As tragédias das enchentes são todas construídas no dia-a-dia de nossas cidades, desde a mão que joga o lixo no chão, que vai, bueiro abaixo, entulhando os canais de escoamento, até a mão da administração omissa, que prefere ignorar as obras subterrâneas de esgotamento sanitário e galerias fluviais, em detrimento das obras exposta à céu aberto, à olhos vistos. Tudo, na visão eleitoreira de quem escolhe entre as tragédias de seu povo e o possível sucesso eleitoral.
É preciso entender que o prejuízo de uma enchente é o atestado oficial de uma gestão distante dos verdadeiros anseios de sua comunidade, de uma administração incompetente, sem capacidade para corrigir os erros mais primários da urbanização dos pequenos e grandes centros urbanos de nossas cidades. Enquanto isso, das janelas das prefeituras de Minas e do Brasil, alguns contabilizam os estragos que as enchentes causaram, enquanto a chuva caia devagar.
Depois de recolher os cacos, é preciso começar os trabalhos, recomeçar a vida além do ponto em que paramos. É preciso vislumbrar mudanças, aprender com os erros, seguir em determinado progresso.
Enxugar a água e apenas retirar a lama, sem corrigir as causas dos desastres; dos deslizamentos de terra; da não vazão da enxurrada; dos transbordamentos dos rios; é estender no varal do tempo o lenço para enxugar as próximas lágrimas, fruto de muito sofrimento, tristezas e dor.
O tempo não para e as próximas chuvas já tem o seu dia marcado para chegar, gerando prejuízo para o Estado, para o município e para a população. Se nada for feito pelas prefeituras, ela ceifará vidas, destruirá esperanças e afogará sonhos.
É preciso corrigir isso, é preciso investir no mais barato, no mais viável, e realizar o trabalho necessário para que a vida continue tranqüila e aprazível nas cidades brasileiras. Afinal, a nossa vida não é tão besta assim!
Petrônio Souza Gonçalves é jornalista e escritor
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