O paradoxo existencial corresponde à angústia inerente ao ser humano provocada por seu alvedrio. O homem possui a atraente capacidade de escolher o que fazer ou não, mas para toda escolha que faz necessita responsabilizar-se pela repercussão de suas conseqüências, pois toda liberdade carrega uma carga de responsabilidade e, por isso, angústia. Por exemplo, quando um bebê nasce ele é completamente dependente dos cuidados maternos. À medida em que se desenvolve, conquista autonomia e liberdades, mas também adquire cada vez mais responsabilidades. Um jovem, quando arruma o primeiro emprego, fica extasiado por sua independência financeira e pela importância de uma ocupação útil à sociedade; no entanto, também fica assustado com o peso dessa responsabilidade e pressão para administrar bem seu salário e sua vida. Uma pessoa doente perde um pouco de liberdade devido à limitação imposta pelo distúrbio, porém pode sentir-se aliviada de certa forma por não precisar preocupar-se com tantos problemas e pressões sociais.
A função social do excesso é a de iludir a pessoa com a sedução da facilidade de se sentir protegida e garantida, confortada e acomodada com alguma certeza que não ameaça qualquer risco de perda justamente por ser excesso, não acaba. Também pode ser visto pela ponta da falta, excesso de falta. O excesso gera ilusão e vice-versa. A pessoa está iludida quando toma a parte do conjunto como todo e considera apenas um lado da relação. Onde há excesso há falta. Se numa relação há excesso de opressão de um lado, por outro lado há falta de respeito e consideração. Onde há muita dominação e coação, falta cooperação, co-construção e colaboração. Na relação em que predomina disputa de poder, há excesso de competição e busca de auto-afirmação; provavelmente também falta auto-referência e auto-estima, pois o primeiro Outro da pessoa é ela mesma. Se não se consegue se estimar, como vai querer estimar outra pessoa? A ‘política da certeza’ e do excesso na sociedade é favorável a um pequeno grupo de pessoas, detentora dos meios de comunicação, da maior parte da riqueza e poder produzidos pela população. Assim, essa minoria consegue manter a maioria alienada da realidade social e iludida pelas receitas prontas e fáceis oferecidas na esquina para resolver os seus problemas.
*Escrito em Março de 2001
Tania Montandon
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