Contato para apresentações e compra de CD: 22867580 e 25490977
Fazer roupas, escrever e cantar samba são as coisas que o carioca Walter Nunes mais gosta de fazer na vida. Dono de uma voz belíssima, assíduo frequentador de rodas de samba, do carnaval do Rio, da velha guarda, foi apelidado de Walter Alfaiate, em 1976, por Paulinho da Viola e Sérgio Cabral, e conseguiu, apesar de muitas dificuldades com os monopólios, gravar três cds, além de muitas participações especiais em discos de grandes nomes.
Walter Alfaiate nasceu em 1930 e por volta dos treze anos de idade começou a aprender a profissão de alfaiate, e ao mesmo tempo escrever suas primeiras letras de samba e cantar músicas de compositores conhecidos, e no final da década de cinquenta, já se apresentava no então famoso bar Bolero, em Copacabana.
— Minha mãe foi carnavalesca e gostava de cantar sambas. Fui me aprimorando cantando em bares, shows — diz.
Das composições de Walter Alfaiate, Paulinho da Viola gravou Coração Oprimido, Cuidado, seu orgulho te mata e A.M.O.R amor. João Nogueira gravou Bate boca; Sorrir de mim foi Elza Soares e Cristina Buarque que também gravou Violão amigo, entre outros artistas. Seu primeiro CD solo foi gravado através de um selo de Aldir Blanc, em 1998.
— Paulinho da Viola teve grande influência na minha carreira, porque me chamou para fazer um show com ele em um teatro, em 1976, que também saiu em CD. Conheço Paulinho e sua família há muito tempo. Sempre que me convidavam eu aparecia nas rodas de samba em sua casa — conta.
Walter frequentava muitas rodas de samba, inclusive foi em um almoço na casa de Clara Nunes que ele conheceu Aldir Blanc.
— Ele me ouviu cantando e me perguntou porque eu não gravava. Respondi que não tinha oportunidade, então ele afirmou: 'Você vai gravar'. Eu guardei aquilo e realmente ele cumpriu sua promessa. O Aldir ficou tão inconformado por eu não gravar, que na época do jornal Pasquim publicou uma nota, que eu tenho guardado até hoje como relíquia, dizendo que não sabia porque eu não gravava, já que tinha uma voz formidável. Além do disco, participei com ele do show que comemorou os seus cinquenta anos, no Canecão, no Rio — fala emocionado.
CDs e participações
O segundo e terceiro CDs de Walter foram gravados em São Paulo, também de forma independente. Além de suas composições, Alfaiate canta músicas de grandes nomes do samba. Sua preferência é pelo samba sincopado. Em seu repertório estão: Ciro Monteiro, Monarco, Nelson Sargento, Paulo César Pinheiro, Paulinho da Viola, Geraldo Pereira, Mauro Duarte, Zé Ketti, e muitos outros.
— Além dos CDs, fiz participação especial nos discos Casa de Samba Número 3, cantando com Leila Pinheiro, e no Número 4, cantando com Dorina. Gravei participação no disco do cavaquinista Galote, e recentemente no DVD Cidade do Samba, do Zeca Pagodinho, que está sendo lançado, cantando Jura, de Sinhô, com Negra Li — diz.
Walter Alfaiate já participou também do Terreirão do Samba e compôs sambas-de-enredo. Fez apresentações nos arcos da Lapa, no carnaval, e esteve recentemente fazendo shows na Bahia. Antes de gravar seu primeiro CD, se apresentou nas noites do Rio sozinho, acompanhado de outros sambistas e chegou a ter três conjuntos de samba, cada um deles com cinco componentes.
— Foram Os autênticos, Reais do Samba, e Samba Fogo. Fiz apresentações por muito tempo em uma galeria em Copacabana, onde todas as segundas-feiras, na década de sessenta, tinha uma roda de samba, frequentada, entre outros, por Zé Ketti — lembra.
— Nesses conjuntos eu tocava reco-reco e tamborim e todos nós cantávamos. Nenhum além de mim conseguiu gravar disco. Eu inclusive gravei algumas músicas desses meus companheiros nos meus CDs — acrescenta.
Botafogo era um local de samba
Walter Alfaiate é de um tempo em que havia muitos bares com música ao vivo pela cidade, e muita gente cantando samba autêntico, MPB, tocando choro, rodas de samba e choro em vários bares. Nasceu e viveu quase toda a sua vida em Botafogo, zona sul do Rio, mesmo bairro onde nasceu Paulinho da Viola e onde viveram outros nomes do samba. Desde muito jovem Alfaiate frequentava as rodas de samba, botequins e as gafieiras que existiam no bairro.
— Botafogo não é mais o mesmo. Os bares viraram oficinas mecânicas. Eu costumo dizer que se ganhasse um bom dinheiro não moraria na Barra, porque é um local que não tem um boteco pra pessoa 'bater um papo', pedir uma cerveja, cantar um samba. E botafogo está ficando assim — diz. — Na rua Rodrigo de Britto tinha um bar chamado 'Fofoca' que os sambistas frequentavam no final da noite pra 'bater papo' e cantar. Paulinho da Viola apareceu por lá várias vezes. Também tinha o Leonel Azevedo que fazia valsa. Enfim, o pessoal tocava violão, cantava e quando percebia já tinha amanhecido — lembra com saudade.
Alfaiate é um apaixonado por Botafogo e por seus amigos, tanto que idealizou no bairro uma praça em homenagem a Mauro Duarte, compositor e seu grande parceiro de sambas. A Praça Mauro Duarte, na rua Fernando Guimarães, está lá e é seu sonho transformado em realidade. Além da praça, o seu terceiro CD é todo de composições suas e de Mauro Duarte.
Por muitos anos teve alfaiataria no bairro, depois se mudou para a Lapa e anos depois para Copacabana onde está até hoje .
Alfaiate por vocação
Durante toda a vida e até hoje Walter trabalha como alfaiate enquanto canta nas noites, compõe e grava discos. Diferente de muitos artistas que tiveram uma profissão paralela para poder sustentar a família somente, sem nenhum afeto especial por esta, Walter se diz um apaixonado pela sua profissão de alfaiate e não pretende deixar de costurar, se dizendo um 'alfaiate por vocação'. Ele já costurou para sambistas conhecidos, como Paulinho da Viola, Monarco e Nelson Sargento.
— Eu sempre gostei de costurar, desde garoto. Ninguém da minha família me influenciou. Naquela época os alfaiates trabalhavam de porta aberta em lojas de beira de rua. Eles ficavam engravatados, pareciam executivos, eu achava bonito. Na primeira oportunidade que tive, comecei a aprender — explica.
No momento Walter Alfaiate está atuando, mesmo com dificuldades, em sua alfaiataria, se apresentando nas noites do Rio e outros estados, e se prepara para o seu quarto CD que deverá ter somente composições bem antigas, sambas que cantava quando começou na carreira.
— São sambas sincopados de Ciro Monteiro, Roberto de Oliveira, Caco Velho e outros cantores, que estou selecionando. Tenho certeza que será um sucesso. A minha intenção é fazer essa mocidade conhecer melhor o samba — fala com orgulho.