A crise financeira e o aquecimento global

A conversa do momento é a crise financeira internacional. O susto ainda não passou e o debate sobre o tema anda quente, inclusive com propostas de reforma do sistema financeiro internacional. Parece que não é só no meio ambiente que as coisas têm que mudar, mas também no mundo virtual das bolsas de valores.
E o que tem a ver o aquecimento global com a atual crise financeira?
Além de ambos estarem relacionados ao padrão de consumo das sociedades, capital especulativo polui, não tem caráter e é anti-ecológico. No fundo no fundo, fazem parte da mesma crise existencial consumista do homem sobre a face da terra.

Mas o que preocupa, no curto prazo, além da crise em si, são as possíveis revisões nas metas de investimentos para desenvolvimento de tecnologias limpas dos países comprometidos com suas emissões, já que estão desembolsando bilhões de dólares para enfrentar a atual situação, estando implícito cortes futuros. Onde serão?
Será que vai sobrar pro aquecimento global, e as já insuficientes metas de mitigação estabelecidas pelos países poluidores? Itália e Polônia já ensaiaram um pedido de afrouxamento de metas.
A China, que de 1998 a 2002 investiu 83 bilhões de dólares em proteção ambiental, vinha anunciando um plano para a reforma de seu parque industrial, eficiência energética e substituição do carvão como matriz energética. Em 2007 os chineses lançaram o seu programa nacional de mudanças climáticas, e vêm aderindo às convenções internacionais, estando em andamento a implantação da Agenda 21.
No Japão, que ainda não viu suas emissões diminuírem apesar das promessas de redução de 60 a 80% de suas atuais emissões até 2050, vinha anunciando aumentar os  investimentos em tecnologia limpa em dez vezes até 2020, e quarenta vezes até o ano de 2030, além de capitanear um fundo internacional ambiental com a contribuição de 10 bilhões de dólares – os japoneses são os que mais investem em pesquisa, possuindo a tecnologia mais avançada no uso da energia solar. Emitem, cada Japonês, cerca de 6 kg de CO2 por dia, número que o governo quer baixar em 1kg/dia através de um amplo programa nacional voltado para o indivíduo, através de pequenas atitudes cotidianas, como redução em 1 grau nos aquecedores e ar-condicionados, redução de tempo de banho, direção correta etc.
A Alemanha anunciava metas de redução de emissões em até 20% até 2020, prometendo aumentar para 30% se outros o fizerem, e reduzir, até 2050, de 60 a 80%, as emissões de gases relacionados ao efeito estufa, os green-houses.
Outro exemplo interessante é o da Finlândia que está implantando o projeto mais inovador de todos, e que foca a questão ambiental a partir da questão comportamental, leia-se consumo. Um projeto para o gerenciamento da mudança da sociedade, com abordagem holística, perspectiva de longo prazo, consistência, compromisso por meio do envolvimento e construção de consenso, numa visão moderna do problema. Gerenciar as mudanças necessárias através de processos participativos intensos, garantindo a adesão da sociedade às medidas estabelecidas, é a simples e genial estratégia que os finlandeses pretendem adotar em seu esforço contra o aquecimento global.
E assim vai. Centenas de países vêm adotando medidas importantes, algumas inovadoras a reboque de suas populações que, através de movimentos comunitários, revisam seus comportamentos insustentáveis. De uma maneira mais abrangente, entretanto, a atual crise financeira traz, em boa hora, um recado, de que sem a reforma capitalista não se corrige as distorções atuais com relação ao clima, muito menos à segurança alimentar dos povos. Resta saber se vai haver retrocesso com relação aos poucos avanços conquistados até aqui. Os próximos dias dirão.


Fernando Marcelo Tavares
Jornalista e ambientalista

 

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