Canal de água em Ankorondrano-Andranomahery, um dos bairros mais pobres da capital de Madagascar. Foto: Lova Rabary-Rakontondravony/IPS
Nações Unidas, 26/8/2913 – Enquanto a Organização das Nações Unidas (ONU) lamenta pelo fato de mais de 2,5 milhões de pessoas no Sul em desenvolvimento ainda carecerem de saneamento adequado, no Japão e na Coreia do Sul são oferecidos vasos sanitários automatizados e com música incorporada. Estes inovadores artefatos também atraem a atenção de especialistas em computação. Em uma conferência de piratas da informática, realizada no mês passado na cidade de Las Vegas, nos Estados Unidos, concluiu-se que praticamente todos os dispositivos computadorizados, incluindo esse tipo de vaso sanitário, podem ser vítimas dos hackers.
Um hacker norte-americano e 27 anos garantiu ao jornal The Wall Street que foi capaz de piratear um vaso automatizado e também fazer tocar sua música, tudo com um comando a milhares de quilômetros de distância. “Já não há nada sagrado no mundo”, comentou em tom de brincadeira um diplomata do Sul em desenvolvimento. “Nem mesmo a privacidade dos vasos sanitários”, acrescentou.
A Lixil Corporation explica que seus vasos sanitários automatizados ao controlados por sensores. Assim, o vaso sanitário abre sua tampa, faz tocar música, descarrega a água e fecha a tampa automaticamente, reagindo aos movimentos do usuário. “O controle remoto faz soar sua música favorita, e no escuro o vaso é iluminado por uma luz tênue”, diz a publicidade deste vaso sanitário de luxo.
Consultada pela IPS, Clarissa Brocklehurst, especialista em água e saneamento, ironizou: “Digo apenas que é maravilho os gênios dos computadores se voltarem ao tema. Digo que defecam como o restante de nós”. Brocklehurst, ex-chefe de água, saneamento e higiene do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), disse que o ideal seria os especialistas em informática dedicarem essa energia e imaginação para melhorar a vida dos mais pobres. “As necessidades do setor de saneamento são enormes, e se necessita de inovações em tecnologias da informação”, acrescentou.
Enquanto os vasos sanitários automatizados se tornam uma realidade, o vice-secretário geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Jan Eliasson, expressou em julho sua satisfação porque os Estados membros designaram 19 de novembro como Dia Mundial do Vaso Sanitário, destacando que a celebração ajudará a conscientizar sobre a necessidade de todos os seres humanos terem acesso a saneamento adequado.
Eliasson afirmou que, apesar de haver progressos quanto aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, uma em cada três pessoas ainda não tem acesso a um vaso sanitário básico. Quase dois mil meninos e meninas morrem diariamente por doenças diarreicas que podem ser prevenidas. O mau saneamento e os fornecimentos de água inadequados são a causa de perdas econômicas acima de US$ 260 bilhões ao ano no Sul em desenvolvimento.
Eliasson insistiu que o saneamento adequado é uma questão de dignidade humana. “É inaceitável que mulheres corram o risco de sofrer violações ou abusos” quando tentam ter acesso a algum lugar com latrina. O vice-secretário geral também considera inadmissível que muitas meninas nos países pobres abandonem a escola porque as instalações carecem de saneamento básico. “Estou ansioso por trabalhar com todas as partes para tornar realidade o saneamento para todos”, afirmou.
Por sua vez, Margareth Batty, diretora de políticas e campanhas da organização WaterAid, alertou que os países mais pobres continuam sofrendo o peso das doenças e mortes causadas pelo mau saneamento. Batty ressaltou que 700 mil crianças menores de cinco anos morrem anualmente devido à falta de água e higiene adequada. Ela exortou os líderes da comunidade internacional a trabalharem por uma mudança e fazer com que todas as pessoas tenham acesso a serviços essenciais até 2030. Envolverde/IPS