No dia 12 de janeiro, Luiz Inácio Lula da Silva sancionou o
projeto de lei de sua própria autoria em prol da construção da
Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA). A
cerimônia ocorreu no Centro Cultural Banco do Brasil em Brasília,
Distrito Federal.
O presidente assinou o documento em dezembro de 2007, mas este só foi aprovado dois anos depois pelo Congresso Nacional.
A concretização da idéia caminha muito mais rápido que o tempo que levou sua aprovação, uma vez que a previsão de início de turmas é para o segundo semestre de 2010. A previsão é de incorporar dez mil estudantes em cinco anos cuja formação se enquadre dentro de um projeto de integração latino-americana.
Algumas das ofertas de cursos de graduação serão: Sociedade, Estado e Política na América Latina; Relações Internacionais e Integração Regional; Comunicação, Poder e Mídias Digitais; Tecnologia e Engenharia das Energias Renováveis; Gestão Integrada de Recursos Hídricos; Interculturalidade e Integração. Estas propostas interdisciplinares respondem a um contexto de integração e, pela seleção dos temas, é improvável que sejam alvos da modalidade de ensino a distância, que inibe a proximidade e o debate numa sala de aula.
A criação desta instituição de ensino superior é produto de um fôlego secular. O murmúrio da integração não se pode ouvir até que alguém levante o tom da voz.
O cenário é curioso: um livro importado da península Ibérica pode custar mais barato que um similar de país vizinho; há dezenas de canais de televisão por cabo de conteúdo estadunidense nos pacotes ofertados no Brasil, alguns sem dublagem ou legenda, porém nenhum da Argentina, Paraguai ou Venezuela. A proposta de Lula justifica que, nalguns setores do desenvolvimento, a integração aproxima os povos da América Latina.
A UNILA é uma novidade na categoria porque, apesar do financiamento federal brasileiro e da localização do prédio no lado de cá, as aulas serão em espanhol e português, 50% dos professores serão brasileiros e a outra metade provirá dos países da região, 250 professores serão efetivos e outros 250, visitantes.
O reconhecimento das diferenças expande a nossa capacidade de auto-conhecimento e consciência de lugar no mundo. Algum dia a ficha dos nossos governantes teria que cair. Uma ficha que não tivesse inscrito cents, dollars ou euros. Destas já estamos fartos.
O presidente brasileiro atingiu, ao longo das duas gestões, um recorde nacional com a criação de treze universidades federais, o que ultrapassa a cifra anterior alcançada por Juscelino Kubitschek de dez instituições. A educação tem sido tema de destaque nas discussões nacionais.
Lula ainda propôs, para esquentar o tema da integração, um parlamento comum e uma moeda única entre os países da região do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL). O cenário de crise econômica mundial, desvalorização do dólar e intervenção impudente dos Estados Unidos na América Latina (acordo de uso de bases militares na Colômbia, apoio tácito ao golpe militar em Honduras e envio de tropas militares abundantes em vez de médicos ao Haiti) favorecem estas propostas.
As conquistas no âmbito da educação e da integração são visíveis, embora o Brasil derrube lágrimas do outro olho quando limpa a que caiu do primeiro. Uma conquista costuma encobrir uma mazela na proporção de um para um. O mérito maior do episódio é o de aliar avanços na expansão de universidades públicas a projetos de integração regional. Somos vizinhos que mal nos conhecemos.
Bruno Peron é analista de América Latina e Relações Internacionais.