Evento internacional aborda o tema na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar); inscrições de trabalhos vão até 31 de março
Das mais de 100 mil escolas rurais que existiam em 2002 no Brasil, 17 mil foram fechadas. Isso representou, nas regiões Sul e Centro-Oeste, uma redução de mais de 39%, seguidas pela região Nordeste (22,5%), Sudeste (20%) e Norte (14,4%). Neste mesmo período, o número de matrículas reduziu de 7,9 para 6,6 milhões de educandos, o que representa mais de 1,2 milhão de pessoas sem escola ou obrigadas a estudar nas cidades.
Dados de 2014 apontam que entre os jovens das 923.609 famílias que viviam em 8.763 assentamentos no Brasil, 15,58% não foram alfabetizados; 42,27% cursaram apenas até a antiga 4ª série; 27,27% concluíram o ensino fundamental; 7,36% fizeram uma parte do ensino médio e 6,04% concluíram a Educação Básica. A falta de incentivo e de estrutura justificam esses números.
Nas escolas rurais, via de regra, alunos de diversos anos assistem aula em uma mesma classe e professores exercem todas as funções da escola. Normalmente, os estudantes se deslocam de ônibus e percorrem grandes distâncias até a escola. Em alguns casos, permanecem mais tempo no caminho do que na sala de aula.
Segundo o professor Marcos Cassin, docente da Universidade de São Paulo (USP) e integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Educação no Campo (Gepec) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), por se tratar de uma população bastante dispersa, os governos investem pouco na construção de escolas no local de moradia ou próximo a ela, pois é mais barato arcar com o transporte. “Usar a política de deslocamento dos estudantes para as cidades, orientado pelo que é mais barato, deixa de atender o direito a educação com qualidade e equidade para todos”, afirma o especialista.
O professor Luiz Bezerra, docente do Departamento de Educação (DEd) da UFSCar, coordenador do Gepec e do curso de Pedagogia da Terra da Instituição, conta que a luta por uma educação específica para as pessoas que vivem no meio rural é do início do século XX, mas foi a partir da década de 1990 que ganhou força com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). “Os movimentos sociais têm lutado por uma educação específica e, por meio do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária, conseguiram vários cursos, como Direito, Pedagogia, Agronomia, dentre outros. Hoje 40 universidades têm cursos de licenciatura em educação do campo”, comemora Bezerra.
Cassin recorda que a partir de 1990 as empresas rurais também passaram a reivindicar capacitação. “Mecanizaram e reestruturaram a produção extinguindo postos de trabalho em que havia baixa ou nenhuma escolaridade dos trabalhadores, então passou a ser de interesse do capital encontrar trabalhador qualificado. Por isso é que educação de qualidade é uma luta de toda a sociedade e não só da população rural”, defende o professor da USP.
Para Bezerra, o grande desafio é interromper o fechamento e criar novas escolas no campo com toda a infraestrutura necessária. “Quase não há computadores, bibliotecas, laboratórios nas escolas rurais”, relata o docente da UFSCar. Segundo Bezerra, a academia, além de formar profissionais para essa área, pode colaborar denunciando a atual situação dessas escolas, elaborando pesquisas e propondo soluções, já que as políticas estatais, mesmo quando sofrem pressão, não contemplam todas as necessidades. “As elites tradicionais jamais atenderam às reivindicações da classe trabalhadora”, afirma o professor.
SEMGEPECVisando reunir pesquisadores da área e trocar experiências para avançar nas ações e lutas relacionados a educação no campo, entre os dias 26 e 28 de julho de 2017 acontecem simultaneamente na UFSCar o I Seminário Internacional e o IV Seminário Nacional de Estudos e Pesquisas sobre Educação no Campo. Serão discutidas as políticas educacionais para o meio rural, sob o panorama geral da educação no campo no Brasil e na América Latina, com destaque para Cuba e Colômbia. A questão da dominação de classes também será tratada. Os professores Luiz Bezerra e Marcos Cassin já confirmaram presença e serão palestrantes na Conferência de Abertura. “É a possibilidade de termos um quadro da educação no campo e orientarmos nossas práticas profissionais, sociais, culturais e principalmente políticas na luta por soluções dos graves problemas da educação no campo”, explica Marcos Cassin.
Os interessados em apresentar pôsteres, resumos expandidos, relatos de experiência e trabalhos completos podem se inscrever até o dia 31 de março, por meio do site www.semgepec.ufscar.br. Ouvintes podem se inscrever até o início do evento.