Há pouco mais de uma semana assistimos a um dos espetáculos mais tristes da história do país. Sob o apelo de combate à corrupção, a sessão da Câmara dos deputados, com poucas exceções, apresentou cenas bizarras, caracterizadas por comportamentos incompatíveis com o exercício do cargo legislativo. Uma amostra, ao vivo, da postura lamentável de boa parcela da nossa classe política. Democracia não é isso.
A começar pelo clima de festa, com fitas e bandeiras, as atitudes de muitos deputados destoavam do momento dramático que vive o Brasil e do tema central da sessão que estava em curso. O impeachment do cargo mais alto do Poder Executivo é para qualquer país motivo de preocupação e seriedade. O que está em jogo é a nação, seu crescimento, sua economia e todo seu povo que vem sofrendo as consequências de uma guerra política que parece não ter limites.
A deputada Raquel Muniz (PSD/MG), por exemplo, ao justificar o voto, exaltou que o Brasil tem jeito, associando a gestão do prefeito de Montes Claros, em Minas. Euforicamente, com bandeira em punho, repetiu seu voto em gritos, porém, ironicamente o destino foi rápido e, em 24 horas, o prefeito,seu marido, foi preso pela polícia federal.
Atitude desprezível foi do deputado Jair Bolsonaro (PSC/RJ) que ao revelar seu voto homenageou o Coronel Carlos Ustra, primeiro militar reconhecido pela justiça brasileira como torturador e que foi responsável direto pela tortura da Presidente Dilma.O deputado é exímio defensor da Ditadura Militar, mas o faz em instituições garantidas pela Democracia, inclusive protegendo-se sob Imunidade Parlamentar para proferir seu discurso de ódio.
Atos como o dele demonstram a fragilidade da nossa democracia, golpeada com um procedimento de impeachment sem comprovações claras de crime de responsabilidade. A bandeira do combate à corrupção volta a ser lastreada como razão para rupturas constitucionais, um torturador é exaltado na Câmara e as famílias, instituição privada, viram fundamentos para votos sobre bases fundamentais de instituições públicas.
A votação deixou estampado o frágil quadro democrático, com votos carnavalescos em um show comandado por Eduardo Cunha, ele sim, marcado como réu de diversos processos. É evidente que a solução não está no impeachment, mas em reformas de base e Reforma Política verdadeira, preservando e fortalecendo as instituições democráticas.
- João Tancredo*
- Colaboradores do Rebate