o mundo, será necessária uma ação sustentada e urgente.
Os países têm que enfrentar a fome e a má nutrição mediante a integração da segurança alimentar e da nutrição em suas políticas públicas e destinando os recursos necessários.
Exortamos governos, organizações e líderes da comunidade em todas as regiões para que o crescimento econômico seja mais inclusivo, por meio de políticas destinadas aos agricultores familiares que fomentem o emprego rural, fortaleçam a proteção social, incrementem as iniciativas para melhorar a diversidade da dieta e da saúde do entorno, sobretudo para as mulheres e os jovens, e promovam a gestão sustentável dos recursos naturais e dos sistemas alimentares.
Apenas com um esforço sustentado e compromisso de longo prazo seremos capazes de chegar muito além das metas dos ODM para interromper completamente o ciclo da fome extrema, da desnutrição e da pobreza que afoga o potencial das gerações futuras.
Melhorar é bom, mas, quando se trata de fome, melhorar não é suficiente. Há 842 milhões de razões para não perder isso de vista. Envolverde/IPS
* José Graziano da Silva é diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), Kanayo F. Nwanze é presidente do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida), e Ertharin Cousin é diretora-executiva do Programa Mundial de Alimentos (PMA).