Marine Le Pen “legitimada”

A lição básica das experiências dos anos 1930s, é que a luta contra o fascismo deve ser travada e sempre será travada como guerra contra o sistema capitalista e suas representações políticas..

Marine Le Pen - The New York Times

A campanha internacional para “legitimar” os políticos fascistóides da Frente Nacional (FN) francesa alcançou um novo estágio nesta segunda-feira (19/1/2015) com a publicação no jornal The New York Times de um artigo assinado pela líder do partido, Marine Le Pen, sobre o tiroteio na sede do jornal satírico Charlie Hebdo. [1]

Ao franquear suas portas para Le Pen, o jornal, degradado pilar do liberalismo americano, sinaliza que significativas partes da classe dominante americana consideram que as ideias da líder fascista são parte fundamental do debate público sobre assunto. O The Times ainda tomou a medida de incluir uma tradução simultânea em francês, assegurando-se de que a coluna receba a maior divulgação possível também na França.

Le Pen está sendo promovida, como parte de um esforço comum empreendido pela elite da classe dominante, no desenvolvimento de uma corrida anti-islâmica para confrontar ao mesmo tempo a oposição anti-imperialista no Oriente Médio e os distúrbios sociais em casa. As charges anti-islâmicas do Charlie Hebdo foram proclamadas pomposamente como símbolos da democracia, e neste instante Le Pen representa nada menos que alguém para “salvar a pátria”.

Os argumentos chauvinistas de Le Pen no The Times (sob a manchete “Chamar essa ameaça de ameaça”) foram claramente inspirados no arsenal ideológico dos EUA em sua “Guerra ao Terror”. A França, “terra dos direitos humanos e da liberdade, foi atacada em seu próprio solo por uma ideologia totalitária: o fundamentalismo islâmico” – escreveu ela.

Não à Mesquita - Front National

Em seguida, Le Pen clama pelo desmantelamento efetivo das liberdades e dos direitos humanos na França, a fim de mover uma guerra contra os mais de cinco milhões de muçulmanos que fazem parte do povo francês, propondo nada menos que “uma política restritiva à imigração”, novas medidas para retirar deste povo a cidadania, e uma luta contra o “comunitarismo e estilos de vida que estariam em desacordo” com as tradições francesas.

Enquanto providencia uma plataforma política para Marine Le Pen, o The Times não se preocupa minimamente em informar a seus leitores o pedigree político da francesa. A Frente Nacional foi formada em 1972 por antigos apoiadores do regime colaboracionista de Vichy, que efetivamente apoiou os nazistas na Segunda Guerra Mundial, e por defensores do brutal domínio francês na Argélia.

A Frente Nacional é conhecida por seu ativo racismo antimuçulmano e antissemita, seu nacionalismo virulento e seus ataques, por capangas violentos, a oponentes políticos. Como justificativa para a decisão de publicar a coluna de Le Pen, os editores do The Timesargumentam que, gostando-se dela ou não, Le Pen não pode ser ignorada. Os defensores do jornal provavelmente argumentarão, que, dada a Le Pen uma plataforma, ela na realidade estará se expondo.

Não passa de rematado absurdo.

A verdade é que Le Pen está sendo deliberadamente “legitimada” pelo The Times, assim como foi “legitimada” também pelo presidente francês, François Hollande, que, ao convidar Le Pen para o palácio Eliseu, logo após o tiroteio fatídico no jornal satírico Charlie Hebdo, deu a ela e à Frente Nacional uma estatura política que, antes, nunca haviam tido.

A promoção de Le Pen faz parte de um notável crescimento, no plano internacional, de organizações de caráter fascista e de extrema direita. No último ano, os EUA e a Alemanha trabalharam em conjunto com os partidos [de fascistas ucranianos] Setor Direita (Pravy Sektor e Svoboda) – organizações que celebram como heróis os nazistas ucranianos que colaboraram com os nazistas alemães durante a Segunda Guerra Mundial – para derrubar o governo eleito e pró-Rússia de Viktor Yanukovich. A movimentação foi apresentada, em termos políticos, como se fossem esforços em direção à democracia.

Na Alemanha, a classe dominante está em movimentação para livrar o país de todas e quaisquer restrições impostas ao militarismo germânico logo após o final da Segunda Guerra Mundial, e trabalha ainda para minimizar e justificar os crimes cometidos no passado. Jorg Baberowski, um dos principais historiadores da Universidade Humboldt de Berlim recentemente argumentou que “Hitler não era cruel”; e que sairia ganhando, se se comparassem suas ações e as de Stalin ou outros líderes soviéticas.

A Chanceler Angela Merkel referiu-se em um discurso recente, à necessidade de que os cristãos “fortaleçam sua identidade” e “falem sempre com mais confiança sobre seus valores cristãos” – um indisfarçado encorajamento dos sentimentos antimuçulmanos, calculado para reforçar ainda mais e também para “legitimar” a agitação racista do movimento PEGIDA, de extrema direita, na Alemanha.

Parece que as vozes dos nazistas devam ser consideradas, ao mesmo tempo em que aumenta o prestígio e a influência da aristocracia corporativa financeira. Ao mesmo tempo em que veio à luz a coluna de Le Pen no New York Times, Le Pen destacou-se também em fulgurante entrevista ao Wall Street Journal. Coerente com os cálculos da classe dominante o jornal esclareceu que

(...) se há algum tempo a senhora Le Pen não passava de uma espécie de aberração política, hoje ganhou proeminência na medida em que os problemas da França – uma economia moribunda e uma população muçulmana não assimilável – tornaram-se mais e mais agudos e aparentemente sem solução possível nas mãos da classe política tradicional.

Neste ponto, o jornal se refere ao fato de que, devido à demorada crise econômica, o establishment político está profundamente desacreditado na França, tanto interna como internacionalmente. No esforço para criar apoio ao seu domínio, a elite financeira está buscando apoio na pequena burguesia, da qual busca mobilizar algumas porções dessa classe baseada em extremado nacionalismo.

Ao mesmo tempo, as forças de extrema direita estão explorando as condições de colapso da “esquerda” apresentando-se como a principal força de oposição.

Hitler é eleito Chanceler da Alemanha em 1933

A lógica dos desenvolvimentos segue caminho previamente traçado. As políticas contemporâneas parecem assumir cada vez mais as características dos anos 1930s, quando as elites dominantes na Europa se voltaram para os partidos fascistas, na tentativa de defender seu domínio. Hoje, a promoção e pseudo-legitimação de pessoas como Marine Le Pen fazem parte de um esforço mais amplo, que busca usar o racismo antimuçulmano como apoio para operações imperialistas no exterior e desculpa para o ataque aos direitos democráticos em casa. As classes dominantes na França, Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha e outros poderes imperialistas estão conspirando e iniciando novas guerras no Oriente Médio e no Norte da África.

Quem “salvará” as elites europeias?

Internamente, a classe dominante a cada dia mais se preocupa com o crescimento de oposição social na classe trabalhadora. Nesta semana, na reunião de bilionários no fórum econômico mundial de Davos, um relatório mostrou que em 2016 os 1% mais ricos da população mundial deterão mais riqueza que todos os demais 99% restantes. Os 80 indivíduos mais ricos terão mais riqueza que a metade mais pobre da população do planeta Terra (cerca de 3,5 bilhões de pessoas – 3.500.000.000 de pessoas). Estas condições são insustentáveis. A oposição das massas é inevitável.

Juntamente com uma campanha asquerosa contra a população imigrante, a classe dominante está apoiando e pseudo-legitimando movimentos fascistas e chauvinistas, para direcioná-los contra as classes trabalhadoras como um todo.

A lição básica das experiências dos anos 1930s, é que a luta contra o fascismo deve ser travada e será travada como guerra contra o sistema capitalista e suas representações políticas.


20/1/2015, Joseph Kishore e Alex LantierWorld Socialist Website
The legitimization of Marine Le Pen
Traduzido por mberublue

Nota dos revisores

[1] A Folha de S.Paulo, cujo jornalismo-de-fascistização-do-Brasil, hoje, é a vergonha de várias gerações de jornalistas em todo o mundo, publicou, uma “entrevista por e-mail” com Marine Le Pen, DEZ DIAS ANTES DE O NYT dar voz àquela pervertida, em que ela diz precisamente as mesmas barbaridades fascistas que, quase duas semanas depois, o NYT e o WST consagrariam para o mundo.
SANTO DEUS! Em matéria de fascismo ativo, a FSP dá de dez no NYT! [Nota dos revisores]

http://redecastorphoto.blogspot.com.br

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