Mudança climática causa epidemia de alergia na Europa

Berlim, 16/06/2008 – A mudança climática está causando transtornos sanitários na Europa, devido a novas e prolongadas manifestações alérgicas, alertam as autoridades. A mais importante das "novas" alergias que afetam a saúde da população européia é a causada pela ambrósia comum (Ambrosia artemisiifolia), uma erva que desencadeia a chamada "febre do feno". A planta, que chega a um metro de altura, é nativa da América do Norte, mas foi levada à Europa há várias décadas, segundo biólogos e autoridades sanitárias da Alemanha. Devido às temperaturas mais altas dos últimos tempos, se propagou por este país, França, Hungria e Itália, entre outros. Seu pólen causa em muitas pessoas a febre do feno, que se caracteriza por espirros, nariz úmido, coceira nos olhos e fortes ataques de asma e conjuntivite. Também foram registrados casos de infecções cutâneas por contato com a ambrósia. "Como floresce no verão, e até outubro, está prolongando pelo menos em dois meses a temporada européia considerada normal de alergias", disse à IPS o meteorologista Thomas Duemmel, da Universidade Livre de Berlim. Para este especialista, outras plantas alérgicas, como a bétula , o avelaneiro e a castanha da Índia florescem no começo da primavera e até meados de maio.

Ao somar-se à ambrósia, a temporada de alergias começa em princípios de março e pode se estender até outubro. "As temperaturas mais altas aumentaram o período de floração de todas estas plantas, piorando as afecções alérgicas de milhões de pessoas", disse Duemmel. A proliferação da ambrósia é preocupante "porque uma única árvore pode produzir até um bilhão de partículas de pólen que, com a ajuda do vento, chegam a se espalhar por centenas de quilômetros", acrescentou.

"Temos de frear isto, porque a planta produz um dos polens mais alérgicos que se conhece", afirmou à IPS o biólogo Stefan Nawrath, especialista em ambrósia do Instituto para a Ecologia, a Evolução e a Diversidade, da Universidade de Frankfurt, 450 quilômetros ao sul de Berlim. "Dez grãos de pólen de ambrósia por metro cúbico de ar são suficientes para causar dores de cabeça, rinite e inclusive asma", acrescentou. O estatal Instituto Julius Kühn para a pesquisa em botânica informou que a ambrósia é "a planta da América do Norte que mais causa alergia";.

Em uma pesquisa, o Instituto afirma que, "devido ao seu florescimento tardio, é infértil em regiões mais frias do mundo, e, portanto não pode proliferar". Devido às altas temperaturas associadas à mudança climática, "é importante pesquisar quais condições climáticas tornam possível a fertilização das sementes de ambrósia", acrescenta. Estas preocupações sanitárias são tão sérias que várias agências de salubridade da Alemanha aprovaram um plano para exterminar a ambrósia. Em algumas regiões da França e da Itália, pelo menos 12% da população são alérgicos ao pólen da ambrósia. Além disso, "pode ser uma praga para a agricultura, porque reduzi a produtividade dos campos", explicou Nawrath à IPS. Na Alemanha, a incidência de alergias causadas pela mudança climática aumentou acentuadamente desde o pós-guerra.

Informes oficiais indicam que a porcentagem da população do ocidente da Alemanha que sofre da febre do feno ou de outras formas de polinosis passou de 20% entre os nascidos no período de 1942 a 1951, para 27% entre os nascidos de 1962 a 1971. a Sociedade Alemã de Alergologia e Imunologia vai mais além, pois estima que atualmente um terço da população do país sofre alguma forma de alergia. Em seu "Livro branco sobre alergias na Alemanha", a entidade afirma que estas enfermidades "aumentaram drasticamente nos últimos anos. Agora, as mortes causadas por asma alérgica são mais numerosas do que as causadas por acidentes de trânsito".

O aumento está necessariamente vinculado às mudanças no meio ambiente, disse Heidrun Behrendt, diretora de pesquisas sobre alergia e imunologia na Universidade Técnica de Munique, 500 quilômetros a sudeste de Berlim. "A predisposição genética às alergias não pode crescer substancialmente dentro de uma determinada população. Portanto, temos que buscar explicações para o aumento das doenças alérgicas nas mudanças ambientais", disse Behrendt em uma entrevista.

A especialista e sua equipe de pesquisadores descobriram que os sinalizadores celulares lipido-dependentes do pólen (conhecidos pela sigla alemã Palms) desencadeiam a doença ao provocar a interação entre o pólen alérgico e partículas químicas contaminantes presentes no ar, como as emitidas pelos meios de transporte. "Pudemos demonstrar que os grãos de pólen e os contaminantes do ar liberam Palms, e isso explica o aumento das alergias", disse Behrendt. Segundo o estudo, os Palms ativam as células infectadas e eliminam as células que permitem a imunização do organismo humano, abrindo caminho para as alergias. Isto explicaria o motivo de muitas pessoas sofrerem mais alergias em zonas de muita contaminação do ar, sejam aéreas com um intenso trânsito de veículos ou próximas de indústrias químicas. (IPS/Envolverde)

(Envolverde/IPS)

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