CHÁVEZ E LULA

A sina de Luís Inácio Lula da Silva começou em plena campanha eleitoral, em 2002, quando quis se mostrar "maduro" aos brasileiros. FHC lançou a isca, o Brasil estava prestes a quebrar e Lula foi sorridente ao Palácio do Planalto assinar uma carta de intenções com o Fundo Monetário Internacional, que amarrava o Brasil e seu futuro governo, mesmo que, à frente, tenha se libertado do compromisso. Pagou um preço.

Se viu na contingência de aprovar reformas constitucionais que nada tinham a ver com a história de seu partido, a sua história, os compromissos assumidos em praça pública. Transferiu o esquema de alianças de FHC para seu governo e vive a situação de ter sido pego pelo pé na armadilha tucana que é apenas a reação dos setores mais retrógrados da sociedade brasileira a qualquer avanço, nem que seja acréscimo de centavo ao ganho da classe trabalhadora.

Hugo Chávez começou sua carreira política com uma insurreição contra o governo de Carlos André Perez, em 1992. Tenente coronel do exército, à frente de 300 seguidores tenta depor o governo de Perez que, em seu segundo mandato, anuncia medidas neoliberais rechaçadas pela população em grandes manifestações públicas.

Lula nasceu no sindicalismo.

O venezuelano passa dois anos na cadeia e no governo de Rafael Caldera, com os partidos e instituições venezuelanas falidos, funda um movimento político e é eleito presidente, em 1998 e assume o governo em 1999, promovendo a ruptura com o velho modelo que há quarenta anos se mantinha intocado (desde a derrubada de Perez Jimenez) numa espécie de revezamento entre os dois principais partidos do país.

Convoca um referendo para definir uma nova constituição, vence com mais de 70% dos votos, elege 120 de 131 constituintes, extingue o Senado, tem a constituição aprovada por um percentual também superior a 70% e se reelege presidente da República, dando início a políticas de implantação do que chama "movimento bolivariano", ou o "socialismo do século XXI".

Enfrenta um golpe de estado em 2002. É preso numa quinta-feira, no domingo retoma ao palácio do governo com milhões de venezuelanos exigindo nas ruas sua volta e enfrentando os golpistas sob comando de Washington. O documentário A REVOLUÇÃO NÃO SERÁ TELEVISIONADA exibe cada detalhe desses quatro dias e mostra a descarada intervenção dos EUA. E sua cumplicidade com as elites e a mídia de mercado venezuelana.

De volta ao poder submete-se a um referendo sobre seu governo em agosto do mesmo ano, 2002, vence por maioria absoluta, o que leva Jimmy Carter (ex-presidente dos EUA) a declarar na condição de observador das Nações Unidas que "é, os venezuelanos querem Chávez".

Reeleito sucessivamente para a presidência o tenente coronel Hugo Rafael Chávez Frias torna-se o centro político da resistência latino-americana (notadamente dos países sul-americanos) às políticas colonialistas dos EUA.

Erradica o analfabetismo, implanta um programa de moradias populares, leva saúde de boa qualidade à população de baixa renda (com auxílio do governo de Cuba do qual se aproxima e se torna o principal aliado na América Latina), promove a reforma agrária e transforma a principal riqueza venezuelana, o petróleo - o país é um dos maiores produtores mundiais - em instrumento de justiça social.

Lula, ao contrário, deixa de lado os compromissos, a história, alia-se a figuras como José Sarney, inventa uma fórmula absurda de "capitalismo a brasileira", equilibra-se em alianças com latifundiários, ignora a corrupção no governo FHC, não toca nas privatizações, cria um "coronel" eleitoral o programa Bolsa Família, com freqüência liga a seta do governo para a esquerda e vira à direta, assenta-se em seu carisma e cumpre dois mandatos de presidente sem que as estruturas políticas e econômicas do País tenham sido sequer tocadas de leve.

Nesse equilibrismo elege a economista Dilma Roussef para sua sucessora (escolha por exclusão) e se vê às voltas com denúncias (sem análise de mérito) partidas dos mais variados setores das elites políticas e econômicas do Brasil, todas veiculadas pela mídia de mercado (monopólio no qual não tocou, ao contrário de Chávez que enfrentou o desafio), neste momento é o alvo principal dos setores mais atrasados que se conhece em nosso País e todos, curiosamente, a exceção da mídia, aliados do governo Dilma Roussef em sua chamada base parlamentar.

A crise econômica ronda o País, já estamos vendendo commodities, as políticas de arrocho salarial são marcas de Dilma, sustenta-se a presidente na esteira do prestígio de Lula, a fantasia vendida em forma de Bolsa Família e num governo confuso, em que idas e vindas reforçam o tecnicismo de suas decisões e a crueza de suas políticas econômica e social.

Um câncer colocou Lula em risco. Um câncer ameaça Chávez reeleito em meses passados para um novo mandato. Está em Cuba para uma nova cirurgia.

O futuro do Brasil? São mínimas as diferenças entre Dilma e qualquer líder tucano, Aécio por exemplo, no caso de uma volta dos tucanos ao poder. Marchamos para um sistema em que dois partidos dão mostras que vão dividir o poder enquanto puderem sem tocar na essência dos problemas que afligem o Brasil e os brasileiros e nos tornam cada vez mais dependentes de tudo.

Chávez?

A América Latina aguarda o desfecho de todo o processo que abala a saúde de Chávez com a certeza que ali está a saúde da América Latina e particularmente da América do Sul.

A Venezuela hoje ocupa a liderança indiscutível de uma América Latina livre e soberana, capaz de andar pelas próprias pernas. O Brasil é apenas parte do plano GRANDE COLÔMBIA, processo de recolonização posto em prática pelo capitalismo.

Nada mais que um entreposto desse sistema.

Lula mergulha em denúncias que reais ou não são produto de suas debilidades, de seus malabarismos, de sua ruptura com a história de seu partido, de seus compromissos, de sua história. Vai sendo apagado no Brasil a despeito do esforço para se mostrar sobrevivente e capaz de influir em decisões capitais, mas à custa de alianças com figuras abomináveis como Paulo Maluf.

Chávez é a esperança que a América Latina e os governos livres dessa parte do mundo (Rafael Corrêa no Equador. Cristina Kirschner na Argentina. Evo Morales na Bolívia. Raul Castro em Cuba. Pepe Mujica no Paraguai) não sejam engolidos como foram Manoel Zelaya em Honduras e Fernando Lugo no Paraguai.

É diferença entre um e outro. Entre a fidelidade aos compromissos políticos e o equilibrismo de um País, o Brasil, que começa a beirar a falência absoluta de suas instituições e entrar na zona de risco dos golpes brancos, a nova moda do capitalismo para impor seu modelo cruel e perverso. A barbárie agora vem via mídia, mas se preciso for, vem via drones.

Chávez manteve e fez crescer sua estatura. Lula apequenou-se.

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