O ciúme é uma coisa bem complicada, que atrasa a vida dos ciumentos e dos que vivem por perto dele. Quase sempre leva à loucura as pessoas que consciente, ou inconscientemente, participam do acontecimento.
Falam tanto de ciúme, mas acho que ninguém conseguiu descobrir porque ele existe na cabeça das pessoas.
O que se ouve mais falar é que ele nasce com a falta de segurança das pessoas.
Homem e mulher, quando se acham incapazes de amar com a intensidade que eles mesmos definiram como ideal, começam a ter ciúmes de tudo e de todos, porque não conseguem atingir as metas estipuladas.
Existe o caso dos que conseguem cumprir os seus objetivos, inclusive indo muito além deles, mas o ciúme continua a existir.
Talvez seja a idéia de que a pessoa amada possa encontrar um parceiro que consiga suplantar as suas metas. Neste caso, o ciúme se transforma numa competição.
Desavenças terríveis vão acontecendo enquanto o ciumento busca a superação dos seus próprios limites.
O ciúme nasce como que do nada.
Homem e mulher estão conversando alegremente, quando sem mais nem menos, o ciumento capta algo na conversa, que passaria completamente despercebido para os mortais não ciumentos.
A partir daí, ele começa a puxar o fio da linha, e o universo do homem e da mulher começa a se desfiar.
Os ciumentos são pessoas muito inteligentes, criativas, que costumam perceber bem as coisas.
Em matéria de ler as entrelinhas estão muito acima da média.
Eles conseguem perceber o que existe, o que não existe e o que está para existir. Chegam ao futuro muito mais rápido que qualquer vidente de renome.
No entanto, para alguns, o ciúme não é tão terrível assim. Ele tem que estar presente numa relação amorosa.
Conheço muitas pessoas que dizem em alto e bom som, que onde não existe ciúme não pode existir amor. "Se não tem ciúme de mim, não me ama".
A falta de ciúme por parte de um dos amantes, pode atiçar um ciúme descomunal no outro.
"Se não tem ciúme é porque gosta de outra pessoa, e não se importa comigo".
Existem pessoas que são infiéis por natureza, e ao mesmo tempo tem um ciúme descomunal do parceiro. Acham que é impossível o outro também não ser infiel.
Outro dia encontrei um amigo que não via há muito tempo, e fiquei espantado com a história que o mesmo me contou. Quando sua mulher morreu, ele se viu perdido num mundo onde a sua companheira estava sempre presente. Um ano depois, andando pelo centro da sua cidade alegremente, ele se deparou com a mulher que tinha sido a melhor amiga de sua esposa. Se abraçaram, foram para uma lanchonete beber um suco, e começaram a conversar. O passado foi lembrado, assim como a falecida. Ele a convidou para jantar, e depois disso começaram a ser amantes.
Quando estava ainda com vida, sua mulher havia dito que ela seria a melhor companheira que ele podia arranjar depois da sua morte.
Passado um tempo, foram viver juntos. Os dois pareciam muito felizes. Tudo caminhava dentro de uma certa racionalidade.
Entretanto, a partir de um certo dia, as coisas começaram a mudar. Toda manhã tinha uma encrenca, uma crise de ciúme da mulher, e o pivô era sempre a falecida.
Inacreditavelmente era verdade. Ela dizia que o amante não parava de pensar na falecida.
Era uma situação mórbida. Ela tinha crises de choros e ataques histéricos, e se dizia muito inferior a amiga que morrera. Gritava que nunca conseguiria dar felicidade ao viúvo.
Enfim, a coisa chegou num ponto trágico, quando a mulher tentou o suicídio.
O meu amigo ficou desnorteado, e depois de um certo tempo, apesar do tratamento, a mulher ficou completamente louca, e teve que ser internada.
Chegou a adotar o nome da amiga que morrera. O mesmo modo de falar e os cabelos iguais ao da falecida.
Enfim. enlouquecera, e tudo por causa do ciúme.
Semana passada fiz uma viagem de avião na ponte aérea Rio-São Paulo, e ao meu lado viajou um cara com seus quarenta anos mais ou menos. Ele murmurou a viagem toda, amassando um pedaço de papel, que de vez em quando abria e lia.
Quando estávamos chegando em São Paulo, não me contive e disse:
Gostei de ver a sua fé na oração.
E o cara respondeu:
- Não é oração não. É uma frase que repito o dia inteiro, para que eu não fique louco, e cometa uma besteira.
Dito isto, mostrou o escrito no papel todo amarrotado:
"EU NÃO TENHO CIÚMES"
- Wilson Gordon Parker