DA FERROVIA AO PETRÓLEO AS MODIFICAÇÕES DE UMA HISTÓRIA
jose milbs
Escrever uma cronica/livro, onde retrataria a vida vivida, era uma sonho que sempre esteve presente . Se todas as pessoas tivessem este desejo e o fizessem, existir, creio que o conhecimento seria bem mais fácil, principalmente quando se tratar de algo que se pode passar para os filhos, amigos e contemporâneos. Leia mais...
Não pretendi nem pretendo coisas que possam ocupar polemicas ou que tenha o objetivo de virar grande. Acho que todos que lerem estas memórias se colocarão dentro dela e encontrarão identificação com a própria existência.
De Macaé, onde vivi meus mais longos anos, busco colocar fatos havidos, gente que conheci e coisas que sei do conhecimento público.
Melhor seria se cada um de nós pudesse fazer sua própria, talvez um livro. A confrontação de um com o outro, de memórias em memórias poderiam formar a verdadeira vida desta cidade e de seu povo, tão absorvido pelas mídia televisionada ou até por mentiras publicadas como se verdadeiras elas fossem.
Não busco as histórias de vencedores ou de possuídos pelo poder. Evitarei, na medida do possível, dar vida ou colorido aos que se agregam aos poderosos, acocorando-se e capitulando, como "capitães-do-mato," de triste vivências nos porões da escravidão.
Gostaria de trazer a essência. A poeira das ruas. O calor humano. O vulto das histórias de uma cidade não se encontra em gente que são pinçadas e formadas nas mídias pagas dos jornais oficias que vivem das migalhas que sobram das mesas fartas dos governantes.
A história de uma cidade e de suas existencias são feitas por gente do povo, gente que pinga o suor das tardes noites do cotidiano do trabalho, que fazem da alegria dos seus sorrisos a vivenciação do belo nas esquinas tortuosas das vielas macaenses de antanho.
O suor dos primeiros pescadores, dos pedreiros, dos homens que carregaram malas nas estações dos trens, dos engraxates, dos homens da rua que fazem e fizeram o folclore de todas as cidades em que vivi e que não estão diferenciadas de uma Macaé igual em todos os seus sentimentos e vidas vividas.
Se uso nomes de pessoas é porque sinto que elas formam o harmonioso celeiro de realidades, e não poderiam ficar esquecidos numa época quando tudo se esvai como poeira na estrada cibernética deste mundo, pondo, como balsedos de pedras esquecidas, suas existências que forma demais importantes na formação de Macaé e Sua Verdadeira Gente.
Gente que veio de lugares distantes, de Salvador, Manaus, Belém, Ro Grande do Norte e do Sul que nos fornecem culturas e vozes diferentes e que, fazem em nosso dia a dia , a beleza da integração de raças e ensinamentos culturais e afetivos. A "fatia de parida" se mistura a "rabanada" numa inerente mistura Macaé/Salvador, com a mesma mistura que se faz presente na "bisnaga" pra nós e "vara" pra eles que se torna lindo quando pedem, nas padarias nativas 10 cacetinhos ao invés de 10 francesinhos.
Tento repor o pensamento de uma cidade nos anos em que tínhamos nossas fábricas de tamancos espalhadas por toda a cidade. Desde o "seu" Eduino Quaresma na "Rua do Colégio," até seu Pantaleão onde toda madeira vinha pelo Rio Macaé e ia sendo descarregada nas imediações da Rua da "Boa Vista".
As lojas estampavam um "Tamancão" grande pendurado e outros de formato diminuto...
Era o início de uma mídia publicitária tupiniquim de formato belamente comercial e nosso. Desfilar de tamancos, ir para os colégios era uma mini-moda bem à època.
Patacun... patacun, patacun... eram os sons emanados nos milhares de pés que iam desde a Aroeira até a Praia Campista em passeios ou mesmo a trabalho. Tiras, coloridas colocadas nos tamancos, eram usadas durante o verão e nos finais de ano. Ainda não se conhecia "Panetoni" que era confundido com Cotonetes, colchonettes ou marumbangaia. Mesa de Natal ou de Domingo de Pascoa era com Bolo de Aipim, de Milho ou de Cenoura colhida no quintal. Panetone era mesmo coisa de Paulistano.
Nativamente pura, a cidade não tinha os luxos que o progresso trás em sua marcha para a destruição do belo. Era uma espécie de cidade pura mesmo. Destas que brotam nas menininhas lindas de nosso interior brasileiro que estão em extinção com o advento das novelas caretas das Tvs, teimando em vender cosméticos, sexo vulgar e desvio de condutas como exemplo de bandidinho almofadinha e de olhos azueis.
Olhar para o futuro sem falar nos seus formadores é o mesmo que olhar a "Pedra do Redondo" da Praia de Imbetiba, que se tornou apenas uma lápide fria sem vida, sem mariscos e sem forma.
À existência dos homens que se fizeram presente em minha memória quero dar vida. Fazer florescer para que todos saibam o quanto de útil eles foram na importância de nossa atual existência.
Falar dos medos, dos trovões das madrugadas e do relampejar riscando árvores nos quintais, da coragem, dos dias de sol e dos belos momentos da infância com avós e amigos faz parte de cada um. Procuro pôr os personagens que minha vida viu, olhou, conheceu, ouviu falar, amou, desconheceu ou, simplesmente, tocou.
Este é o significado que me move e me animou a escrever estes relatos que por si só forma o circulo de entendimento e conhecimento que pude sentir nos anos em que vivi junto a comunidade.
Quero deixar para as novas gerações a curiosidade de saber onde fica a Pedra do Moleque que sempre aterrorizava os pescadores e que ceifou dezenas de vidas da comunidade pesqueira.
Por isso os leitores podem até achar enfadonho citar nomes desconhecidamente longe para cada um que lê. Acontece que se procurarem colocar, no seu próprio interior, deslocando-se mentalmente na realeza pura do que pretendo, verá que todos nós temos nossa avó, nossa bisavô, nosso avo Emílio embora estes tenham outros nomes cuja essência paterna/afetiva diferenciam muito pouca da minha.
Quantos de nós ainda tem na história de familiares o citamento de "Jorginho" Célem, pai de Waldyr? Seu descobrimento de que o verdadeiro sentido do Socialismo passava pela ternura e pelo ajudar o próximo ficou cravado em sua existência de forma cristalina. Viveu e morreu como um verdadeiro senhor das bondades.
É desta forma de existência que busco retratar nestas páginas. A "Sopa dos Pobres" idealizada, servida e amada por "Jorginho" nada mais era do que a busca de um mundo igual onde todos pudessem comer e dormir com dignidade. Uma antecipação do que viria ser um "Brasil sem Fome" que o PT visualizaria nos anos 2000. "Jorginho" sempre esteve a frente de seu tempo.
Se o PT traiu os seus objetivos e se enlameou com desvios dos funçôes sociais a que se propunha, é lá com eles e com seus dirigentes que ainda estão no Poder. Sai desta pocilga e posso reverenciar homens sérios como Jorginho Celém que tem sua obra seguida por dezenas de bons macaenses, como a Tania Shouller e outras senhora de nosssa comunidade. Jorginho, Peixotinho, Pierre, Maria José Peixoto do Valle, Vovô Idibaldo, Angelica e Outras figuras, não viveram em vâo nesta passagem.
Tive o privilégio de dar vida ou, como querem alguns teatrólogos ou roteiristas, fazer viver personagens de minha vida real. Volto a afirmar que todos nós temos a mesma essência na genética de cada uma de nossas vidas, na individualidade. Apenas em mim brotou este desejo que torno público, na cidade que vivi em que espero contribuir para melhor aperfeiçoamento de sua história no quotidiano das pessoas populares e transeuntes que se esbarraram em mim nas esquinas da vida que andei .
Ser criança, numa rua de uma cidade de interior, não tem diferença em nenhum ser humano. É tudo igual. A infância daqui é igualzinha à infância em Piripiri, Porto Seguro, Urutai, Salvador, Pindamonhangaba, São Gonçalo da Bahia, São Gonçalo do Rio de Janeiro. ou Rio Preto de Minas.
O olhar infantil, suas curiosidades e seus temores habitam todo o universo em cada ser de todas as ruas, de todas as esquinas e casas . Os olhos repuxados dos orientais recebem o mesmo brilho divino que recebe um ocidental de Rio das Ostras ou da Barra do Rio Macaé quando satisfeito em preenchimento de seus desejos.
A "Torre de Babel" não teria sentido na igualdade pura dos desejos satisfeitos em crianças
Muda-se a cor das pipas, dos muros das casas. Algumas pessoas usam chapéu; outras, bonés. Uns olham para dentro e acham, no interior, o belo. Outros a encontram no exterior.
Quem pode esquecer um olhar de soslaio vindo de namorico que antevinha o falar? O Nascer do sol e o seu Porvir são iguais, como iguais são a pureza e o olhar em todas as crianças. As diferenças financeiras não são sentidas. Vive-se apenas dos nomes , dos apelidos, dos afagos que recebemos dos mais velhos e/ou das ausências ou presenças paternas e maternas.
Daí que meu propósito é pôr nesta Crônica/livro tudo que podia ser colocado e onde se pudesse sentir as iniciais de uma vida, as alegrias da formação jovem e a certeza de um adulto feliz.
Saudade seria a portalha de onde se avistaria a tristeza?
Que seria da felicidade sem a vivencia dos momentos tristes?
Então vamos ser tristes na saudade do que habitou em cada um de nós. Quando "catuco" o interior de minha cabeça, buscando trazer as dormidas existências, que pude ver e sentir, acho que me sinto mais lisonjeiramente confortado. Mesmo que nessa busca interior esbarre em amigos mortos, gente que fez minha vida existir um dia e que me deu tristeza numa época. Acho que neste rebuscamento podemos refrigerar todo o nosso ser e, pondo no papel estes copilamentos,tenho certeza de que cumpro uma missão confortadora com a essência vital. Se escrevo o que sinto e sinto o que escrevo o realizado se fixa no objetivo maior que é ser compreendido e entendido por quantos me conheceram e conhecem.
Ao olhar um menino ou uma menina em qualquer lugar, pode-se ver que seus gestos se igualam nos gestos dos seus heróis e seus sorrisos se identificam com o sorriso universal das curiosidades e contos que eles escutam e tentam passar para os adultos e pais.
É igual, em toda a criança, o "correr" do Colégio para casa em busca de contar para a mãe , para o pai ou para um irmão ou irmã mais velha as piadas ridas nos recreios e ruas de suas idas e vindas.
E fazer o velho e imorredouro "Dever de Casa" onde o Cheiro do Caderno é igual em décadas e décadas havidas e vindouras. É como a aurora eternizada no dia a dia de cada infância.
Os gritos sufocadas do interior das salas de aula e esticados para os recreios e ruas periféricas dos estabelecimento de ensino, é igual em sons e belezas em todo o universo São vozes vindo do gritar de gargantas infantis e adolescentes que encontram, no companheirismo do dia a dia a fortaleza que a inibo com outros iguais em idade e cabeça, fortifica e une por gerações e eternidades. Vir a Ser o do Sentir. O descoramento de nossos esquecimentos que, brotados e revigorados, fazem parte de sua alegria em nos "pegar" numa piada que o tempo nos fez esquecer.
"Lá vai o bobo,
da casca do ovo"....
Pena que as novelas e o dia- a- dia corrido de algumas mães e pais usem as mãos para taparem as puras perguntas e puros "O QUE É O QUE É"? que as crianças gostariam de falar com eles. Seria isso um dos distanciamentos tão decantados e vendidos por Psicólogos, de Psiquiatras de plantão nas famílias abastadas e inconscientemente repressivas?
Que coisa mais sonora e sutilmente harmônica que ouvir na maturidada um chamamento de apelidos que estavam fechados em nossa cabeça e que se revive ao senti-lo vindo de amigos de tempos infantis. Esta e outras maravilhas é que quero e propunho nesta cronica/livro que escrevo.
Creio que, ao impedir que um menino ou uma menina nos conte suas piadinhas e pergunte suas interrogações estamos cimentando um pouco de suas angústias futuras. Um "não" dito a uma criança, por mais sutil que seja a sonoridade é sempre um não. As espertezas nascem nas brincadeiras escolares e se tornam imorredouras lembranças por toda existência. Elas querem passr para os pais, irmaos estas espertezas e descobertas. Vamos ouvi-los. Deixar que caia a beleza de "pegar a gente"...
Quando minha mãe me passava sorrindo coisas de sua infância e relatava vultos que povoavam sua mente de menina, falava em "Tuiú", "Papa Lambida", "Patureba", "Maria Cachimbinha", "João- Pé- de- Bicho," "Pé- de- Porco" ou "Sai- de- Baixo",não era diferente de meus "Florzinha", "Turrinha", "Souza", "Papão". Pouca diferença faz dos "Mariolas", "Saçás", "Vicente- Barra- Lagoa", que povoam as alegrias dos meus filhos e netos.
O mesmo gosto em mexer com os folclores felizes dessas gerações está cristalizada em todas as crianças do mundo. Criança não tem diferença aqui ou na China. Nós adultos é que somos e fazemos a diferença com nossa indiferença em deixar que este belo seja ouvido de forma inintelegível.
Carregamos a formação boa ou má de nossos próprios caracteres e deformações adquiridas. Passar nossas informações distorcidas e escamoteadas é cortar prematuramente o brotar de uma flor, o nascer de um gato o cantar de passarinhos...
A alegria de uma menina ou de um menino, em sentir- se livre, fugindo do alcance raivoso perseguido nas ruas e vielas por um dos personagens, que são seu folclore é igual em toda criança. Já sentiram ou presenciaram o grito de "ganho de guerra" brotado do interior de uma garganta de menino quando "mexe" com um desses personagens de rua? Sabem aquilatar o quanto para ele tem em importância, receber a corrida e se sentir livre para noutro dia voltar a catucar o personagem?
É a sublimação da bondade do mal que não revive na essência do saber do belo. É a certeza da vivencia linda das infâncias eternas.
Os palavrões que escutam entram com a sonoridade do vencer, do ganhar, do feliz. É algo que transcende o real e se fixa no terreno da conquista. Chamar "Maria- Pé- de- Porco" e, vê- la sair correndo com seu guarda -sol em riste na busca de onde veio a voz, é uma realidade comum a toda criança esteja em que cidade estiver. É da essência infantil esta Maldade Divina que se harmoniza nas essencias das divindades gregas.
Quem sabe o significado da frase "Esta criança é da pá virada".? Quem explica o seu conteúdo psicológico na formação de sua fala? Eu não sei. Sei que escutei muito essas palavras em ressonante "Cabrunco" que também nem sei de onde veio e que só se escuta em Macaé e seu distritos.
"Cabrunco" vinha sempre junto com topadas. Dizem que "menino da pá virada" é aquele que sempre faz mais estripulias que os outros. E "Cabrunco"? termo que nem sei até hoje o que é. Onde você escuta a frase "deu comédia"? É coisa nascida em Macaé, nas nossas ruas e que se espalhou por aí.
"Boca-de-Latiff", que correu mundo, e a frase "Deu Comédia" não se sabe como nasceu ou quem espalhou. O fato é que comédia não se dá. Se faz e, "Boca de Latiff" ficou tão usada em minha geração ,como ficou uma época anterior, a frase "Mãe- de- Nagib".
"Tava jogando sinuca,
uma nega maluca me apareceu..
tava com um filho no colo
e dizia pro povo que o filho era meu..."
Esta musica foi cantada na Hora do Calouro, numa pré-rádio onde o animador Thiers Pereira de Azevedo dava prêmios de bonecas, carrinhos de paus, pipas e sandálias ofertadas pelo tímido comercio local. Djecila ganhou uma boneca cantando "Nega Maluca". Therezinha, Clyce, Cléa e Mazinha fizeram coro na platéia. Não sei se ela ganhou por ter cantado no ritmo ou se o fez por ser vizinha do Thiers. Fato é que estas belezas interioranas desta cidade ainda devem existir em algum belo lugar de nosso país.
Essas essências são de Macaé e sua gente. São essências nossas que tinham que vir para esta longa cronica/livro. Até porque ja estou com passagem comprada , ou melhor doada, para outra dimenção neste planeta e urge que ponha isto para fora.
Cada leitor deveria desligar um pouco da televisão, das caretices das reuniões sociais e procurar catucar seus personagens infantis e pó-los a conhecimento de filhos e netos. Deixar que as histórias sejam contadas pelo virtual deles (dos donos das mídias massificadoras) é transformar mentes em robôs. Nossos filhos morecem coisa melhor...
Meu "Papão" feliz é igual ao "Mariola" de meu filho como foi o "Tuiú" de minha mãe. A vida não se diferencia. A vida é um eterno repetimento. Crescemos e nos afastamos dessas preciosidades. Trazer de volta as nossas lembranças e passá-las para novas gerações seria o formato de uma fortificada essência que todos deviam fazer. Pé de Anjo, Kátia- Pé-de-Porco, Nenen -Pé de- Bicho, Pé-de-Valsa, Gilson-Pé- de-Pato, Wilmar- Pé-de- Tábua e Pé-15-pras 3, são alguns dos carinhosos apelidos de muitos pés que, não pisam mais nas nossas ruas empoeiradas mais que dançam formosamente elegantes nas nossas recordações e gestos de alegres reminiscências. Dejair que fazia os poços de manilha no Novo Cavaleiro e que nos deixou o conhecimento para o meigo Lulu que ainda hoje, com sua honestidade faz os mais profundos que teimam em achar as poucas nascentes no bairro que já foi Fazenda da Família do escritor Luiz Lawrie Reid.
Das puras noites entardecidas...
Guardo as pequenas gotas em lembranças...
Que saídas uma a uma em forma de letras
Formam a imagem viva das sombras escondidas...
E porque elas refletem o nosso belo o nosso ser existente.
Que lindo ver, com a primavera que chega, meus filhos e agora os netos, colhendo as jabuticabas, os araçás e as acerolas por mim plantadas num sítio que se encontra cercado de firmas e gente barulhenta. As amoras, as ameixas amarelas chegam com o brotar da primavera no mês de outubro se misturando as verdes flores que bailam ao vento de final de inverno. fazendo com que os galhos das amendoeiras se encostem nos pés de goiabas e cocos se encolhendo, aos troncos, a fim de virarem estercos no mês de janeiro.
As pipas, os namoricos, o primeiro beijo, tudo não muda. Nós é que mudamos por força de nossa própria burrice e embrutecimento.
Vamos encontrar nomes como "Mariazinha", "Cotinha" "Doca", "Tonho Lepra","Roulien Baliongo", "Elso Pudin", "Diabo Azul e Branco", "Tonito", "Dedéu", "Boca de Latiff". "Dodô Comedor de Pão", "Biriba", "Pingo", "Itinho Cabeludo", "Zé Mengão" e outros que bailam nas histórias de infâncias macaenses.
Quem não teve suas " Marias" e seus "Zé- do- Tostão" em formas tão afetivas e puras nas infâncias? Quem nega a existência alegre do "Professor Souza", "Papão" ou de "Patureba"? Esta trilogia genial e alegre marcou minha geração na "Rua da Estação", Velho Campos, "Rua do Meio", "Rua da Poça" e Cajueiros.
Busco o real num mundo realmente adormecido em cada um de nós que, na busca do nada, num social que nos poe viseira, tentando encobrir a existência pura e nos arremessando para engodo total.
Por que esquecemos que tudo não passa de um por de sol ou de uma lua que sempre voltam apesar de nossas presenças distantes de seu mundo astral?
Não tenho e nunca tive pressa em colocar estes escritos no prelo. Penso ate que poderá ser colocado por meus filhos ou netos que o prefaciaria e o venderia como único bem deixado em toda a minha existência. Agora com o REBATE on-line eu estou colocando no ar estas minhas ideias que iriam para o livro O Pinguin da Rua do Meio que nao sei se editarei em vida.
Que bom se cada pai, que junto as conversas sobre carros, casas, terrenos e contas bancárias, deixassem para seus filhos sua própria existência forjada e cimentada em uma conversa dos quotidianos das infâncias vivida ou retratando-a num papo livro/cronica em volta de uma mesa de almoço ou antes de dormir?
Pensei, quando ia fazer um longo livro, deixar algumas páginas em brancos para serem escritas por quem gostasse de faze-los aos filhos e amigos.
Acho que deveria ser uma obrigação passar estes informes tão sutilmente vindos de dentro do nosso ser vivente.
Se alguma coisa for esquecida é porque se trata de minha memória. Que seja entendida como tal. Muitas pessoas serão repetidas outras esquecidas. Algumas delas, como dizia minha bisavó, quando faziam alguma estripulia, não merecendo os doces que vinham ao cheiro do fogão lenhado: "Você não fez por onde."
Cai a frase em quem eu por ventura deixar de citar ou comentar.
E assim será com aqueles que não mereceram fazer parte destas memória. Foram deletados ou simplesmente "não fizeram por onde merecerem fazer parte dela".
A vida que pretendo revigorar nestes personagens falam de uma Macaé nossa. Acho até que pouco falarei de gente e personagens recentes. Até porque isso deve ficar para outros memorialistas que vivenciarem estes últimos anos de Macaé e que por certo um dia estarão sendo retratados e apensados a este meu memorial.
A prefeitura tem uma Secretaria de Acervo e, dirigida pelo filho de Walter Vieira e neto do velho Lafaiette, saberá deixar para seus funcionários e historiadores a missao de falar numa Macaé futura. Desta, perdoem-me a petulancia, entendo eu. Ricardo é o homem certo no lugar certo. Da relação com Priscila espalha a genética de seu velho avô e de Faetinho e Walter. Se nao bastasse isso, seu Departamento conta com a presença alegre e sempre efeliz de Gisele Santos. Gisele é uma das mais lindas presenças nesta Macaé que nao pode ficar esquecida nas memórias. Izabel e Fabiene, precosemente nos deixou e está bem presente pelo espalhamento de sua genética.
A mistura dos ferroviários com os nativos que fizeram nascer vários bairros serão fortalecidas e retratadas no amalgamento de petroleiros com nativos e descendentes de ferroviários. È deste sangue, forjado no amor entre as pessoas que vem a força desta cidade que perdoa as ingratidões e as maldades de uma elite que vai se esvaindo no decurso desta mistura. Os verdadeiros sangue vermelho do amalgamento ferrovia/nativos e petroleiros apaga de vez o sangue "azul" dos esploradores de pobres e escravos de triste memória na vida colonial de nossa velha Macaé.
Quero falar de uma cidade nossa e a que sempre achei existir apesar de ter viajado por outros lugares e tendo vivenciado outras realidades.
Não busco criar diferenciação de existências outras que não sejam a própria existência das ruas, dos becos e das praças onde pisei e vi pisar gente de minha gente.
Para mim a lembrança de Ruy Figueiredo Borges, meu amigo de noitadas, tem a mesma reflexão afetiva que Carlos Eduardo Motta, Levy Corrêa da Silva, Félix do Mercado, "Nensinho Cauby" "Dunga da Boa Vista", "Itinho Cabeludo", Carlos Augusto Tinoco Garcia ou Aristóteles Mello.
Cada um teve a sua presença nas ruas empoeiradas de Macaé e se cumprimentaram um dia nas andanças que não fazem mais. Quem pode esquecer as gargalhadas de Ronald de Souza e Carlos Augusto Tinoco. A timidez de Amilton irmão de Amildes Andrade e o forte roncar da voz melodiosa e inteligente de Milcélio? E o andar tranqüilo de Ricardo, Roberto, Marlo e "Marquinho" Cure vindo dos papos alegres e exclusivamente macaense d a praça da Prefeitura?
Macaé tinha o sabor das noites mal dormidas em encontros esquinais com Humberto do Ônibus, Mário Barbosa, Arley e Andrade onde, sobressaiam as piadas alegres de Marcos Cure e as curiosidades marcantes de Gilberto Curi. Onde poderá ter, senão por nossas historias, as gaitas naturalmente aprendidas de Humberto e Rosemar?
Macaé morre e nasce a cada dia num redemoinho de fatos e histórias do quotidianos mil. As histórias e os resmungos de Milton Monteiro e o fim do Império que ele criou e viu desabar da "noite para dia". Ouvir suas lamúrias e faze-lo entender o progresso que chega é ver sair suas tristezas e voltar a ve-lo menino da rua do meio.
Milton tem uma passagem curiosa com o autor. Quando do lançamento do meu primeiro livro "Cabelos Brancos" eu o procurei para adquirir um exemplar. No corre-corre de sua vida ele me disse que na tinha tempo pára ler. Hoje o tempo lhe sobra e pacientemente eu tive tempo para ouvi-lo, em suas lamurias e traições comerciais sofridas e, retratá-lo nesta cronica/livro. Faz parte da gangorra da vida estas estravagantes passagens.
Gostaria de por um livro nas bancas antes que minha geração toda deixasse de fazer história ou se esclerosasse.
O objetivo é para que estes relatos servissem para recordações de quem tem 50, 60 ou 70 anos em alegres reflexos com netos e filhos, passando senão minhas histórias, mais outras que, esquecidas por mim, pudessem servir para abrir arquivos mentais empoeirados de velhos amigos, nas ausências sentidas das Cadeiras das Calçadas Macaenses. Se "alguém quiser que conte outra" seria este meu objetivo principal.
Em cada um que se acharem citados ou esquecidos poderia por uma vírgula, um parágrafo, um texto que anexado a este, o tornasse alegre e desse um colorido as explicativas de cada um dos leitores com seus próprios descendentes.
O contar de coisas que vi e que vimos nos dias de nossa existência nesta cidade que já teve bondes de burros, "ladrão de apenas galinhas", ruas empoeiradas e Cadeiras nas Calçadas na Avenida Ruy Barbosa.
Outorgar direitos a história de cada um é uma faculdade nativa a mente de cada escritor. As anotações se tornam voláteis na medida que escrevemos quando flui a determinação de fazer relatos.
.... Seria as memórias o filete das eternidades
Que rebuscadas, sentidas, revividas e lidas...
Colocassem a gente no entender de um tudo?
Seria a o Saber a bondade das eternas buscas esquecidas?...
A felicidade que brotava da fala do Ricardo Salgado e sua simpática esposa dona Diomar nos levando para ver as condecorações de suas competições em torneios de Cavalos e a alegria de seus filhos Roberto, Renato Ricardo e Rogério ao vê-los contar, ainda meninos e curiosos do mundo. As prosas familiares precisam voltar as familias antes que outras prosas assumam as nossas familias. Elas, as prosas que estão sumindo e dando lugar as novelas e filmes das Tvs americanizadas, transferem os vslores paternos e acariciante para a brutalidade policial.
Que cada amigo meu, cada contemporâneo abra o seu próprio Livro e o faça ser lido por quem precisa saber de nossas histórias e vivências. Muitas coisas e "causos havidos" serão engraçados. Outros nos levarão a saudade como da morte de "Byra Abreu", "Sérgio Italiano", Ibere, Roldão, Ailton Silva, Miguel Felix, "Filhinho Monteiro", "Pedrinho" , Ereny, "Itinho Cabeludo", Flaubert Machado, Cláudio Moacyr, "Turrinha", Paulo Barreto,Marquinho Brochado, Beto Calil e outros. Mais tudo isso é pouco em razão do que objetivo.
Pretender voltar as Cadeiras nas Calçadas.. fazer voltar, mesmo que sejam na utopia das nossas interioridades, para contas as próprias existências vividas. Haveria no mundo coisa mais linda que as Cadeiras nas Calçadas das Ruas empoeiradas de Macaé? Revi esta beleza numa cidadezinha de Minas de nome Rio Preto onde morava minha filha Aninha.
Nas cidadezinhas da Bahia ainda existe estas belezas estendidas por ruas imensas de conversas longas e criativas.
Quando esbarro em gente que me lê em jornais e pedem que escreva algo a energia do ser determinante vem em forma de ordens e faz com que a volta ao computador se faça suavemente feliz. Foi assim quando a professora Leila Ramalho me pediu para dizer algo sobre Rubinho Patrocínio quando de sua saída do magistério.
Leila queria homenagear esta figura maravilhosamente pura que é Rubinho. Me pedia algo sobre ele e afirmava que eu tinha conhecimento dele porque fomos criados juntos e juntos tivemos boas fases na vida. Fiquei pensando que vou dizer de Rubinho?
Falaria muito mais seus milhares de alunos em quase todos os colégios de Macaé e do Maranhão onde morou. Ai eu quis cumprir o pedido alegre desta querida amiga e passo para este livro alguma coisa de Rubinho. Foi um dos mais corretos professores de Matemática que tivemos. Se ele quisesse fazer um livro sobre a matéria este não teria apenas leitores em nossa comunidade. Atingiria a geografia maior do mundo das matemáticas.
Recordo-me dele, ainda menino, nas empoeiradas ruas de Macaé , menino de calças curtas, a fazer travessuras que seus pais Olga e Rubens já viam o brotamento de sua liderança. No Senai, da turma antes da minha ele já punha a mostra seus conhecimentos e sua pendencia para a cultura. No colégio Luiz Reid, estudando e lecionando, passando pela liderança estudantil ele cimentava amigos e admiradores ao ponto se sobressair-se de forma simples e destacada dos demais meninos de sua época. Senhor de uma timidez que lhe ornava o olhar tímido de menino simples eles impunha sua inteligência matemática de forma silenciosa e consciente que o tornou respeitado como mestre e amado com amigo e colega. Pude participar de grandes momentos de sua vida e testemunhei com muitos amigos a sua gargalhada alegre e descontraída nos primeiros copos de chopes das noites saudosas de uma cidadã ainda alegre. Rubens Patrocínio Junior deixa sua história registrada na memória de quem com ele viveu e sua missão de mestre simples ainda vai ecoar muito nas lembranças de nossa gente. José Augusto Aguiar, me confessou um dia que Rubinho foi um dos maiores matemáticas que nosso pais já teve. Ele como o autor fazemos parte das vivencias da Rua do Meio onde tudo começou em centenas de vidas.
Será que consegui dizer o que Leila queria do velho amigo Rubinho?
Ontem foi ao fundo do sítio rever a nascente que tenho. As chuvas de final de outono e princípio de primavera encheram o lago que as pessoas teimam em chamar de brejo. Nem sabem eles que, debaixo de uma cor amarelada de uma água de chuva se esconde uma limpidez que permanece intocada a milhões de anos neste local onde moro. Ao passar pelos pés de Ipês amarelos fui colhendo cachos de sementes que espalhei por toda extensão do Lago. Um simpático vento, vindo do mar dos cavaleiros e da lagoa de imboacica, fez com que suas tenuas sementes se espalhassem por um raio de terra de modo que devem brotar em breve. È uma resistência aos meus visinhos das multinacionais que continuam a aumentar a cada dia milhares de container de galões de óleos negros. Ao alto ainda pude ver, no filete de sol que bate nas águas do lago, alguns filhotes de rãs e sapinhos que contracenam com lindas borboletas cinzas, brancas e amarelas que, sempre em duplas voam por dentre árvores e gramas esverdeadas. Alguns piões das firmas olham e devem me achar muito louco. Não devem estar acostumados a ver, em plena zona de empresas de petróleo alguém espalhando sementes de Ipês e espantando mosquitos para servirem de alimentos para sapos e peixes.
Tudo que busco a aqui tentado relatar, fazem parte de um acervo existente em minha própria introspecção. Posso cometer alguns esquecimentos. Afinal estou passando dos 66 anos e, mesmo assim sinto o ser revigorado a cada pulsar de pensamento que coteja me obrigando a relatar novas memórias.
Vejo hoje que tudo na vida se resume num elo fraterno de gerações. Sentir saudade de meu tempo? Confesso que mais ou menos. Preencho com a beleza dos tempo de minhas netas que serão iguais ao tempo das netas dela.
Por viver o presente não consigo esquecer o passado nem me preocupo com o que as pessoas chamam de futuro.
A roda gigante da vida, como dizia meu amigo João Gurgel, ex dono de um parque de diversões "Guanabara" que ficava sempre na "Praça da Luz". "Hora estamos de cima, dando cartas de mão, outra de baixo servindo café na roda do jogo da existência humana'. Quase ou igual a que o poeta Cazusa falava sobre ainda estar rodando os dados.
Aprendi a ser observador ao ser observado e se deixando perguntar por crianças de 5 anos. Aprendi que a paciência é a mãe do Saber e que o Conhecimento, muitas vezes brota no olhar solitário, sobrepondo-se a leituras a seqüentes livros e discussões filosóficas.
Ainda vejo, os primeiros dias do mês de março de minha juventude quando se podia observar , na Lua Cheia de final de verão, o clarear nas amareladas e grossas areias de Imbetiba. Ela vinha avermelhada e se tornava clara e firmava-se impoluta e donatária do belo entre a "Ilha do Papagaio" e o "Morro do Forte". Bem no meio fazia uma estrada natural que vinha até as areias e se misturava as ondas bravias da Praia de Imbetiba fazendo dançar centenas de Peixinhos, Siris, Caranguejos e Ostras que no seu brilhar pareciam banhar-se em revigoramento divino que esta Lua sabia trazer.
Macaé e a Imbetiba de hoje tem o mesmo luar no mês de março. Só que misturado com navios que, ao invés dos peixinhos e seus amigos nos trazem plásticos, fezes internacionalmente misturados a estopas e pedaços de ferros. As areias são avermelhadas, sem brilho e sem conchas e as ondas foram domesticadas e, em seu lugar, uma carreira de pedregulhos lhe ornam a feia vida. Porque não fizeram este "píer" da Petrobrás longe de nossa Imbetiba?
È tarde, Inês é morta...
Durante minha vida não soube acumular bens. Seria por burrice? Acho que nunca fui tocado pela "Varinha Mágica dos Poderes Materiais". Nunca o senti perto e, quando o tive por alguns momentos, eles escorregaram pelos meus dedos e não pude segurar. Se o gastei bem não sei. Não me arrependo. De minha mãe aprendi que o bem se faz sem olhar a quem. Adoro grana, boa vida, bons vinhos e bons locais de pnde ´possa me sentir um ´pouco burguês. Apenas tenho preguiça e prefiro ficar como estou. Tenho a minha ´porteira sempre aberta e meus amigos e amigos de meus filhos são bem chegados.
De minha avó aprendi que o amor é fruto que nasce de nos mesmos e de meu pai, que pouco tive contacto, que nunca se deve falar demais. Ouvir sempre e perguntar menos. Um dia me disse, com sua cultura de sapateiro sem freqüência escolar que o homem deve falar pouco. Que o homem bobo discute e que os sábios se calam sempre. Deve ter lido algo em alguma folhinha mais que ao passar para mim se transformou no meu grande pensador. Pai, mãe, gente de afetivas presenças na vida da gente cimenta traços recordativos que acho ser comum a todos que habitam o universo humano.
Os mundos que vivi, que vi e amei são os mundos das pessoas puras embora tenha esbarrados em gente de olhar cruel maldoso e vil. Vejo a beleza no olhar de um Celso Mancebo da "Rua da Vista", sinto o cheiro forte do suor de "Charutinho Engraxate," covardemente morto por uma policia bandida e oficial e abomino o perfume indecente das mulheres que teimam em fazer caridade sem descer dos seus pedestais feios e com perfumes importados. Como esquecer "Água Viva" na sua santa existência de bandidinho da roça enfrentando as feras policiais na Baixada Fluminense ? E "Jorge Mistral"? Onde andará?. Dodô acha que ainda vive em precose velhice na cidade de Rio Bonito onde cumpria pena.
Não me formei em Faculdades embora tenha freqüentado algumas delas. Sou datilografo e aprendi a escrever no computador com meu filho "Zé Paulo" de ll anos que vai formatando e salvando textos que escrevo quando minha memória pede e meu desejo aflora.
Na Faculdade de Direito de Campos, onde era acadêmico, deixei e trouxe amigos que até hoje ainda temos no comum das alegrias. Milton Benjamin, Enilton, Jonathan, Agildo, Otinho, Adilson Gusmão, são algumas destas lembranças. Eles se formaram. Eu e "Otinho" somos o que chamam de quase Bacharel em Direito. Sabemos tudo mais não somos doutor. Preferimos manter nosso nome de batismo , sem o pré-nome. Formamos juntos na Faculdade das Vivências que o tempo não atropelou e que não se aprende nas Faculdades oficiais e oficiosas.
Na Faculdade de Letras ainda tenho nas retinas acesas o brilho das amizades de Mariluce de Antão Freitas , Moru de Ellan 70, Beatriz de Nelito, e tantas outras que não sumiram no tempo nem nas poeiras das ruas. Navegam vivas nas nossas memórias. Na Faculdade de Medicina onde queria ser Psiquiatra, passei e nem fui na Aula Inaugural em Niterói. Achava e acho ainda Niterói muito longe.
Vejo a existência de uma Borboleta como do próprio homem que desconhece na transformação a sua essência. Por isso que sempre que posso olho para a desdentada mulher de rua e embelezo- me com seu semblante fixo na existência do universo belamente refletido no brilho interior de seu olhar e alma.
Aprendi a ver o belo onde ele se esconde, na interiorização de um olhar triste ou no sorriso interrogativo de uma criança.
Ver a virgindade da uma prostituta e a depravação em uma virgem não tem o sentido que o social criou ou fez ser norma. Ambas existem ou inexistem na existência que flui. Deste mundo sei tudo e vivi tudo. Quando muitos dormiam eu vivia as minhss noitadas que tingiram de branco a minha cabeça. Dai porque falo e escrevo.
Procuro ver o interior da alma e nela vejo todas as maldades escondidas e todas as belezas do divinal nascente. Quando teclo na internet procuro sempre o melhor dos momentos procurando na interrogativa do anonimato formar uma corrente de amigos e amigas que se estendem pelo mundo afora e que me fez ver a beleza da tecnologia numa aliança pura com conhecidos que nem sei o rosto mas que transmitem no teclar os sentimentos que cortam o PC e chegam a alma.
Aprendi muito com Cláudio Upiano, meu companheiro de noites indormidas na redação do nosso "O REBATE" . Cláudio dizia, com a fala vinda do interior das verdades escondidas nos sussurros que só ele sabia transmitir. Dizia o mestre que admirava um amigo comum que era deísta. Achava que este deveria ser feliz pois tinha onde jogar as interrogativas da existência. Ele não.
.Cláudio tinha percepção aflorada de uma forma brilhante. Tive, como poucos, o divino momento de vê-lo gargalhar longamente ao ponto de fazer balançar os músculos de seu abdômen Observa-lo sair de fininho de uma mesa chata e, quando o seguia e o cutucava por trás não precisava dizer nada. Queria a minha presença. Era como um irmão mais velho e quando o visitei na UERJ o brilho de alegria com que perguntava por Lúcia, Luís Cláudio e Aninha trazia a existência do mestre ao mundo real e era só perguntas e mais perguntas sobre "Frota", Euzébio, "Turrinha", "Arthur da Sinuca", "Comandante", "Zé Caxias" "Adão PM", "Filhinho" Monteiro, Ricardo e Roberto, "Dunga", "Zé Que Não Dança" , "Didi Caetano" e Sargento Pereira... Cláudio gostava de escrever sobre o esporte de Macaé.. A exemplo de Jayro Bacellar Vasconcellos, Luiz Pinheiro e Milton Madureira ele retratou no "O REBATE", de l967 até l972 as lindas jogadas de Geraldo "Cara Suja", Aryzinho, Nier, Dondoco, Hélio Cabral, Didi, Nilson e os majestosos dribles do fabuloso George de Rio das Ostras.
Cláudio criava fatos na imprensa de uma maneira exclusiva e dele. Criou coluna "Bicando na Grade" com intuito de "entrar com o jornal na rinha. Era dele a coluna "Do Bom Futebol" onde retratava a história de nosso mundo esportivo e fez o leitor rever as jogadas de "Armandinho", Sá, "Lulu" e Floriano em suas andanças pelo futebol brasileiro...As descrições das jogadas de Armandinho no Flamengo, Madureira, Penharol e América levavam o leitor as delícias de um envolvimento nas belezas de um passado distante e saudoso.
Quando das suas ausências para lecionar na UERJ Macaé começava a coçar o interior do seu eu e o Filósofo se via no "Bar e Restaurante Belas Artes". Transportava -se para a mesa de "Pontinho" e "Campista", perguntando de Cecílio, Major Nogueira. Iltamir Marcio Paes, Antão Freitas, "Manel" Maia, Conceição, Dodô, Waldecy, Bill e outros nomes que bailando na mistura de Kant, Deleuse e Sócrates faziam borbulhar a essência vital do todo mestre; "A volta ao mundo de suas saudades havidas".
Não havia distanciamento entre os livros e os encantos da meninice do Mestre Upiano. Parecia que a cidade , a "Rua Direita" , o "Café Belas Artes", "Carminha", Ceny, "Alvinho", "Dunga" o "Império" e o "Imperatriz" estavam mais vivo em sua mente que toda a cultura acumulada nos anos de debruçamento na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro onde foi Mestre em Filosofia Pura.
O mestre via e comentava o raciocínio rápido de Izaac de Souza, entendia a pura solidão do Mitão e recordava a beleza do olhar curioso de "Itinho Cabeludo"e o rompante argentino de Oswaldo.
E ainda tinha tempo para deliciar-se com banditismo cândido e nativo de Xavier. Questionava o saber de Euzébio,Padre Nabais, de "Toninho Garçom" ou de "Marquesinho"de Lima. Numa forma ,divinamente afetiva que punha a mostra a feliz essência de um vital bairrista e uno.
Durante minhas vivências com o "Movimento Hippie" dos anos 70 e minha participação ativa na Contra -Cultura, ouvi de um andarilho e artesão inglês uma frase que me marcou e foi determinante para o fim do "Movimento Hippie" e o retorno as casas e cidades de antanho. Me falou este artesão inglês, que fazia questão de dizer-se do Reino Unido:
"Andei mundos, conheci gente. Rompi barreiras internas e externas de meu mundo interior e exterior. No entanto, ainda estou preso as minhas essências e meu cordão umbilical lá onde nasci e deixei mundos. Sonho com minha mãe, pai e irmãos Não consegui romper tudo. Voltarei ao Reino Unido". Neste dia, numa roda de velhos hippies que vaqueava mundo e hospedavam-se comigo no Sitio, selou-se o fim do Movimento.
Revi este belo amigo na praça da Sé em São Paulo. Regressava a sua terra. Seus cabelos e barbas loiras deram lugar a nova roupagem. O "Paz e Amor" continuava a brilhar em seus olhos. Apenas "Recolhia a Bandeira" e trocava as vestimentas .
"De baixo dos caracóis de seus cabelos, uma história pra contar, de um mundo tão distante..."
Era o final do movimento e o retorno dos sobreviventes que "como eu, amava os Betles o os Rony Stons".
Cláudio, com Macaé e sua gente, era mais ou menos isso. O suor de seu envolvimento fraterno com as essências vitais do nosso quotidiano escorregava de sua face bonita de formato Oriental. O interior de Cláudio Upiano o fazia belo, contracenando com o maço de cigarro continental sem filtro amassado. Realçando na maneira de deixar no chão as caixas de fósforos caídas, dos esvoaçados cabelos e das melecas postas sob as meses dos bares.
Cláudio era um dos maiores e mais bem dotados símbolos da inteligência humana. Seu pensamento pulsava na frente e, ao tempo que chorava com a perda de Álvaro, "Dunga" e "Motinha", sorria com as estripulias comerciais de António Carlos "Capitão" e sabia ser sério e forte em defesa de seu ideal Marxista/Leninista. Me cumprimentava afetivo e com afagos por eu ter fundado o PT.Partido que ele via com bons olhos no decorrer dos anos 80.
Itagiba sabia que eu não tinha paciência para ler livros e que tudo que sabia era aprendido na faculdade da vida, nas conversas de botequim ou de mesas dos "bast-fond" das noites. Com isso era comum rirmos secretamente quando algum dos neófitos em filosofia olhava para mim como se eu fosse também filósofo e leitor dos modernistas.
Um dia quando estávamos numa mesa do Imperatriz fiz o mestre quase cair da mesa em seu sorriso de menino. Estava ele discutido sobre Deleuze, Marcuse, Sartre e se não me engano Sócrates. Em dado momento vira- se para mim e. no olhar senti que estava ficando entediado com a conversa. Pede um café .Acende um continental sem filtro. O cara que o importunava, vira- se para mim e faz perguntas sobre filosofia pura. Olho para Cláudio e, rapidinho respondo que meu livro de cabeceira era Kant. Cláudio arregala o olhar de menino, engasga com o café e quase que se queima com o continental sem ponteira.
O olhar do companheiro de mesa se torna respeitativo a meu respeito ao ponto de tentar dar uma folga mental ao Mestre e, querendo extrair de mim algo para sua curiosidade filosófica. Quando senti isso e que Cláudio precisava desopilar seu fígado fui logo finalizando que Kant era meu livro de cabeceira porque dormia nele como travesseiro.
Toda vez que este aluno das curiosidades filosóficas se aproximava das nossas noites Cláudio ensaiava um sorriso que o fazia voltar as suas infâncias nas ruas empoeiradas de Macaé e me perguntava como andava eu nas leituras de Kant.
Era nossa senha para deixar a mesa, sair de fininho sem pagar os cafés e irmos para a redação do jornal para revisarmos as composições de Pedro Paulo, Chico, Izaac, "Alfredinho Surdo", Moisés, Roberto, "Babá" e discutirmos a paginação com "Marquesinho". Ai o Mestre era aluno destes gráficos que lhes passavam ensinamentos de medidas de corpo 8, l0 ou l6 grifo.
Muitas noites a gente entrava de olhares sombrios com a fina friagem das madrugadas e lá estava Cláudio e Ivairzinho abraçados ao mestre Maximiliano de Souza Lima, o velho "Marquesinho",. aprendendo a espalhar os quadrados na Caixa de Quadrados. A tarde era para desempastelar os que Ivairzinho punha empastelado. Colocava quadrado de oito na caixa de l2 e de l0 na de 8. Jorge "Babá" Moisés e Roberto, pacientemente redistribuíam e a rotina na composição era reiniciada com novas descobertas neste mundo mágico que as artes gráficas nos fazia conhecer nos anos 60 e 70.
Cláudio ia assimilando tudo e parecia um menino no aprendizado das caixas de tipos e bolandeira. Já se tornava familiarizado com a caixa de quadrado e seu sonho maior era ver uma composição no corpo 6 e no 10 negrito que achava lindo quando impresso.
Vez ou outra quando Sérgio e Ivairzinho, seus irmãos, vinham até Macaé eles o encontravam debruçado em caixas de tipos e recostados em resmas de papel. Era assim que o mestre participava das existências macaenses e deixava sua marca.
Escondido aprendeu a encadernar folhas coloridas e sob seus braços levava um catatau de maçarocas coloridas que escrevia por horas a fio no seu sentamento físico nos Bares. "Bar Império", "Imperatriz", "Belas Artes". Em "Dona Dadá" nas tardes, as presenças nas mesas fazia parte de um mundo onde somente o brilhar das luas e os fios coloridos do sol nascente podiam testemunhar as noites, indormidamente belas, de uma cidade que ainda dormita em fracas recordações de seus vultos nativos.
Ainda sobre Cláudio Upiano quero deixar eternizado que nestes anos havia uma grande euforia para o Saber e muitos dos que se ensaiavam na busca da filosofia vindo, principalmente da França, procuravam rebuscar livros, ler orelhas de publicações e se procurar exibir-se como inteligente se aproximando de Cláudio em suas andanças noctívagas pelos bares mal iluminados das noites macaenses nos anos 60 e início de 70.
Um destes alunos do conhecimento, sabendo de minha aproximação fraterna com o Mestre um dia, com olhar chantagista e meio sorrateiramente pediu. "Milbs veja qual o livro que o Cláudio esta lendo e a página que eu quero tirar uma dúvida". Eu, de malandragem e querendo ver sempre o "circo pegar fogo", até nos meios do Saber, cutuquei meu gnomo anarquista e fui direto ao Cláudio lhe contando da curiosidade cultural do seu amigo de bar. Cláudio, que sempre trazia o livro dobrado e o levava até para o banheiro, não perdeu tempo. Riu de lado, mostrando também seu gnomozinho interior e falou.
"Diga para ele que estou lendo Teoria do Conhecimento de Aristóteles". Era uma doce mentira que levaria o curioso aluno a uma busca do inexistente. Cláudio Estava relendo Deleuze.
O Mestre sabia que as pessoas queriam apenas se aproximar dele e para tanto usavam deste subterfúgio do Saber, com o intuito de, lendo as páginas que o mestre se debruçava noites e mais noites pesquisando poderem tirar algumas interrogativas.
O Rio de Janeiro, a UFERJ o levou para um Maravilhoso Mundo Novo onde sua filosofia iria transpor as portas do "Imperatriz" e das mesas do "Belas Artes" para florir em Ipanema e nos salões escovados do "Hotel Glória" sem nunca esquecer o cheiro das nossas maresias noturnas...
Macaé ainda estava no acanhamento de uma "Cidade Pura" e haviam preferências inteligentes que por aqui moravam. Eram gente de outros países, em maioria europeus diferenciados dos atuais estrangeiros que aqui estão após a abertura dos canais de petróleo. A diferença se pode notar na busca que cada um nos oferecia e oferece hoje. Aqueles tinham a sua vinda em busca da paz, do saber e da beleza de uma "Cidade Pura" tão bem colocado por Paulo Mendes Campos quando de sua visita à Macaé em entrevista que concedeu a mim para " O REBATE"
Os atuais estrangeiros vieram em busca do "Ouro Negro", da destruição da beleza e da busca da cidade impura. Daí que, quando a gente tinha as presenças de nossos estrangeiros tinha o odor do jardineiro que não colhe as flores. Apenas as molham e as deixam florir e se transformarem em estrumes naturalmente. Estes de hoje se podemos comparar, com raras exceções, aos vendedores de flores que as olham com o olhar sifronado e impuro.
Assim foi que tivemos homens de saber nas ruas de Macaé nos anos 50 ou 60. Era comum conversamos com "Grego" da Geladeira, "Seu Cristo" também Grego e sua esposa Madalena. "Tadeu" pai de Vicente e Casimiro que era Polonês, Dona Maria sua esposa, Manolo. Zé Maria, Olinto, Verdeguer, Mário Corral, David, "Júlio Gringo", Farid, Serafim. Takaoca, Waldemar da Costa e Sonia Rocha. Sonia uma verdadeira Baiana de Macaé. Pintura internacionalmente conhecida ela veio e não quis mais sair de nosso convívio. Como a maioria de seus simpáticos irmãos que espalham suas essências de espiritualidade e grandeza por onde passam. O trabalho artístico de Sonia tem levado o nome de nossa cidade muito mais longe do que se enganam e suas teles são as mais premiadas da atualidade.
Quero falar de uma cidade onde as saudades eram uma verdade sem contestação. Das geladeiras consertadas pelo Grego e das panelas consertas por seu Canico.
Era como que na busca de uma família nova os tivessem feito chegar. amalgamando- se a existência macaense de uma forma pura e sem traumas.
Os Italianos Franco e Sérgio Cipriani. Sérgio prematuramente morto e que quase se casa com Glorinha de Ruy e Carmen. Franco se casou com Magdala de Abraão e Abgail Agostinho.. Era destes pequenos incidentes estrangeiros que se forjavam as nossas tardes noites de entretenimentos e cumprimentos que iam desde a freqüência de bailes a domingueiras religiosas.
Macaé era uma cidade onde as pessoas podiam ir chegando de mansinho e ficando de mansinho. Alguns mineiros "Hebinho" e Bernardes, "Niltinho", Wilson, Aylton de Marly e sua irmandade foram ficando e ficando formaram descendências. Adonias, Seu Linhares e dona Lilian pinçados pelas mãos mineiras de Gilberto Quedes. Era a Minas de Passa Quatro que forjariam novos descendentes de uma Macaé que se misturava devagar, devagarzinho nos novos sangues que vinham aqui habitar.
Nas domingueiras do Ipiranga, nas duas sessões do "Theatro Taboada", nas do "Cine Santa Izabel" e nos bancos do colégio Luiz Reid estes novos macaenses iam se amalgamando aos nativos num entrosamento puramente aceito e integrado.
Não havia a imposição de uma chegada. Havia uma escolha para vir para cá. Assim como António "Parodi" veio, assim como Olinto e assim como o velho "Espanhol" da Colônia dos Pescadores e Serafim com sua meiga esposa.
As presenças nas esquinas da vida tinham a simpatia de um "Jorginho Itaperuna" com sua sabedoria precoce e a essência nativa de José Márcio Durval. As longas e calmas intervenções nas falas de Charles Manhães e o curioso Olhar de "Tututa" e Denyr.
Os chamamentos, os nomes eram todos afetivos. Tinham os sobrenomes criados no decorrer dos conhecimentos. Quando se falava em Félix era comum a pergunta. Que Félix? E a resposta vinha logo na identidade criada no dia a dia. "Félix do Mercado"?"Félix Relojoeiro"?"Félix Guarda"? ou Félix Rosendo de "Rodagem"? Ou Felix filho de seu Paco do Belas Artes? Era este os sobrenomes que corriam. Pessoas que até esqueciam seus verdadeiros nomes adaptando-se aos "nickes" de uma forma extremamente carinhosa.
Quando ainda menino as ruas da cidade não sabiam o que eram luzes, apenas Vaga-lumes enchiam as noite depois de um entardecer que vinha sempre após a Ave Maria das 18:00.
Um rádio rabo-quente azul que, entre estalidos e enervações, era o responsável pelo seriado Anjo que vinha logo depois da "Ave Maria" e que precedia o direito de Nascer onde "Mamãe Dolores" e "Albertinho Limonta" faziam as cabecinhas puras de senhoras, senhoritas e crianças que, se acocorando ao redor da Maquinas de Costura "Singer" e novelos de lã, espreitavam e já de pequenos começavam a discutir este dia a dia em horas de almoço e jantar apressado para não perderem a novela e torcer por seus personagens.
Nós ainda éramos pegos, apenas, pelo auditivo e as mentes podiam viajar colorido, criando valores dando nosso próprio formato ao real não visto e por isso mais belo. "Banho Geral" em bacias com fundo de madeira que nunca vazava água. Estas eram esquentada nas manhas de sol de janeiro no quintal a espera da hora do banho para ir a escola.
A televisão veio para colorir de feios gostos e criar a massificação programada. As pessoas imaginavam a negra e pura presença da "Mamãe Dolores" talvez até já tendo esta imagem da "Mãe Negra" contada em fatos e havidos de avós que vivenciaram a sua época nos sertões de Carapebús e Quissamã..
Era uma imaginação fertilmente pura e afetiva. Até mesmo a voz firme do seriado "Anjo", de "Jerônimo, Herói do Sertão", nos entrava com sonorização menos brutal que os da TV do ano 2000. As pessoas podiam ser levadas ao imaginário apenas pelo auditivo.
Um galo vermelho, sempre cantando, dava entender que o recolhimento da noite tinha um sentido global. Pula- pula de galinhas em galhos com cheiro/cheiroso de seus cocôs. Aves faziam trincheiras em gravetos quebrados pelo pisar humano e iam, colorindo-os ao tempo, que se envergavam, num bailado de sonhos de galináceas e pássaros. Me lembro de uma galinha que eu e Djecila apelidamos de "Maricota". Ela punha no mato do visinho e, quando chocava, vinha carregada de pintinhos coloridos.
Eu não entendia e ainda não entendo a diversificação colorida dos pintinhos da Maricota. Ficava horas olhando seu empenamento e com o tempo sentia sua presença viva no quintal.Todas as galinhas eram comidas no tempo certo menos a "Maricota". Morreu de velha a mestiça misturada com carijó.
O cachorro "Kirkes", nome pomposo de algum americano que já devia estar perturbando e poluindo a mente de meus pais, era a alegria da varanda e da rua, assim como "Susy" outra cachorrinha que morreu com l6 anos na varanda de minha casa na rua do Meio. Na verdade deve ter morrido com 75 anos. Segundo Ângela Rocha, contagem de tempo de cachorro é multiplicado por 5 ou seis.
Quando as galinhas iam para o quintal de dona "Cotinha", nossa vizinha do lado esquerdo, ela avisava - "Olhe crianças tem galinha pondo aqui em casa".-"Deixo para chocar ou vocês querem os ovos"? A gente queria mesmo era os ovos para bater "Paco-Paco" que se fazia remexendo a clara até ficar em posição de virar o prato e não cair. Ai misturava a gema, batia, punha açúcar, uma picadinha de sal e farinha.
Era uma das delicias que minha bisavó aprendeu nos seus tempos no sertão de Carapebus.
A noitinha, milho assado, "Pru-Pru Eu Entro", que era uma espécie de "Purrinha" só que com milho assado que quem perdia entregava os caroços que eram comidos pelo vencedor.
Algumas crianças "trocavam de mal" devido a não poder entrar nos jogos e "ficavam de bem" sem que houvesse necessidade da "Folhinha Verde" que identificava quem não a tinha nas mãos e sofridamente ficava de"Mandrake".
A Folhinha Verde me salvou muitas vezes. Vocês já brincaram de Folhinha Verde? Então sabem que a folha do Fico é a que mais demora a amarelar. Na casa de "Cadinho", primo de Ralph tinha um "Pé de Fico" onde a turma da praça Veríssimo de Mello sempre pegava as folhinhas. Elmo, Orlacy, "Marquinho Caúna", Paulo Emílio, Francisco, "Calú", sobrinho de Maria Inêz Patrocínio, Moacyr, Marlécio e "Zebinho".
junto com a bela mansão que seu Gastão construiu. Com isto parte de muitas memórias ficaram escondida no esquecimento da maldade humana em busca de construções feias e de lucro fácil. Durante muitas décadas dona Myrsys ensinou a milhares de jovens a arte da datilografia em suas memoráveis maquinas "Hemmingyton". Um época onde nem se pensava em computação, era este um meio de se pensar trabalha em algum escritório. Os cursos tinham duração de 3 ou 4 meses a gente ia se aperfeiçoando no " a s d f g " de um lado e em "ç l k j h" de outro, em exercícios longos e que eram vigiados por ela em passadas rápidas e sorrateiras.Tinha uma "viseira" em cima do teclado que de vez em quando, quando dona Mirsys ia olhar outro aluno, a gente olhava furtivamente para ver se tava com a mão no "s" ou no "a."
Não tivesse eu estudado ai nesta linda Escola "Pratt" não teria sido copista datilografo do Cartório do 3 oficio; não teria sido auxiliar de escritório na Bariloche; não teria assumido o cargo de Agente Adminstrtivo, por concurso, no Inamps e nem estaria hoje teclando estas memórias no Word de um possante computador onde o teclado é quase igual ao da velha e lenta "Hemmington".
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