Com o desenvolvimento da sociedade, novos interesses ganharam espaço na vida comum, incluindo-se, notadamente, a posição social que tantos aspiram atingir. A partir dessa perspectiva, os meios que deveriam servir para se alcançar a sobrevivência, mesclaram-se com o status quo, e, em vários casos, resultou o exagero. Por exemplo, a moradia (meio) para a proteção (fim) pessoal e familiar, tornou-se a finalidade em si mesma, haja vista muitas pessoas se predisporem mais a conquistá-la para a satisfação das aparências sociais do que propriamente para a sua segurança – ainda que não se perceba -, pois as dimensões arquitetônicas e os padrões de luxo servem, consideravelmente, de modo estatisticamente comprovado, para atrair o perigo do roubo e, nos casos extremos, da morte.
Entretanto, o autoengano faz o seu autor alegar que só se quer maior conforto e segurança, e que, infelizmente, alguns assim não o permitem. Porém, equivale dizer que há efeito sem causa. Reação sem ação. É prudente lembrar que quem pretende chamar a atenção da sociedade para a sua abundância, atrai não apenas àquele do seu interesse, mas a outros cujo objetivo é perigosamente distinto... Ainda: verifica-se que mesmo que a troca do fim pelo meio salte aos olhos, a cegueira causada pela autoilusão impede de se observar criticamente tal equívoco, e faz, ainda, concluir-se, de forma imperativa, que morar modestamente é pouco, e que a riqueza simboliza inteligência superior. Será mesmo?
Portanto, ao invés de tentar reduzir as chances de sofrer os perigos através da ponderação e da modéstia, age-se contrariamente à lógica da segurança, erguendo enorme chamariz por meio da irrefletida necessidade da opulência. Não se aprecia sequer que houve uma alteração do fim pelo meio, e que a simples sobrevivência foi engolida pela complexa dimensão da aparência e da satisfação acerca da localização na pirâmide social. Não é arriscado demais?
É claro que há lugares ao redor do mundo onde a segurança se mostra melhor instalada. Não obstante, inexiste a garantia de que se perpetue tal proteção, pois o descuido é filho da acomodação, e somos sempre tentados a tal relaxamento. E mesmo nos casos em que aparentemente a segurança encontra-se em alta, a realidade impõe-se inexorável. Logo, emerge uma pergunta: Nas atuais condições sociais, não se anda na contramão do bom senso ao mostrar grandeza (e gastar com ela) e se expor tão abertamente?
*Armando Correa de Siqueira Neto é psicólogo (CRP 06/69637), diretor da Self Consultoria em Gestão de Pessoas, palestrante, professor e mestre em Liderança pela Unisa Business School. Coautor dos livros Gigantes da Motivação, Gigantes da Liderança e Educação 2006. E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.