Produção fará testes para o papel da protagonista
Rio - Raquel Pacheco passou do riso ao choro, em poucos minutos, ao reviver os tempos em que atendia como Bruna Surfistinha. A espécie de regressão foi feita em entrevista a Marcus Baldini, diretor do longa-metragem 'O Doce Veneno do Escorpião', baseado no best-seller escrito pela ex-garota de programa. "Foi uma terapia. A entrevista foi filmada e a idéia é que possa ser um extra quando o filme sair em DVD", adianta-se Bruna, aliás, Raquel. Em seu blog, a ex-garota de programa briga contra os que criticaram a decisão do Ministério da Cultura de liberar a captação de quase R$ 4 milhões, por meio de leis de incentivo fiscal, para rodar o filme. A liberação — a verba corresponde ao orçamento de filmes como 'Saneamento Básico' — saiu no Diário Oficial segunda-feira passada.
Empreitada da produtora TV Zero, que comprou os direitos do livro pouco depois de seu lançamento, o filme sobre a ex-prostituta que fez fama através de um diário na Internet está sendo roteirizado. "A história está quase pronta, mas ainda não tive acesso para eu dar meu ok", diz Raquel, que conta ter se 'aposentado' depois de fazer programas por três anos e oito dias.
Ela avisa que o filme será "mais completo e complexo que o livro". "Terá mais cenas relativas à prostituição, mas não pode ser totalmente erótico. Essa é a grande dificuldade do roteiro, para classificar o filme para maiores de 14 anos, não de 18", explica.
Depois de passar pelas mãos do cineasta Karim Aïnouz (de 'O Céu de Suely'), o roteiro está sendo trabalhado pela escritora Antonia Pellegrino. "Participei da elaboração de um primeiro argumento, no ano passado. Mas minha agenda foi ficando muito cheia e não pude mais participar", conta Karim.
A autora do livro jura nunca ter imaginado ver sua vida virar filme. "Não me acho tão diferente assim e não vejo nada demais na minha vida. Mas com o livro percebi o interesse que desperto. Todos se interessam por sexo, mesmo os que não reconhecem que gostam de se aprofundar no assunto", teoriza.
Raquel chegou a sugerir Mel Lisboa para protagonista, mas agora prefere não interferir no elenco. "Vamos fazer teste com atrizes conhecidas e desconhecidas para o papel", adianta o produtor Rodrigo Letier, da TV Zero. "Mas tem que ser alguém que fique à vontade para fazer garota de programa", acredita Raquel, que acha "exagerado" o figurino de Camila Pitanga em 'Paraíso Tropical'. "Prefiro Capitu (Giovanna Antonelli em 'Laços de Família')". Palavra de quem entende.
ADOLESCÊNCIA FOI CONTURBADA
Como os direitos do livro foram vendidos para a produtora TV Zero, Raquel explica que sua participação no filme "é mais indireta", apesar de ter contribuído para o roteiro. "Eles vão mostrar minha adolescência conturbada, o dia em que fugi da casa dos meus pais. Fiquei com certo trauma depois de descobrir que era filha adotiva", descreve.
Raquel jura não fazer apologia da prostituição, mas acredita ter quebrado tabus por ser uma garota de classe média que assumiu essa posição. "Se fosse bom, não teria parado. Muita gente passou a respeitar a profissão depois do meu livro", acredita a moça, que espera atingir público ainda maior no telão. "Tem gente que não gosta de ler e se interessa por livro que vira filme".
