África do Sul se volta contra a tuberculose resistente

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Cidade do Cabo, África do Sul, 14/3/2014 – Apesar da melhora e da rapidez dos diagnósticos, a África do Sul sofre um aumento de tuberculose polifarmacorresistente (MDR-TB), pelo fato de poucos pacientes se submeterem ao tratamento. Entre 2007 e 2012, quase duplicaram os casos dessa doença, resistente a pelo menos dois dos principais medicandos contra a tuberculose.
A África do Sul melhorou sua capacidade para detectar a MDR-TB graças à utilização do GeneXpert, equipamento que pode fazer um diagnóstico em menos de duas horas com amostra de escarro. Porém, em 2012, apenas 42% dos pacientes diagnosticados com a enfermidade iniciaram o tratamento, segundo dados do governo. A taxa de sucesso para os que seguem o regime de medicamentos é de 40%.
“Se não fizermos algo agora, a MDR-TB se converterá em XDR-TB” (tuberculose extremamente farmacorresistente), afirmou à IPS Jennifer Hughes, especialista da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF). A XDR-TB é resistente a pelo menos quatro dos principais remédios contra a tuberculose. Segundo Hughes, “se não começarmos já a nos concentrar em como tratar a XDR-TB adequadamente, permitiremos que consiga mais e mais resistência”.
A maioria das províncias sul-africanas aumentou sua capacidade de tratar pacientes de MDR-TB, depois que o governo introduziu, em 2011, um plano para descentralizar o atendimento. Isso permite aos pacientes iniciar o tratamento em locais mais próximos de onde moram, em lugar de terem de se dirigir a hospitais especializados, onde deviam permanecer por cerca de seis meses.
Porém, a atenção primária ainda deve melhorar, destacou à IPS o diretor da divisão de Tuberculose Farmacorresistente e HIV do Departamento de Saúde, Norbert Ndjeke. “Não avança na rapidez que queríamos”, admitiu. Não há um orçamento especial para os esforços de descentralização, e os governos provinciais são os que decidem como priorizar seus gastos, acrescentou.
Graças à descentralização, quase quadruplicou o número de locais onde os pacientes com MDR-TB podem iniciar tratamento nas províncias de Gauteng, Ocidental do Cabo, Oriental do Cabo e Estado Livre. Na Província Ocidental do Cabo, por exemplo, passaram de quatro para 17, enquanto em Gauteng existem cinco, quando antes havia apenas um.
A província de Limpopo não abriu novos centros, mas a do Noroeste e a Setentrional do Cabo duplicaram ao número de lugares de tratamento, passando de um para dois e de dois para quatro, respectivamente. Quando implantada de forma adequada, a descentralização pode fechar a brecha de tratamento.
Em Jayelitsha, assentamento urbano semi-irregular na periferia da Cidade do Cabo, a combinação do plano de descentralização com os rápidos métodos de detecção permitiram que o tempo entre o diagnóstico e o início do tratamento contra a tuberculose resistente diminuísse de 73 dias para sete entre 2007 e 2013, segundo o MSF. Dos pacientes diagnosticados com MDR-TB em Jayelitsha no ano passado, 91% iniciaram seus tratamentos.
Ndjeke apontou que a informação nacional preliminar para 2013 indica que 10.095 pacientes de MDR-TB começaram seu tratamento. Ainda não há dados definitivos de quantos diagnósticos foram feitos no ano passado, mas nos primeiros noves meses foram detectados 7.271 casos, o que, possivelmente, signifique uma redução da brecha de tratamento. Manter um registro exato do número de pacientes e dos resultados de seus tratamentos continua sendo um desafio no qual o governo está trabalhando, assegurou Ndjeke.
A África do Sul tem a terceira maior incidência de tuberculose, depois de Índia e China, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), que também informou que a maioria dos casos de XDR-TB apresenta uma taxa de sucesso do tratamento inferior a 20%. A cada ano, cerca de 1% dos 51 milhões de sul-africanos se contagiam com tuberculose.
“Na África do Sul temos uma das únicas epidemias emergentes de tuberculose sensível aos medicamentos e farmacorresistentes. E não estamos fazendo o necessário para detectá-la e tratá-la”, alertou em entrevista coletiva Gilles van Cutsem, coordenador da MSF para África do Sul e Lesoto.
Os médicos sul-africanos estão preocupados com o aumento da transmissão de tuberculose farmacorresistente. Inicialmente era detectada apenas em pacientes de tuberculose comum que não haviam completado seu tratamento, explicou Hughes, mas agora é transmitida também pelo ar para pessoas saudáveis.
Um dos principais desafios no tratamento da tuberculose farmacorresistente é que os remédios disponíveis produzem efeitos colaterais, como náuseas, vômitos e surdez permanente, o que leva muitos pacientes a desistirem de continuar com o regime. “Os medicamentos são horrendos. É um regime terrível, mas é o melhor que temos”, pontuou Hughes à IPS. Em média, os pacientes devem tomar entre 12 e 15 comprimidos diários durante dois anos, acrescentou.
A África do Sul tem um programa de testes clínicos com mais de 200 pacientes de XDR-TB e pré-XDR-TB que recebem um tratamento limitado à nova droga bedaquilina, a primeira criada especificamente para tratar a tuberculose em mais de 50 anos. Uma das características desse remédio, que deve ser tomado junto com os demais, é que os pacientes melhoram muito mais rápido, explicou Francesca Conradie, conselheira clínica do Hospital Sizwe, em Gauteng, especializado no tratamento da MDR-TB. “É a primeira de uma série de quatro ou cinco drogas que revolucionarão a forma como tratamos a MDR-TB”, ressaltou.
Segundo os resultados desse programa, o Conselho de Controle de Medicamentos da África do Sul decidirá se aprovará o uso de bedaquilina para mais pacientes. Um novo regime de medicamentos para a tuberculose farmacorresistente poderia estar pronto até 2020, dependendo dos resultados, informou Van Cutsem. Envolverde/IPS
(IPS)

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