O Sniper Americano não foi um herói

Apesar do que alguns possam pensar, “herói” não é sinônimo de “assassino competente contratado pelo governo”.

Se Sniper Americano, filme recordista de bilheteria de Clint Eastwood, lançar uma discussão pública franca a respeito da guerra e do que significa o heroísmo, o diretor terá feito um trabalho extremamente necessário para os Estados Unidos e para o mundo.

Esta não é uma resenha do filme nem mesmo uma resenha do livro autobiográfico de Chris Kyle em que o filme se baseia. Meu interesse aqui é na percepção popular de Kyle, o francoatirador mais prolífico dos EUA, um título que ele recebeu em suas quatro passagens pelo Iraque.

Lembremos de alguns fatos, que talvez Eastwood pense ser óbvios demais para ser mencionados: Kyle foi parte de uma força de invasão. Os americanos entraram no Iraque. O Iraque não invadiu os EUA nem atacou cidadãos americanos. O ditador Saddam Hussein nem mesmo ameaçou atacar americanos. Ao contrário do que foi sugerido pelo governo George W. Bush, o Iraque nada tinha a ver com os ataques de 11 de setembro de 2001. Antes de os americanos invadirem o Iraque, a al-Qaeda não estava lá. Também não estava na Síria, no Iêmen e nem na Líbia.

O único motivo por que Kyle foi ao Iraque foi devido à guerra de agressão contra o povo iraquiano promovida por Bush, Cheney e companhia. Guerras de agressão, lembremos, são ilegais sob o direito internacional. Os nazistas foram executados em Nuremberg por iniciarem guerras de agressão.

Com esta perspectiva em mente, podemos nos perguntar se Kyle foi um herói.

Defensores de Kyle e da política externa de George Bush diriam: “É claro que ele foi um herói. Ele salvou vidas americanas”.

Mas quais vidas foram essas? Foram vidas de militares americanos que invadiram outro país que não apresentava qualquer ameaça a eles ou aos americanos dentro dos EUA. Se um invasor mata uma pessoa que tenta resistir à invasão, isso não conta como heroica autodefesa. O invasor é o agressor. O invadido é quem se defende. Se há um herói nesta história, é este último.

Em seu livro, Kyle escreveu que lutava contra um “mal selvagem e desprezível” — e que “se divertia” ao fazê-lo. Por que ele pensava isso sobre os iraquianos? Porque os homens — e mulheres, a primeira pessoa que Kyle matou era mulher — resistiam à invasão e à ocupação de que ele fazia parte.

Isso não faz sentido. Como já afirmei, resistir a uma invasão e ocupação — sim, mesmo quando árabes são os resistentes — simplesmente não é maligno. Se os Estados Unidos fossem invadidos pelo Iraque (que tivesse um poder militar maior, isto é), os atiradores americanos que matassem resistentes americanos seriam considerados heróis pelos que idolatram Kyle? Acho que não e não acredito que os americanos achariam. Pelo contrário, os resistentes seriam os heróis.

O filme de Eastwood também mostra um francoatirador iraquiano. Por que ele não é considerado herói por resistir à invasão de seu país, como os americanos em meu exemplo hipotético? (Eastwood deveria fazer um filme sobre a invasão do ponto de vista dos iraquianos, da mesma forma que fez um filme sobre Iwo Jima do ponto de vista dos japoneses para acompanhar seu filme da perspectiva dos americanos.)

Não importa quantas vezes Kyle e seus admiradores se refiram aos iraquianos como “o inimigo”, os fatos não mudam. Eles eram “o inimigo” — isto é, pretendiam causar dano aos americanos — somente por que as forças americanas iniciaram uma guerra não-provocada a eles. Kyle, como outros americanos, nunca teve que temer que um iraquiano o mataria em casa dentro dos EUA. Ele tornou os iraquianos seus inimigos, entrando eu seu país sem convite, armado com um rifle. Nenhum iraquiano pediu para ser morto por Kyle, mas realmente parece que Kyle estava pedindo para ser morto por um iraquiano. (Em vez disso, outro veterano dos EUA fez o trabalho.)

Claro, os admiradores de Kyle discordariam dessa análise. Jeanine Pirro, comentarista da Fox News, afirmou:

Chris Kyle tinha clareza sobre quem eram os inimigos. Eram aqueles que seu governo o enviou para matar.

Impressionante! Kyle foi um herói porque ansiosa e habilidosamente matava quem quer que o governo lhe dissesse para matar? Conservadores, supostos defensores da limitação dos poderes do governo, certamente têm uma noção esquisita sobre o que é o heroísmo.

Desculpe, mas eu tenho dificuldade em ver uma diferença essencial entre o que Kyle fez no Iraque e o que Adam Lanza fez no tiroteio da escola primária de Sandy Hook. Certamente não foi heroísmo.

Sheldon Richman é ativista libertário, vice-presidente da Future of Freedom Foundation (fff.org) e colunista frequente do Centro por uma Sociedade Sem Estado (c4ss.org)

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