Coronelão da política à moda antiga, deu sustentação parlamentar à ditadura de 1964/85 enquanto lhe foi conveniente.
Como bom arenoso (1), disse amém a todas as arbitrariedades e atrocidades.
Quando o regime militar já fazia água, pulou fora: compôs-se
com os oposicionistas consentidos, pegou carona na candidatura presidencial
de Tancredo Neves pela via indireta, foi eleito vice-presidente do Brasil sem
um mísero voto dos eleitores e tirou a sorte grande com a morte do titular.
O que fez com a Presidência que herdou sem merecer?
Apoiou a convocação da Constituinte, mas omitiu-se totalmente
dos esforços para se gerar uma boa Carta Magna. Sua única prioridade,
o tempo todo, foi evitar que reduzissem a duração do seu mandato
presidencial. O resto que se danasse.
Deu aval aos mais esdrúxulos experimentos econômicos, cujo resultado
concreto foi o recorde brasileiro de inflação: estava chegando
a 100% ao mês, no final do seu catastrófico governo.
E desperdiçou a oportunidade de, nas águas da redemocratização,
dotar o Brasil de uma verdadeira anistia política, em substituição àquela
que os militares nos enfiaram goela adentro para lhes servir como habeas corpus
preventivo.
Gerou o fenômeno Collor, reação óbvia do eleitorado
ao total descrédito que o Governo Sarney acarretou para a classe política.
Assim, a disputa acabou se travando entre dois outsiders , já que aqueles
que vinham mandando nos destinos do País ficaram com a reputação
em frangalhos.
A do próprio Sarney, então, tornou-se tão negativa que
ele até teve de mudar fraudulentamente seu domicílio eleitoral
para conseguir uma cadeira senatorial.
Continuou a mediocridade de sempre, na política e nas letras, até o
surgimento de provas irrefutáveis das graves irregularidades que cometeu
ou consentiu como presidente do Senado.
Só deixou de ser expelido porque Lula, com enorme desgaste pessoal,
atirou-lhe uma bóia. Esta será sempre lembrada como uma das piores
decisões do ex-metalúrgico que, de perseguido pela ditadura,
passou a protetor de um serviçal do regime militar.
Agora Sarney, utilizando sua
coluna na Folha de S. Paulo (foram feitos um para o outro!), confessa
que tentou convencer o então presidente estadunidense Ronald Reagan
a meter o nariz nos assuntos bolivianos, da mesma forma como atualmente prega
que o Brasil meta o nariz nos assuntos paraguaios:
"O chamado Exército do Povo Paraguaio não pode se transformar numa Farc ou num Sendero. Com determinação e força, o Brasil deve ajudar o presidente Lugo a manter a ordem no seu país e não permitir jamais que nossas fronteiras sejam violadas, para evitar essa conjugação infame de guerrilha com narcotráfico".
Ou seja, os leopardos nunca perdem as pintas: quase meio século depois,
Sarney continua com a mesmíssima mentalidade de quando lambia as botas
dos fascistas.
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1 integrante da Arena, o partido que fingia ser situação
no regime militar, enquanto o MDB fingia ser oposição. Na verdade,
o real e único poder estava na caserna.
*Jornalista e escritor, mantém os blogues
http://naufrago-da-utopia.blogspot.com/
http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com/