Agronegócio versus Greenpeace

A senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), em artigo “O verde que escraviza”, publicado no jornal Folha de S.Paulo, dia 3, faz duras críticas ao diretor-executivo do Greenpeace, o ativista sul-africano Kumi Naidoo, que participou recentemente do Global Agribusiness Forum, promovido por entidades do agronegócio do Brasil, dizendo em seu preâmbulo que “A liberdade é inarredável; um paraíso verde, cheio de escravos, é pesadelo com o qual não queremos sonhar”. E continuou criticando o diretor-executivo do Greenpeace acerca de sua veemência quanto às causas das mudanças climáticas e do uso inadequado das terras.
Liberdade é valor inarredável com o qual concordo. Mas há de haver um meio termo para os donos dos agronegócios brasileiros não  se julgarem no direito de transformar as suas propriedades produtivas apenas para saciar os seus ímpetos comerciais de enriquecimento sem se preocupar também com o pequeno produtor, com a produção de bens a preços razoáveis ao mercado interno e com a integridade do meio ambiente.
Acho que os desenvolvimentos tecnológicos não devem ser dificultados no emprego das propriedades voltadas ao agronegócio. Mas também acho que a preocupação com o meio ambiente – equilíbrio no manejo do solo e das derrubadas das florestas visando à produção de riquezas - deve obedecer a critérios que atendam harmonicamente aos interesses do agronegócio combinado com o devido respeito ao ecossistema.
Vejo o Greenpeace como importante movimento fiscalizador no atual quadro mundial das mudanças climáticas e de outras intervenções da ação do homem na Terra. Assim como, por exemplo, a Igreja Católica resiste tenazmente ao seu conservadorismo, para manter a essência de seu dogma espiritual, da mesma forma vejo com bons olhos o Greenpeace mostrar-se uma organização conservadora. E ela não poderia mesmo defender variedades de pontos de vista, porque senão não haveria razão de sua existência.
O alinhamento da senadora com as variedades de ponto de vista me faz remeter ao governo federal de Dilma Rousseff, no caso das Licitações Públicas, onde ela, para flexibilizar a forma corrupta de lidar com obras públicas, mandou para o Congresso Medida Provisória, que está em tramitação final no Senado, tornando definitivo aquilo que era para ser empregado apenas nas obras da Copa do Mundo de futebol.
O mundo precisa de alimentos. O Brasil com a sua grande extensão de terras tem tudo para ser um dos principais supridores. Mas é preciso que o empresariado ganancioso, que só visa ao lucro desmedido, não transforme o país num celeiro de monocultura objetivando apenas o mercado de commodities. Nós, aqui no país, precisamos de alimentação variada e barata.
O campo não pode se transformar em interesse apenas da monocultura do agronegócio de exportação. Com esse espírito empresarial especulativo de grandes lucros, temos hoje o mercado imobiliário nacional em plena expansão em grandes cidades brasileiras, onde a construção civil está desfigurando o meio ambiente e inchando as nossas urbes de aberrações verticais.

Júlio César Cardoso
Bacharel em Direito e servidor federal aposentado
Balneário Camboriú-SC

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