Uma crônica absurda no país do absurdo

    É difícil entender como é possível que os cargos mais importantes da vida pública de um país sejam motivo de negociação política pelos eventuais donos do poder de uma nação. Os ministros do Supremo Tribunal Federal são nomeados por políticos que estão eventualmente na presidência.

    Todos os nomeados pelo presidente serão sabatinados pelos senadores, e referendados depois de muito toma-lá-dá-cá.

    Isto é um absurdo !

    Sempre que falo em absurdo eu tenho que abrir um parágrafo especial para o principe dos ladrões, o juiz Nicolau dos Santos Netto. Até a noite de sexta-feira, 27 de julho passado, ele  descansava confortalvemente na bela mansão que foi erguida com dinheiro surrupiado dos cofres públicos.

    O vaivém do larápio entre a prisão e a mansão já está virando uma novela. Uma juiza solta a outra manda prender. No capítulo atual, a juíza federal Paula Mantovani Avelino, da 1ª Vara Criminal da Justiça Federal em São Paulo, determinou que o juiz Nicolau volte para a cadeia a fim de cumprir os 26 anos e meio de reclusão aos quais foi condenado em 2003. Com base em nova avaliação clínica a juiza chegou a conclusão que ele não é maluco e nem apresenta sintomas de depressão, podendo perfeitamente cumprir na cadeia o castigo pela roubalheira que realizou.

    O ladrão deverá ficar louco de raiva porque ninguém aguenta ser trancafiado numa cela sabendo que tem uma fortuna espalhada pelos bancos do mundo e não pode aproveita-la. Diante disso, ele vai entrar em "depressão", e em poucos dias, com uma nova avalição médica, o juiz ladrão estará de volta a sua mansão. Esta novela é vergonhosa e deixa o cidadão brasileiro cada vez mais apático e descrente da justiça.

    Isto é um absurdo !

    Mas voltando ao nosso absurdo do momento, depois de tres anos o STF resolveu colocar em julgamento se iria investigar ou não a quadrilha do mensalão. Decidiram pela investigação dos 40 mensalários, mas o processo deverá durar mais alguns anos, rolando prá lá e prá cá.

    A bisbilhotagem "orkutiana" feita pelo repórter fotográfico  Roberto Stuckert Filho, do jornal O Globo, na primeira sessão pública do STF, onde se realizava o julgamento dos 40 mensalários, mostrando o bate-papo virtual na tela do notebook da ministra Cármen Lúcia e do ministro Ricardo Lewandowski, foi muito elucidativa.

    Por estarem teclando em público diante de uma platéia ávida por informação, todos pensavam que os  tecladores estivessem tratando de assuntos relativos aos pormenores técnicos do julgamento. 

    Assim sendo, seria evidente que não haveria nenhum constrangimento ético na revelação dos assuntos trocados pelos "intranautas". Entretanto, os temas que apareceram na tela fotografada tratavam de coisas muito além do que falava o relator do processo, pois eram confidências particulares feitas na hora do expediente.

    A desculpa para tal comportamento é de que os ministros precisam relaxar. Lendo os detalhes deste exercício de relaxamento virtual os brasileiros puderam ter uma idéia de como são programadas as sentenças reais no STF.

    Descobre-se que a nomeação do substituto do ministro Pertence está amarrada na decisão dos ministros sobre a aceitação ou não da denuncia contra os 40 "mensalários".

    Os "scraps" trocados entre os magistrados foi uma ótima fotografia de como funciona o STF. Duvido que algum brasileiro vai conseguir relaxar depois de tomar conhecimento desta bisbilhotagem.

    O julgamento no STF para saber se os 40 mensalários iriam ser investigados ou não, durou cinco dias. A ministra Ellen Grace presidiu os trabalhos de forma  inteligente e competente. Calma e tranquila, ela passa a presunção de uma possível infalibilidade. Ao seu redor os ministros discutiram o destino de um bando de corruptos, confessos e evidentes.

    E qual é a dúvida ?

    Os ministros estavam lá para condenar os 40 mensalários ?

    Não.

    E o que fazem então?

    Depois de muita pressão da imprensa eles apenas decidiriam se os 40 mensalários indiciados no inquérito deveriam ser investigados ou não.

    Isto é absurdo inacreditável, mas é a realidade.

    Perdeu-se muitas horas na discussão do que seja uma quadrilha ou um bando criminoso. Depois de algum tempo foi descoberto que os marginais não precisam de lavrar uma ata para formarem uma quadrilha.

    Conforme já disse, no inicio do julgamento houve insinuações, e visualizações fotográficas, de que o resultado do julgamento teria uma ligação com a indicação do sucessor do ministro Pertence.

    Não foi nada comprovado porque tudo foi esquecido.

    O relator do processo mostrou um preparo físico digno de qualquer atleta olimpico. Foi indicado pelo presidente Lula mas mostrou uma isenção que dignifica a categoria dos magistrados. É um exemplo a ser seguido.

    Nós , leigos e simples mortais, descobrimos no meio deste teatro do absurdo da justiça brasileira, que ainda podemos ter orgulho de ser contenporâneos de homens como o relator Joaquim Barbosa.

    Graças ao seu trabalho, o STF decidiu que o grande chefão da quadrilha de corruptos, Josè Dirceu, e os 40 mensalários, serão investigados.

    Nem tudo está perdido.

    É bem verdade que a decisão final só virá daqui a alguns longos anos, segundo declaração do próprio Joaquim Barbosa.

    Conclusão absurda disto tudo: a justiça existe, mas não funciona !

    Isto é um absurdo !

    PS: é capaz de algum dos acusados ser candidato à presidência da República, e ser eleito.

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