Projeto quer descobrir novos planetas em irmãs gêmeas do Sol

telescopio Projeto quer descobrir novos planetas em irmãs gêmeas do Sol
Telescópio localizado no Chile e pertencente ao European Southern Observatory (ESO). Foto: ESO: by Mercopress

Uma equipe de cientistas da USP, liderada pelo professor Jorge Meléndez, astrônomo do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) está à frente de um projeto que tentará descobrir novos planetas “perto” da Terra em torno de estrelas similares ao Sol. A iniciativa conta ainda com a participação de pesquisadores dos Estados Unidos, Alemanha e Austrália: o intuito é, durante 88 noites, a partir de um telescópio localizado no Chile e pertencente ao European Southern Observatory (ESO), descobrir novos planetas localizados a uma distância de 50-300 anos-luz. No projeto já foram encontrados dois candidatos a planeta a uns 110 anos-luz da Terra (cerca de 1000 trilhões de quilômetros).

“Esta pesquisa iniciou-se em 2005, quando a equipe analisou estrelas conhecidas como gêmeas solares, nome que foi dado por elas apresentarem características semelhantes ao Sol, já que possuem brilho, temperatura e aparência físicas parecidas com o nosso astro-rei”, conta Meléndez.

Em 2009, os cientistas descobriram que a composição química do Sol era diferente da de outras estrelas gêmeas e, ao aprofundar os estudos, notaram que o Sol apresentava deficiência de determinados elementos químicos, sendo que esses elementos são justamente aqueles usados para formar planetas rochosos.

A missão seguinte dos astrônomos foi calcular quanto desse material faltava à massa total do Sol e a conclusão foi que a deficiência constatada nessa estrela era da mesma ordem que a massa dos planetas rochosos do Sistema Solar, como Mercúrio, Terra, Vênus e Marte. ”Não foi apenas uma coincidência qualitativa em relação ao tipo de elemento químico que estava faltando ao Sol, mas também quantitativa”, afirma o professor do IAG.

Com base nessa descoberta, os pesquisadores passaram a procurar planetas ainda não conhecidos e que, eventualmente, possam estar em torno das tais gêmeas solares, estudando qual seria a relação entre as anomalias químicas de cada estrela, individualmente, e a presença de diferentes tipos de planetas.

Observações ampliadas

A continuação da pesquisa teve como foco uma dessas gêmeas, aquela que para todos os efeitos era a mais parecida com o Sol, mas não foi detectado nenhum planeta próximo dela; em outubro do ano passado, os cientistas ampliaram a observação das gêmeas do Sol para uma amostra de setenta estrelas, procurando por novos planetas.

“Não havia uma estimativa exata de quantos planetas poderiam ser descobertos nas gêmeas solares, o certo é que, em face deste conjunto de observações, as chances de descoberta são muitos boas, até devido ao fato de o instrumento que está sendo utilizado ter uma precisão extraordinariamente boa [é o melhor do mundo], o que pode permitir, inclusive, a detecção de planetas com dimensões reduzidas, apenas 50% maiores do que a Terra.”

Mas, qual é a importância para o Brasil em liderar estes estudos? Na opinião do professor Luiz Vitor de Souza Filho, docente do Grupo de Física Computacional e Instrumentação Aplicada do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP, cuja área de pesquisa é Astrofísica de Partículas, o IAG tem uma grande tradição na área de análises de dados em observatórios, sendo que nos últimos cinco anos o Instituto se fortaleceu, principalmente em recursos humanos altamente capacitados, em função dos dois observatórios que o Brasil construiu no Chile — O Gemini e o SOAR —, o que se traduziu num crescimento muito grande nas pesquisas efetuadas.

Sobre a importância de se buscar novos planetas que ficam a 110 anos-luz da Terra, o professor Souza Filho explica que, estejam eles a que distância estiverem, é sempre importante encontrar planetas que possam ter condições de gerar vida. “Quanto mais pudermos avançar nessa busca, maior é a chance de encontrarmos novos planetas e a finalidade é entender, por meio dessas eventuais descobertas, quais são as condições que deram origem à nossa vida, à vida na Terra; quais são as condições específicas que fazem um planeta gerar vida”, acredita. “Sabemos da existência de algumas destas condições, como a água, por exemplo, e de outros elementos que podem originar vida, mas quanto mais sistemas solares (estrelas e planetas) você conseguir estudar, maior será a chance de se entender quais são os parâmetros que dão origem à vida.”

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Grafico da distribuicao de distâncias. Foto: Jorge Meléndez

Para Souza Filho, a distância de 110 anos-luz é considerada curta, como se aquilo que procuramos estivesse na nossa vizinhança — que chamamos de “Universo Local”; mas essa distância é extremamente longa quando a medimos relativamente ao nosso sistema solar. “Acredito que este projeto que está sendo liderado pelo professor Meléndez poderá facultar a descoberta de muitos planetas. Há grandes possibilidades de sucesso com a utilização deste tipo de telescópio de 3,6m do ESO, e outros telescópios como o VLT – Very Large Telescope, de 8m, havendo já a intenção de se construir outro denominado E-ELT – European Extremely Large Telescope, ainda mais potente”, avalia.

O Brasil está tentando ser membro do ESO, embora ele seja estritamente dedicado aos países europeus. Apesar disso, o País já se candidatou a um lugar nessa organização e essa é uma discussão que está em pauta junto da comunidade científica brasileira, já que o preço para essa inclusão é muito elevado, na ordem dos milhões de dólares, mas relativemente pequeno considerando a descoberta de novos mundos pelo Brasil e o impacto que esse tipo de descoberta terá para alavancar o ensino de ciências no País.

Este projeto liderado pela USP está sendo financiado pelo próprio ESO, sendo que o mesmo se prolongará até 2015. “No entanto o projeto corre o risco de ser interrompido pois até agora o Brasil não confirmou a sua associação ao ESO, que depende da aprovação pelo congresso e está pendente desde dezembro de 2010″, avisa Meléndez.

A expectativa é que durante os próximos meses de Janeiro e Março de 2013, quando os cientistas embarcarem novamente para o Chile, haja a hipótese de se obterem dados para confirmar definitivamente o planeta, mas o anúncio da primeira descoberta de um planeta em torno de uma gêmea do Sol poderá levar ainda mais alguns meses, pois é necessário ter suficientes dados para caraterizar as orbitas e as propriedades dos planetas.

* Colaboração da Assessoria de Comunicação do Instituto de Física de São Carlos.

** Publicado originalmente no site Agência USP.

(Agência USP)
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