O empobrecimento da diversidade faunística no norte-noroeste do Estado do Rio de Janeiro
O Roteiro dos Sete Capitães, documento do século XVII, fala-nos da rica diversidade animal existente na planície fluviomarinha do norte da Capitania de São Tomé. Couto Reis legou-nos a primeira descrição minuciosa da fauna regional. No século XIX, Maximiliano de Wied-Neuwied, Auguste de Saint-Hilaire, Hermann Burmeister e J. J. Tschudi, na condição de naturalistas europeus, equipados com os melhores recursos da época, superaram os memorialistas brasileiros com vantagem. Só no século XX, a especialização das ciências, com sua compartimentação, passou a permitir um conhecimento particularizado do que restou da fauna regional.

Invertebrados
De todos os invertebrados, o que mais impressionou os viajantes foi a Tunga penetrans, popularmente conhecido como bicho de pé. Quase todos os naturalistas estrangeiros sentiram a sua presença na carne. O príncipe Maximiliano, com seu proverbial senso de observação, não se deixa abalar mesmo atacado pelo inoportuno animal1 . Freireyess, que, juntamente com Sellow, integrou a expedição de Maximiliano, dedica, em livro correspondente à outra viagem, uma página inteira ao bicho de pé encontrado entre a Serra da Estrela e o Rio Paraíba do Sul, segundo o naturalista, local em que ele pululava em maior quantidade em todo o Brasil2. Resignadamente, Saint-Hilaire lamenta que “Desde o começo dessa viagem não havíamos cessado, eu e meus empregados, de ser atormentados pelos bichos de pé...”3 Burmeister também não escapou do ataque do ectoparasita sifonáptero4.
Vivendo ainda num universo intelectual pré-Linneu, o capitão Manoel Martins do Couto Reis incluiu sob a designação geral de insetos de maior grandeza os répteis, os anfíbios e os invertebrados propriamente ditos, denominando estes últimos de voláteis. Nesta categoria, ele insere os gafanhotos, as borboletas, as mutucas (“Umas qualidades de mosca de diversas grandezas cujas mordidelas mortificam muito a todo vivente”), insetos de inúmeras formas, pinturas e pequenez que “surpreendem a nossa admiração”. Couto Reis enumerava as abelhas nativas – jataí, guarupu, mandaçaia, mumbuca, irata e vorá, quando seu manuscrito perde seis páginas5. Maximiliano registra o vaga-lume, cujo nome científico, na época, era Elater noctilucus, atualmente Pyrophorus noctilucus, cada vez mais rarefeito nas cidades. Numa densa floresta à margem do Rio Paraíba do Sul que o nobre naturalista atravessou à noite, indo de Campos para São Fidélis, maravilhou-o a multidão de insetos luminosos e o canto de grandes cigarras ouvido a extraordinárias distâncias6.
Além do bicho de pé, Saint-Hilaire tem um ajuste de contas com mosquitos e percevejos. No entanto, quem mais se dedica a descrever invertebrados é Hermann Burmeister, que acreditava causar surpresa em índios, negros, mestiços e brancos por caçar borboletas nas matas que ornavam o Rio Pomba. A seu ver, “...não existe lugar melhor para capturar grande variedade de insetos do que uma picada nova.” Ele conta que sua roupa branca serviu de ponto de atração para os insetos, que cobriram o seu corpo, todos eles tendo o triste fim de acabarem na sua caixa de coleção. Menciona escaravelhos (entre eles, a bela Lamia farinosa) e cigarras. É com vagar que fala de lepidópteros como Morpho menelaus (M. nestor), Morpho adonis, já considerada rara na época, Peridromia amphinome e a completamente nova Peridromia arethusa, Heliconius phyllis e H. sara, borboletas que vivem unicamente na mata virgem e escura; já a H. thales, nota o autor, gosta de lugares abertos; o naturalista ficou surpreso de encontrar como testemunho inequívoco da região tropical americana a Vanessa huntera, parente próxima da européia V. cardui; o gênero Heliconius, aos olhos do zoólogo, parece ser o mais comum, bastante freqüente no Rio de Janeiro e perto da Lagoa Santa.
Foi subindo o Rio Pomba que ele viu pela primeira vez, na sua excursão, ninhos de térmitas, dedicando-lhes uma página inteira. “As térmitas – comenta o naturalista – não possuem a agilidade das formigas e os seus ‘operários’, de cabeça grande mas sem olhos, são extremamente estúpidos.” Nota a abundância de insetos indesejáveis no Brasil, país em que, a seu ver, a falta de limpeza e de higiene são consideradas supérfluas. Numa casa habitada por uma família de negros pobres, observou que a mãe, com a cabeça da filha acomodada no regaço, catava-lhe certos bichinhos, prática que ele encontra com freqüência, sendo interpretada por alguns como manifestação de amor e fonte de prazer. Ao alemão, contudo, que a presenciou quase que diariamente, causou repugnância. Chega mesmo a afirmar categórico que todo negro e muitos mulatos têm piolho. Esclarece que nos brancos também não é muito raro encontrá-los, mas é necessária uma intimidade muito grande com portadores para contraí-los.
Outro grupo de invertebrados que atormentava a vida do estrangeiro era o dos mosquitos, se bem que Burmeister assegurasse que estes insetos picadores não eram mais frequentes no Brasil que na Europa, incorrendo em erro quem pensasse que os insetos causam mais incômodos e moléstias nas zonas tropicais que nas temperadas. A receita ensinada pelo autor para não ser molestado por eles consistia em afastar-se das margens dos rios e das florestas durante a noite. Aponta como mais comuns espécies dos gêneros Culex, Anopheles e Simulium. Quanto às moscas, identificou uma do gênero Stomoxys como a mais conhecida, embora não soubesse distingui-la com exatidão da Stomoxys calcitrans européia. Anotou ainda os gêneros Chrysops e Tabanus, mais encontradas nas matas, atacando de preferência os animais que o ser humano. Provavelmente o Chrysops tristis Fabr. tentou picar a mão do entomólogo em suas incursões à cata de insetos. Seus banhos eram perturbados pelo Tabanus januarii Wied. Seu cavalo foi assustado pela grande Pangonia lingens Wied. Burmeister, todavia, concordava com a população local de que a mosca mais danosa era a transmissora do berne, pertencente ao gênero Tripoderma (Cuterebra), até aquela época, ao que parece, não descrita.
Os carrapatos merecem considerável atenção dele, pois se trata de “outra praga da qual nenhum viajante consegue livrar-se.” Embora existam carrapatos na Europa, o naturalista alemão esclarece que, lá, eles não se encontram em tão grande quantidade como no Brasil, onde “desaparecem na estação úmida e voltam no outono, quando termina a época das chuvas.” Atacando seres humanos e animais, o carrapato provoca grandes incômodos. Notou que os brasileiros não se preocupavam com o ataque dele aos animais de pasto e de carga, deixando que lhes sugasse o sangue até caírem fartos. No entanto, verificou que a galinha exercia a função de predadora, devorando quantos carrapatos pudesse e aliviando a tortura dos animais parasitados.
Antes de chegar à Aldeia da Pedra (atual Itaocara), o naturalista alemão observou abelhas nativas, como a Trigona amalthea. “No interior do Brasil – salienta ele –, é muito comum a manutenção de abelhas domésticas e, por isso, ninguém se incomoda em procurar o mel selvagem, a não ser por um divertimento todo particular. Dizem, aliás, que o mel que estas abelhas fabricam logo entra em fermentação (...) Todas as abelhas selvagens produtoras de mel são, quanto eu saiba, de origem americana e Trigonas, cujas várias espécies os brasileiros conhecem, dando-lhes diferentes nomes.”
Ainda entre os invertebrados, Burmeister se impressiona com uma enorme minhoca que encontrou quando seguia para a aldeia de Santa Rita da Meia Pataca. Na sua descrição, contava ela com a grossura de um dedo e mais de um pé de comprimento. Ele deparou ainda com outras mais, porém não pôde trazer nenhuma, pois que se deterioravam no álcool fraco de que dispunha. Talvez tenha ele sido apresentado ao minhocaçu, verme capaz de cavar galerias em material resistente7.

Peixes
Investigações arqueológicas efetuadas no norte-noroeste fluminense revelam que a ictiofauna consistiu numa fonte privilegiada de alimentos para os povos indígenas. A empreendida na ilha maior do Arquipélago de Santana, em frente à foz do Rio Macaé, acusou a existência, dentre outras espécies, do cação-martelo (Sphyrna sp), de raias, das quais foi identificada a espécie raia-chita ou raia-pintada (Aetobatus narinari) e encontradas peças cartilaginosas pertencentes ao gênero Myliobatis ou Rhinoptera. Os habitantes indígenas da ilha recorriam principalmente aos abundantes bagres, destacando-se o bagre-bandeira (Bagre bagre) e o voador (Dactylopterus voltans). Talvez, por este motivo, o Rio Macaé foi denominado pelos primeiros europeus de Rio dos Bagres. Foram encontrados também restos dos gêneros Epinephelus, possivelmente pertencentes a garoupas, meros e chernes, e do Mycteroperca, quiçá associado a badejos. No material desenterrado, havia ossos de enchova (Pomatomus saltatrix), de xaréu (Carans sp), do gênero Selene (peixe-galo), de cocoroca (Haemulon sp), de sargo-de-dente (Archosargus probatocephalus), de marimbá (Diplodus argenteus), de corvina (Micropogonias furnieri), de pirangica (Kiphosus sectatrix), de enxada (Chaetodipterus faber), de budiões (gêneros Scarus e Sparisoma), de cangulo (Balistes vetula) e do gênero Mugil (tainha). No entanto, o prato predileto dos primitivos habitantes da ilha eram os baiacus, dos quais foram reconhecidos restos do baiacu-arara, (Lagocephalus laevigatus) e do baiacu-de-espinho (Diodon hystrix). Peixes extremamente venenosos por sintetizarem uma toxina só encontrada nos tetradontídeos e na família Salamandridae, da classe dos anfíbios, se ingeridos sem os devidos cuidados na sua preparação, podem causar a morte em 30 minutos8.
Ao desembarcarem pela primeira vez nas terras que conseguiram como sesmarias, os sete capitães ficaram “pasmos de ver semelhantes grandezas de peixes em terra.” Na segunda viagem (1633), voltam a se surpreender com a abundância de peixes de água doce que os nativos lhes ofereciam com hospitalidade. Numa determinada lagoa, conta o Roteiro, os indígenas dispuseram-se a pescar usando redes que teciam com uma planta seca ao sol e torcidas nas pernas ou nas palmas das mãos. Tudo indica tratar-se da taboa (Typha domingensis). Duas horas depois, vieram carregados de peixes de várias espécies, predominando a piabanha, que acabou se transformando no nome de batismo da lagoa9.
O primeiro documento a nos fornecer uma relação relativamente pormenorizada sobre a ictiofauna da região é a Descrição de Couto Reis. “Encontram-se – anota ele – peixes de várias qualidades tanto do mar como de água doce, e alguns de um sabor admirável.” Entre os peixes do mar, o capitão cartógrafo aponta o robalo (o de melhor sabor, sobretudo o do Furado e da lagoa Feia), o bagre, a tainha, a cruvina (corvina) e a carapeva (carapeba). Entre os de água doce, inclui a piabanha, o piau, excelentes, o coromatan (crumatã, curumatã ou corimbatá), taraíra (traíra), jundiá, duiá, taiabucu, alambariz (lambari), todos com muita espinha e semelhantes ao bagre. Nas quedas d’água, vivem surubins de duas espécies. Fala ainda da piracanjuba e do dourado. Estranha-se a existência deste último no século XVIII, nos ecossistemas de água doce da ecorregião, pois que, nativo de outras bacias, só foi introduzido na Bacia do Paraíba do Sul nos séculos XIX e XX, em duas tentativas frustradas e numa bem sucedida. Das duas uma: ou o dourado foi introduzido em época anterior ao que normalmente se julga ou nomeava-se alguma espécie nativa com este nome10.
Os memorialistas brasileiros do século XIX referem-se aos peixes de modo bastante informal. Nos escritos de Aires de Casal, José Carneiro da Silva, Pizarro e Araujo, Muniz de Souza e Teixeira de Mello, fala-se em robalo, tainha, piabanha, piau, crumatã, surubins, corvina, acará, traíra, bagres, jundiá, cachimbau, piaba, manjuba, ticopá, duiá, morobá, urutum, sairu e muçum. Os ecossistemas mais pródigos em peixes, além do mar, eram as Lagoas Feia (sempre em primeiro lugar) e de Cima, o Rio Paraíba do Sul e vários brejos, na verdade, o incontável número de lagoas11. No seu primeiro trabalho mais longo, Lamego exalta o robalo da Lagoa Feia, a traíra da Lagoa do Campelo, a corvina da Lagoa de Cima e o piau do Rio Paraíba do Sul12.

Anfíbios e répteis
Poucas referências há sobre estas duas classes de vertebrados. Sob a rubrica geral de insetos, Couto Reis inclui sapos variados, conferindo relevância às intanhas, segundo ele, de grandes dimensões e de inexplicável veneno, capazes de engolir pequenos frangos, pelo que ouviu dizer. Ao atravessar densa floresta, quando fez o percurso de Campos a São Fidélis, Maximiliano impressionou-se com “a estranha toada de um exército de rãs [que] ressoava nas trevas noturnas da brenha solitária.”13
Os répteis encontram-se mais presentes, tanto na alimentação dos povos nativos e exóticos quanto nos registros humanos. Sobre a ordem reptiliana dos Squamata, ossos recuperados na ilha maior do arquipélago de Santana por pesquisa arqueológica revelam que seus habitantes pré-cabralinos usaram o lagarto teiú (Tupinambis teguixin) como alimento, ao que parece bastante encontrado na ilha, a julgar pelo número de fêmures desenterrados (59 ao todo). Até hoje, o maior dos lagartos brasileiros é considerado um pitéu entre os habitantes rurais, principalmente pela cauda carnuda. Dentre as muitíssimas espécies de lagartos apontados por Couto Reis, deveria ele estar incluso. Encaminhando-se para o Espírito Santo, Maximiliano encontrou caçadores escuros e totalmente nus, que o príncipe confundiu com indígenas, carregando dois exemplares mortos deste réptil.
É ainda o naturalista alemão que encontra, no norte fluminense, a lagartixa de coleira preta (Tropidurus torquatus), no comentário de Olivério Pinto, “...mais um exemplo das inúmeras descobertas zoológicas de Wied, que dele nos dá uma bela estampa em suas Abbildungen.” Subindo o Rio Muriaé, Antonio Muniz de Souza registrou, entre a abundante “caça”, muitos lagartos. Burmeister topou, na sua excursão científica ao noroeste fluminense, com um saurio popularmente conhecido por taraguira, calango ou lagartinho, ao que tudo indica, a mesma espécie identificada por Wied (Tropidaurus torquatus) e com um lagarto ápode (Pygopus striatus). Em sua obra mais conhecida, Teixeira de Mello faz também menção ao lagarto14.
Da ordem Squamata, os ofídios chamaram a atenção de todos por sua fama de peçonhentos e mesmo pelo significado simbólico que tem a serpente no imaginário. Couto Reis enumera, ainda sob a designação de insetos, a jibóia, a morubá, a cobra d’água, a cipó, a cobra de bosta e a caninana, mansas e menos venenosas; a surucucu, a jararaca e a coral, muito ferozes e peçonhentas. Uma cobra cipó verde (Chironius carinatus), de seis a oito pés de comprimento, cruzou velozmente o caminho de Maximiliano. Encontrou ainda um único exemplar de muçurana em toda sua viagem, também conhecida por cobra preta, boiru ou limpa mato, denominada por ele de Colomber plumbeus, hoje Pseudoboa cloelia. Ao ordenar que um negro a matasse para a sua coleção, notou que ele ficara apavorado com a missão. Na sua excursão no Rio Muriaé, Muniz de Souza informou sobre a existência de muitas cobras. Além da jibóia, da surucucu e da coral, José Carneiro da Silva acrescenta a jararacuçu, a uruçanga e a dorminhoca15
No que concerne à ordem dos quelônios, tão bem representada na região, há uma lacuna por demais acentuada na literatura dos viajantes e memorialistas. No século XIX, há apenas uma referência genérica ao cágado em Teixeira de Mello. Só bem recentemente, os cientistas voltaram seus olhos para ela. Foram identificadas placas ósseas provavelmente da tartaruga marinha Chelonia mydas, popularmente conhecida por tartaruga verde, no sítio arqueológico de Santana. Esta espécie, juntamente com a tartaruga cabeçuda (Caretta caretta) e a tartaruga de couro (Dermochelys coriacea), tem, no litoral norte-fluminense, um dos seus pontos de postura16.
Entrementes, o mais famoso réptil da região é o jacaré de papo amarelo ou ururau ou arurau, único representante da ordem Crocodilia no norte-noroeste fluminense. O Rio Ururaí foi batizado por causa dele. Algumas lagoas, cursos d’água e localidades indicam sua existência pretérita ou atual e a lenda do Ururau da Lapa é conhecidíssima em Campos, tendo merecido de Osório Peixoto um livro em versos ao gosto popular17. Dele fala Couto Reis, exclamando que “são em tanto número, como não poderá haver mais em outra parte do mundo.” Ele próprio viu um exemplar morto no porto do Colégio, à margem da Lagoa Feia, com 11 palmos de comprimento, e soube de um homem que fora atacado por um jacaré não muito grande poucos dias antes de sua chegada à Vila de Campos. A melhor descrição do animal foi feita por Maximiliano, quando navegava o Rio Paraíba no trecho Campos-São João da Barra18.
Na ansiedade de capturar um espécime para a sua coleção, o príncipe e seus caçadores feriram e mataram vários, porém só conseguiram capturar um, com cerca de seis pés de comprimento: “cor cinzento-esverdeada, com listas transversais escuras, especialmente na cauda; ventre de um amarelo brilhante homogêneo.” Informa ainda o naturalista que esta espécie de jacaré era muito comum no Rio Paraíba do Sul, que os negros comiam-no algumas vezes e que contavam histórias fabulosas a respeito dele, com pescadores exibindo cicatrizes nos pés provocadas por suas dentadas e sustentando sua capacidade de devorar cães que se atreviam a entrar no seu habitat. Wied duvidou de todas elas. Após taxidermar o jacaré abatido, rumou o naturalista para o Espírito Santo e, atravessando o manguezal do Delta do Paraíba do Sul, ainda deparou com vários representantes deste réptil. Viu-o pela última vez, na região, nadando nas águas do Rio Itabapoana.
Entrando na região pela extremidade oeste, Burmeister encontrou o jacaré de papo amarelo na zona cristalina, em local bem afastado da planície fluviomarinha. Em suas observações do animal, ele pôde perceber que “Os jacarés gostam do sol e, nos dias claros, vêm descansar sobre pedras ou velhos troncos à superfície da água; somente se aventuram à terra firme nos lugares onde se sentem perfeitamente seguros e livres de perseguições. Logo pela manhã e ao anoitecer, nadam pelo rio à cata de presa, e é nessa ocasião que saem para terra firme, uma vez que algo os atraia. O exemplar que eu estudei era excepcionalmente gordo e forte, e do comprimento de um homem. No seu estômago, encontrei os restos de um pato e de um leitão ainda bastante novo. A gordura e a carne espalham forte cheiro de almíscar, que pude sentir em meus dedos, por três dias ainda.”19

Aves
Nas pesquisas arqueológicas efetuadas na ilha de Santana, em Macaé, constatou-se que as aves representavam um item considerável na alimentação da comunidade nativa que ali viveu por volta do ano 720±330. Foram encontrados ossos de exemplares da família dos procelarídeos, aves oceânicas que, por um fenômeno ainda não compreendido pelos especialistas, com freqüência, morrem de exaustão nas praias. Verificou-se também a presença do atobá ou mergulhão (Sula leucogaster), até hoje nidificando na ilha; da tesoura ou alcatraz (Fregata magnificens), da saracura ou três-potes (Aramides cajanea), talvez do trinta-réis (família Laridae), da juriti (Leptotila rufaxila ou Leptotila verrauxi) e possivelmente do pichorolé (ordem Passeriformes)20.
O Roteiro dos Sete Capitães, por mais de uma vez, fala da diversidade e da riqueza de aves encontradas na planície goitacá. Couto Reis, num discurso deslumbrado, diz que “As aves por suas diversas qualidades e beleza, fazem um objeto maravilhoso, capaz de entreter por largos tempos a contemplação dos mais curiosos e inteligentes naturalistas. Umas são próprias do país; e outras que, de tempos em tempos, descem de partes mais remotas a se apresentarem nele.” O cartógrafo está se referindo, sem dúvida, às aves nativas, várias das quais endêmicas, e as migratórias. Escusando-se por não dispor de elementos para uma descrição pormenorizada, o capitão divide-as em: 1- aves de maior grandeza e vôo, agrupando sob este título o mutum, já considerado raro à época; a inhuma, com um ferrão na cabeça capaz de identificar frutos e águas venenosas e de provocar feridas graves, segundo a tradição, além de dois nas pontas das asas; o urubutinga ou corvo branco, vulgarmente chamado de urubu-rei, vivendo mais nos sertões afastados; o jacu, dividido em jacutinga, jacuguaçu e jacupema ou jacucaca; os gaviões de diversas cores e tamanhos, alguns capazes de dilacerar macacos ou de capturar patos em pleno vôo para seu repasto; 2- aves de mediana grandeza: entre elas, o pavó, que entoa roncos surdos em vez de canto; os tucanos de duas espécies, ambos com grande bico e plumagem que lhes conferem admirável beleza, emitindo voz rouca e triste; a araponga, cujo canto se assemelha às marteladas do ferrador e pode ser ouvido a distâncias avultadas; os pica-paus, com seus belos topetes, dividindo-se em três espécies; as oito espécies de pombas, algumas delicadíssimas; os araçaris, divididos em duas espécies; o bacurau, o urutau e a coruja, de duas qualidades, são aves noturnas, com belas penas mas algumas com gritos altos e tão tristonhos que assombram, por isso mesmo supondo-se produzidos pelo eco; 3- aves da mesma classe, porém do bico redondo, e com propriedade de falar o que se lhes ensina, e ouvem: a arara, um papagaio grande e de plumagem vistosa; o anacam, uma arara de menores proporções; o juruaçu, a camutanga, o jurueu e a curica, todos papagaios, mas de espécies diversas e com vozes distintas; as maitacas, divididas em duas espécies, com diferenças no falar; o maracanã e a nandaia, também de duas qualidades; o sabiá-cica, de canto estimável posto que triste; os periquitos, com penas de vivo verde, entre claro e escuro; a camiranga, maior que o periquito; a tiriba, menor que o periquito. Observa o autor que todas estas aves andam em bando e causam muitos prejuízos à lavoura, principalmente à de milho, ao passo que a carne dos papagaios é saborosíssima, principalmente guisada com arroz; 4- passarinhos de canto agradável: os sabiás, de três espécies não pela diferença de tamanho, mas pelo colorido das penas e pelo canto; os encontros, de penas azul- escuro e com mancha amarela muito viva na junção das asas com o corpo; o sanhaçu, de duas espécies, não é apropriado para a gaiola; os gaturamos, de duas espécies, cantando uma galantemente e outra um tanto rouca; os bicudos, os canários, as coleiras e os purumarãs de suavíssimo canto; acrescenta ainda o relator a esta lista o carajuá, cujo canto um escritor teria comparado ao de um anjo, observando, porém, que “... neste país, é bem para admirar, que nunca se ouvissem dar uma só voz, havendo imensos, quando descem dos sertões.” 5- aves rasteiras, isto é, que pisam sobre a terra, não se servindo das asas senão para ajudar a carreira, quando são obrigadas, ou para treparem no poleiro, ou passarem algum estreito rio ou lago: o macuco, maior que uma perdiz e com carne mais delicada que a desta; o juó, de duas espécies e com a carne e os ovos de qualidade igual à do macuco; o nambu, o xororó e a capoeira, com carne de sabor semelhante; as saracuras, cujo canto anuncia mudança de tempo para melhor ou para pior; 6- aves dos campos, brejos, lagos ou rios: a codorniz, muito perseguida pelas aves de rapina por viverem em campos desprotegidos, ocorrem mais nos campos de Jagoroaba, onde as ervas são mais altas; taiuiú, raríssimo no Distrito, aparece pouco e por acaso, sendo, depois da ema, a maior ave do Brasil; o tabuiaiá, menor que a anterior e de excelente carne; o manguari, bastante parecido no tamanho com o precedente; o jaburu, de porte semelhante ao da cegonha, porém mais triste; as garças, divididas em três espécies, não têm carne própria para o consumo; a colhereira, de curioso bico em formato de colher; o carão, de duas espécies, tem o bico algo curvo, com uma delas de carne saborosa; o maçarico, dividido em oito espécies, com carne comestível; os frangos d’água, com duas espécies distintas, uma delas linda, dão bom prato; há ainda o ati, inumeráveis piaçocas e o quero-quero; 7- aves aquáticas de pés natatórios: os patos, que só se diferenciam dos domésticos quando velhos; as marrecas compreendem a patinha, o irerê, o xenquem, o queixo-branco, o pé-vermelho (segundo o autor a mais galante de todas) e outras que não enumera; os gansos chamados do mar, singulares pelo brilho das penas, contam com alguns raríssimos que só por acaso aparecem. Numa observação à parte, Couto Reis tece loas aos urubus, de duas espécies, consoante seu registro, pelo serviço que prestam à higiene. Em suas palavras, “A incompreensível e inescrutável sabedoria da Providência até na multiplicidade destas aves beneficiou este clima extinguindo por aquela via as podridões que se geram de tantos animais e insetos mortos pelas violências das cheias, das vazantes e outras causas; que o fariam sem tão pronto socorro, muito mais pestífero.”21
Maximiliano de Wied-Neuwied, além de sua famosa Viagem ao Brasil, legou-nos ainda Abbildungen zur Naturgeschichte Brasiliens (Weimar, 1823-1831), série de estampas coloridas retratando animais que coletou em sua excursão científica, e os monumentais Beiträge zur Naturgeschichte von Brasilien, em quatro volumes, tratando tecnicamente de anfíbios, répteis, aves e mamíferos.
Comentado pelo também ornitólogo Olivério Pinto, Maximiliano registra, em sua Viagem ao Brasil, uma infinidade de aves. Elas aparecem aqui em ordem de entrada, acompanhadas com as observações que se tornarem necessárias. No trecho de Cabo Frio à Vila de São Salvador dos Campos dos Goitacás, o príncipe naturalista encontrou o chochi (saci ou sem-fim, Tapera naevia), bacuraus (conhecidos no sul do Brasil por curiango), o milhano preto e branco (o belo gavião tesoura, Elanoides forficatus), uma enorme quantidade de urubus dividindo os despojos de um animal morto com um cão, sem se preocuparem com a presença da caravana de Wied, grandes bandos de maracanãs e periquitos, tucanos e o gavião cor de chumbo (o popular gavião pomba ou sovi, Ictinia plumbea), hoje raro na região. Nas margens da Lagoa Paulista, foram avistados grupos do papa ostras brasileiro (chamado vulgarmente de baiagu ou piru-piru, Haematopus palliatus), o caburé (Glaucidium brasilianum) e o sabiá da praia (Mimus gilvus). Mais adiante, topou o ornitólogo com maçaricos, quero-quero, garças, gaivotas, andorinhas do mar e marrecas. Na lagoa de Ubatuba, foi possível caçar o ibis de faces peladas e cor de carne (Phimosus infuscatus nudrifrons), uma nova espécie de milharfe (segundo Olivério Pinto, já identificada anteriormente como o conhecido caracara ou gavião do mangue, Circus brasiliensis) e um gavião classificado atualmente pelo nome de Busarellus nigricollis, além de se localizar um ninho, com os ovos, de bem-te-vi (Pitangus sulphuratus), em forma de forno, fechado em cima. Ao norte da Lagoa de Ubatuba, onde a planície abrigava uma miríade de extensas lagoas, Maximiliano viu, pela primeira vez, o colhereiro (Ajaia ajaja), que, sem êxito, os caçadores da expedição tentaram abater para a coleção do naturalista; novamente garças, patos, maçaricos e biguás. Também o tapicuru, nome comum aos ibídidas de cor preta brasileiros. A anhinga (também biguá-tinga, carará, miuá etc., Anhinga anhinga) foi perseguida em vão por Wied, que só capturou exemplares dela mais tarde. Além da Barra do Furado, de novo são vistos maçaricos, batuíras e baiagus alimentando-se de crustáceos, vermes e moluscos, como também uma espantosa multidão de marrecos e aves palustres, dentre as quais Nettion brasiliense, a espécie mais comum de pato em todas as regiões visitadas por Maximiliano, observação confirmada por Olivério Pinto. Ainda nas cercanias da Lagoa Feia, foram capturados o ibis de cara vermelha, ou carão (Phimosus infuscatus nudifrons), e o caracará (Polyborus plancus). Foi no Rio Bragança, um dos defluentes da Lagoa Feia, que Wied obteve o único exemplar do socozinho vermelho (Ixobrychus exilis erythromelas) em toda a sua viagem. Avançando pelas imensas planícies aluviais, em direção à Vila de Campos, o grupo encontrou uma espécie de inambu correspondente à codorna (Nothura maculosa).
Em sua viagem a São Fidélis, o naturalista logo encontrou o anum preto, na época com o nome científico de Crotophaga ani, Linn, e com o cuco pintado (Cuculus guira, Linn.). Fala do anum branco, esclarecendo que descera havia pouco tempo dos planaltos de Minas para as baixadas costeiras e que, por isto, era ainda pouco conhecido na região. Nos ramos de uma figueira, descobriu o curioso ninho do bico-chato, na verdade, o tirri ou relógio ou teque-teque (Todirostrum poliocephalum), como ensina Olivério Pinto. Numa densa floresta de légua e meia, estendendo-se da margem do Rio Paraíba do Sul até São Fidélis, ouviu o grito dos curiangos. Entre os puris das imediações de São Fidélis, notou que suas flechas eram enfeitadas na extremidade inferior com penas de mutum ou de jacutinga. Em nota de rodapé, Olivério Pinto explica que o naturalista confundiu o Crax alector, espécie peculiar à região amazônico-guianense, com o mutum de bico vermelho (Crax blumenbachii Spix), típica da mata costeira do Brasil médio-oriental. De retorno a Campos pela margem esquerda do Paraíba do Sul, passou por uma ilhota com algumas árvores repletas de ninhos de guache (Cassicus haemorrhous), em forma de saco.
A etapa final da viagem de Wied no norte-noroeste fluminense estende-se de Campos à fazenda Muribeca, na margem do Rio Itabapoana, que separa as províncias do Rio de Janeiro e Espírito Santo. Rumando para São João da Barra pelo rio Paraíba do Sul, abate muitos exemplares de martim-pescador azulado (Magaceryle torquata), o maior dos martins-pescadores brasileiros, no esclarecimento de Olivério Pinto, o único em que o colorido predominante da plumagem é azul ardosiado, e não verde. O ornitólogo chamou-o inicialmente de Alcedo alcion, nome dado por Linneu a ave muito semelhante. Depois, no volume 5 dos Beiträge, corrigiu o erro, descrevendo-o sob o nome de Alcedo cyanea Vieillot, primeiro que esta ave recebeu na pia batismal da zoologia. Encontra-o ainda no manguezal do delta do Paraíba do Sul, juntamente com o arisco biguá (Phalacrocorax olivaceus), forte palmípede ictiófago freqüente nos estuários e margens lodosas das baías do litoral. Na espessa mata que se estendia entre a margem esquerda do Rio Paraíba do Sul e a margem direita do Rio Itabapoana, ouviu-se o pio forte e grave do juó, jaó ou zabelê, espécie descrita por Wied e batizada de Tinamus noctivagus, por julgar o naturalista que ela pertencia ao gênero dos macucos. Seu nome técnico atual é Crypturellus noctivagus. “Nas grandes matas e alagadiços das margens do Itabapoana – escreve Maximiliano –, faz ninho o pato almiscarado (Anas moschata, Linn.), que ainda não tínhamos encontrado.” Olivério Pinto intervém para fornecer o nome científico atual da ave – Cairina moschata – e dar algumas de suas denominações vulgares: pato do mato, pato bravo ou simplesmente pato. Ainda no Itabapoana, foram caçados garças, ibis, patos, o pato de espáduas verdes, a garça real, espécie até então mal descrita, as garças brancas grande e pequena, e muito mais. Olivério Pinto diz que, além de espécies já conhecidas, as outras aves especificadas são a marreca viúva (Dendrocigna viduata), a garça branca (Casmerodius albus egretta), a garça real (Pilherodius pileatus) e a garça branca pequena (Leucophyx thula thula). Antes de atravessar o Itabapoana a caminho do Espírito Santo, o príncipe registra uma bela espécie de pica-pau, o pica-pau branco ou birro (Leuconerps candidus)22.
Naturalista mais voltado para a botânica, Saint-Hilaire pouco acrescenta ao quadro pintado por Maximiliano. Registra apenas o queriqueri (quero-quero) e as garças. Por sua vez, o zoólogo alemão Hermann Burmeister, percorrendo uma parte do norte-noroeste fluminense que seus dois predecessores não conheceram, também pouca atenção concede às aves. Como a muitos brasileiros e estrangeiros, despertaram seu interesse os urubus, aves cujo meritório trabalho de limpeza pública é sempre notado, com toda a repugnância que se lhes possa devotar23.
Além de observações acuradas acerca da etologia do urubu, Burmeister acusa a presença de pardais atacando lavouras. Na falta de maiores explicações, fica-se a perguntar se se trata do pardal europeu, àquela altura já introduzido e disseminado em terras brasileiras, ou se o naturalista o confundiu com o tico-tico, que lhe é semelhante, confusão difícil de admitir num zoólogo. Pouco mais adiante, ele dá notícia do anum branco (Cuculus guira), chamado por ele de cuco amarelado, animal que, daquele ponto em diante, tornou-se muito comum. De certa forma, tal informação corrobora o que Wied ouvira a respeito desta espécie quando viajava para São Fidélis. Doravante, aparecem no seu relato as saracuras (Gallinula cajennensis), das quais o filho do naturalista se empenhou inutilmente em matar um exemplar com o estímulo dos circunstantes, “...pois caçar saracuras é uma arte que somente poucos conhecem...”; o Pteroglossus bailloni; os guachos (Cassicus haemorhous), com seus curiosos ninhos; um Falco guainensis, que o cientista não conseguiu abater; uma grande arara (Psittacus macao); um falcão branco de asas pretas (Falco scopterus); um caracará (Falco degener ou Polyborus chimachim), morto pelo filho dele; a famosa Columba rufaxilla, atualmente Leptoptila rufaxilia, a popular juriti, que levou Burmeister a derivar o nome do Rio das Pombas da grande quantidade dessas aves no seu vale; e a garça branca pequena, nomeada por ele de Ardea candidissima, hoje Leucophyx thula thula24.
Os memorialistas da região não se saíram muito bem como naturalistas, nem mesmo o arguto Antonio Muniz de Souza. José Carneiro da Silva enumera apenas o tuiuiú, a colhereira, o carajuá, o beija-flor, o mutum, o urubutinga. Por ser o tuiuiú a maior ave encontrada na região, meteu-se o visconde a descrevê-lo, encontrando para um exemplar onze palmos da ponta de uma asa à outra e sete palmos e meio da ponta dos pés até o bico, que, por si só, contava com um palmo e quatro dedos. Todo branco, tem o pescoço e a cabeça pretas. Como de hábito, segue-lhe os passos o Monsenhor Pizarro e Araujo. Visitando a Lagoa de Cima, Muniz de Souza fica fascinado com as “... lindas aves, que com seus variados cantos desafiam as mais doces emoções! (...) Pássaros matizados de lindas cores fecham este encantador quadro: tucanos, araçaris, diversas espécies de sabiás, melros, saís de inumeráveis variedades, gaturamos, juós, jacutingas são constantes habitadores de suas florestas: outros há de arribação, como papagaios, periquitos, encontros etc.” Neste mesmo diapasão, Teixeira de Mello presta um depoimento comovido sobre as aves: “Uma vez, descia eu de madrugada, em canoa, pelo Muriaé, com minha família. Ao passarmos pela fazenda da viscondessa de Muriaé, eu, que adormecera à toada monótona dos remos na canoa, desperto de repente e assisto a um espetáculo original e único de que fora testemunha em minha vida: na baixada cortada pelo rio, em uma e outra margem, creio que todas as aves canoras da região se haviam congregado para comemorarem talvez alguma data gloriosa ou triste entre elas, por um concerto vocal matutino, a que a tecnologia estrangeira denomina matinée musicale, era admirável a harmonia daquele conjunto de mil vozes, regidas por batuta invisível, tão maravilhosamente se combinavam os cantos em uma opera fantástica que nenhum Mayerbeer, nenhum Carlos Gomes, nenhum Wagner comporá jamais. Como que todas as aves canoras da região estavam ali representadas no que tinham de mais melodioso. Foi um espetáculo sublime que na ocasião nos pareceu sobrenatural, desvanecendo-se rápido como um sonho, mas deixou-me a mais grata e duradoura impressão.”
Despertando do arrebatamento, o autor arrola, como aves silvestres encontradas no município de Campos, o mutum, a jacutinga, a capoeira, a araponga, o sanhaçu, o grumará (comedor de milho nas roças), o jacu, a jacupema, o juó, o macuco, o nhambu, a rola, a juriti, a arara, o papagaio, o periquito e suas variedades (maracanã, querequeté, maitaca, o periquito sem cauda), o anum preto e o anum branco, o pica-pau, o tico-tico, o guache, o araçaí, o tucano, as andorinhas, o bem-te-vi, o siriri, a cambaxirra, a colhereira, o irerê (chenquem, queixo-branco, pé vermelho, do sertão), a pacaparra, a garça, o frango d’água, o socó, a piaçoca, a sericória, o quero-quero, o carão, a lavandeira, o maçarico, a viuvinha, o pato selvagem, o franganito, o gavião, o urubu, o urubu-rei, a coruja, o caburé, o noitibó (ou bacurau), os sabiás (sabiá-cica, do bardo, laranjeira, da praia), o canário, o melro, o encontro, o papa-capim, a coleira, o avinhado, o gaturamo, o bico de lacre, o vira-bosta, o sanhaçu do coqueiro, o bicudo, o caboclinho, os tigês ou tiês (um azul e outro berne), os beija-flores, os saís, as codornas e os perdizes. Nada mais que repetição de autores que o antecederam25.

Mamíferos
Tudo, na região norte-noroeste fluminense, favorecia a pluralidade de espécies mamíferas nativas e sua grande prodigalidade. Havia lagoas, pastos e florestas que se constituíam em extraordinárias fontes de alimento e de proteção. Eis porque causou surpresa aos primeiros colonos de origem européia e aos naturalistas a fabulosa diversidade de animais da mastofauna.
No sítio arqueológico de Santana, os mamíferos estão presentes na alimentação da comunidade indígena que ali habitou através do preá, apereá na língua geral (Cavia sp), da paca (Agouti paca), do macaco guariba (Alouatta sp), da lontra (Lutra sp), de marsupiais cujos gênero e espécie não foram determinados, do veado (Família Cervidae, gênero indeterminado), do porco do mato (Tayassu albirostriz) e do golfinho (Globicepha malaena). As responsáveis pelas investigações arqueológicas advertem que estes animais, em sua maioria, não fazem parte da fauna autóctone da ilha, com a possível exceção do preá, que pode ter chegado a Santana no Pleistoceno, quando a ilha ligava-se ao continente pelo rebaixamento das águas oceânicas, e da paca, excelente nadadora. Os outros mamíferos terrestres certamente foram caçados no continente, o que porventura indique a necessidade dos ilhéus em suplementar sua dieta piscívora com outro tipo de suprimento26.
Por várias vezes, o Roteiro dos Sete Capitães alude à fauna mamífera que abundava na planície aluvial: “... o Maioral nos ofereceu caças frescas para comermos (...) veados e capivaras (...) uma fertilidade27. Mas será preciso novamente aguardar a palavra abalizada do capitão Couto Reis, no seu famoso relatório de 1785, se quisermos contar com a primeira descrição da mastofauna regional. Compensando seu desconhecimento acerca de animais com um surpreendente senso de observação, o cartógrafo deixa-nos páginas primorosas que captam o frescor das origens. Valendo-se de classificação por ele mesmo engendradas, Couto Reis distribui os mamíferos em três categorias, conforme a dimensão dos seus corpos. Entre os quadrúpedes de maior grandeza inclui a anta, animal um pouco menor que um muar, vivendo rotineiramente na água, com dieta vegetariana e de carne saborosa. São consideradas como onças as pintadas, os tigres e as pardas. Embora menos ferozes que as primeiras, anota o militar que, tanto as pintadas quanto as pardas, são capazes de matar, com uma só bofetada, o mais bravio touro. Por transposição do conhecimento do mundo euroafrasiático, Couto Reis deve ter denominado de tigre algum felino americano com atributos semelhantes ao tigre do velho mundo. Do tamanduá-guaçu, diz que se trata de animal peculiar por sua forma e hábitos. Com grande cauda de grossas e extensas sedas, sustenta-se de formigas que captura com a língua viscosa.
Ainda como quadrúpedes de maior grandeza, Couto Reis considera as três espécies de porcos: uns totalmente negros, outros de queixo branco e outros ainda muito pequenos denominados taititus. Sempre andando em varas, são ferocíssimos quando se irritam e capazes de enfrentar onças. Fazem estragos na lavoura, mas fornecem deliciosa carne. Havia duas espécies de veado a pastar na região: o do mato virgem, maior e mais raro, e o de capoeira, menor e mais freqüente. A capivara, animal anfíbio, assemelha-se a um porco grande. Nota o capitão, porém, diferenças entre ambos os animais pelo tamanho da cabeça e pela forma dos pés. Aduz que experimentou da sua carne e constatou seu péssimo gosto, talvez por alimentar-se de peixes, ervas, raízes e milho, que tiram das lavouras com grande estrago. Completa esta categoria com as lontras e com os jacarés, que entram apenas por serem um grande quadrúpede, não por sua condição de mamífero, como todos os outros apontados.
O segundo grupo é constituído pelos quadrúpedes de mediana grandeza. Sob este título, Couto Reis agrupa o cachorro do mato, semelhante ao cão doméstico, porém mais baixo e atarracado, com pelagem entre o pardo escuro e o cinzento, alimentando-se de carne. Os monos e bugios, espécies de macaco, motivam observações de ordem anatômica e etológica do cartógrafo, fazendo-o suspeitar do parentesco destes animais com o ser humano. Fala do seu hábito arborícola, de sua destreza em se locomover nos altos estratos das florestas. “... o modo de passarem os rios – comenta ele –, castigarem os filhos, esconderem-se dos tiros de espingarda: a cautela com que furtam, atam, e carregam os milhos, que tiram das lavouras, e outras maravilhas que praticam enchem a nossa alma de admiração. O seu natural instinto, excede com muita superioridade a de todos os demais irracionais; assim também nas partes e organização dos seus corpos, que têm uma forma análoga com a do homem.” Com toda esta admiração, não deixa de anotar que a carne destes animais é saborosíssima. Menciona ainda a paca, cuja carne é de longe a melhor de todas, os bracaiás, que, como as onças, alimentam-se de aves e pequenos animais. Como quadrúpedes de menor grandeza, considera o quati, que costuma andar em bando e tem uma carne capaz de competir com a da paca. O tatu, que cava túneis na terra e se sustenta de formigas e outros insetos, conta igualmente com carne apreciada. A cutia assemelha-se à paca em quase tudo, sendo sua carne, todavia, menos agradável. O gambá, também chamado vulgarmente de raposa, tem dieta onívora. Por último, o guaxinguerez (caxinguelê) é um pequeno animal de cauda muito peluda que trepa nas mais altas árvores28.
Embora o interesse de Maximiliano de Wied-Neuwied estivesse mais voltado para as aves, a ele não passaram despercebidos os mamíferos, que mereceram um dos quatro volumes dos Beiträge zur Naturgeschichte von Brasilien, além de figurarem em várias estampas do seu Abbildungen zur Naturgerschichte Brasilien’s. Entretanto, poucas alusões são feitas a esta classe de animais em Viagem ao Brasil, no trecho compreendido entre os Rios Macaé e Itabapoana. Apenas refere-se aos macacos, porcos, veados e cutias como alimento dos índios puris, sem fornecer maiores detalhes. Menciona o macaco barbado (Mycetes, Illiger) e o tatu-peba (do qual informa existirem várias espécies no Brasil). Nas matas que circundavam o Rio Itabapoana é que atenta mais para os mamíferos. Lá, ouve os berros do macaco roncador (Mycetes ursinus, Alouatta fusca, o bugio ruivo, segundo nota de Olivério Pinto) e a voz forte e rouquenha do sauí-açu (Callithrix personatus, Callicebus personatus, consoante nota de Olivério Pinto, que esclarece ter sido Wied o primeiro a registrá-lo vivo, em seu ambiente, já que fora descrito por Geoffroy em 1812). Hoje, tal espécie extinguiu-se regionalmente. De ambas as espécies, os caçadores da excursão abateram vários exemplares. Ao atravessar o Itabapoana, já no Espírito Santo, descobriu rastros de antas (Tapirus americanus, hoje Tapirus terrestris). Mas a grande novidade ocorreu quando Freyreiss e Sellow, que acompanhavam Maximiliano, viram um bando de lontras no Rio Itabapoana. “Num passeio rio acima, os Srs. Freyreiss e Sellow se divertiram com o espetáculo de um bando de lontras (Lutra brasiliensis), caçando na água, adiante deles, sem o menor sinal de alarma.” Informados de que havia um exemplar morto de dimensões colossais, intacto, sem vestígios de causa mortis, o grupo incorporou-o à coleção do príncipe. Pelas características apontadas, Olivério Pinto afirma tratar-se da ariranha, que atualmente também não mais se encontra na região29.
Curiosamente, os mamíferos silvestres não figuram nas páginas correspondentes ao norte-noroeste fluminense dos escritos deixados por Saint-Hilaire e Hermann Burmeister. Por sua vez, o naturalista amador Antonio Muniz de Souza registra, na sua incursão ao Rio Muriaé, a anta, a onça, os veados, o cochino (porco-do-mato), os macacos de diferentes espécies, a paca, a capivara, a cotia e outros, como animais de caça, tendo anotado também, para a Lagoa de Cima, o veado, a cotia, a capivara e a anta30. Os memorialistas regionais contentam-se tão somente em relacionar alguns animais, sem maiores preocupações em descrever sua anatomia, seus hábitos e seus ambientes. José Carneiro da Silva, Pizarro e Araujo, Fernando José Martins e Teixeira de Mello rotineiramente referem-se aos mamíferos como caça, nomeando a anta, a onça pintada, os veados (galheiro e campineiro), o quati, os porcos do mato (cateto e queixada), a capivara, o preá, o gambá, o ouriço cacheiro, o bracaiá (espécie de gato-do-mato), a cotia, a preguiça, o tamanduá, a lontra, o cachorro-do-mato, a paca, o tatu e os macacos (barbado, mono, sagui, caxinguelê)31.
Evidentemente, a mastofauna silvestre da região não se esgota nas espécies mencionadas pelos autores acima. Sucede, porém, que não contamos ainda com um levantamento não apenas de mamíferos mas de toda a fauna, recorrendo tanto aos documentos humanos quanto aos documentos remanescentes da natureza não-humana. Inventário desta magnitude se impõe com urgência, sob pena de extinguirem-se mais espécies da fauna regional sem ao menos se saber que exemplares delas habitaram seus domínios.
Mais grave que arrancar o animal vivo ou morto da sua casa é arrancar a casa dele, deixando-o ao desabrigo. A caça, a pesca e o cativeiro, ou bem ou mal, ainda são processos seletivos. A destruição de ecossistemas marinhos ou continentais, aquáticos ou terrestres, provoca diáspora ou genocídio. Procede-se ao desmantelamento de ecossistemas com fins extrativistas (derrubada de florestas) ou com o objetivo de instalar no local ocupado por eles alguma atividade econômica, como é o caso do complexo industrial-portuário do Açu. O dessecamento de uma lagoa acarreta a morte em massa dos organismos aquáticos, com a possibilidade de fuga para os organismos anfíbios no sentido lato, desde que haja refúgio. A supressão de uma floresta com o emprego do fogo costuma provocar a morte de muitos animais. Com o emprego do machado e de meios mecânicos mais modernos, como veículos motorizados e motosserra, há a possibilidade de fuga dos animais para outros lugares. Seja como for, o dano é sempre desastroso. Sem seu ambiente nativo, o animal começa a freqüentar ambientes transformados e até mesmo antrópicos em busca de alimento e de abrigo. Assim, de agredido, passam-no a considerar agressor. Couto Reis impressiona-se com a capacidade das onças de matar o mais bravo touro e saltar com ele preso aos dentes cercas de doze palmos de altura. Pode-se inferir que a introdução de animais domesticados no Brasil passou a oferecer alimentos antes conseguidos com dificuldade pelos carnívoros ou que, carentes de presas nas florestas pela destruição das mesmas, passaram eles a freqüentar pastos e currais em busca de meios para sobreviver. O seu fim costumava ser invariavelmente a morte por arma de fogo ou a captura por armadilhas. O mesmo autor adverte que o cachorro do mato já era escasso em fins do século XVIII. Acrescenta ainda que as lavouras costumavam ser atacadas por porcos do mato, capivaras, macacos e aves32. Tal comportamento decorre, em grande parte, da destruição do habitat desses animais e era considerado incompatível com a racionalidade da economia que se implantou em terras americanas. Daí as açõespreventivas ou punitivas contra eles, transformados em pele, carne e ossos, ou então aprisionados para a criação ou para a comercialização. Além da barreira indígena e da barreira da saúva, há de se ter presente a barreira animal, via de regra violentamente removida.
A destruição de ecossistemas é a maior ameaça à fauna nativa. Norma Crud denunciou que os moluscos Cochlorina navicula, Auris bilabiata melanostoma, Streptaxis contusus, Megalobulimus ovatus e Solaropsis sp. correm sérios riscos em virtude da destruição de seus habitats. O primeiro só ocorre na vegetação psamófila costeira de São João da Barra e da praia de Morobá, no Espírito Santo, não avançando para o sul. O segundo e o terceiro, além de não contarem com populações abundantes, limitam-se ao trecho de restinga entre São João da Barra e Macaé. O quarto foi observado por três vezes, em diferentes horas do dia, caminhando no solo humoso das restingas de Macaé. Finalmente, o quinto só foi encontrado uma vez, na vegetação arbórea da restinga de Carapebus, que tinha sofrido a ação de uma queimada. Segundo ela, a borboleta da praia (Parides ascanius), espécie endêmica, relicta e primitiva, localizada em Cabiúnas, encontrava-se sob pressão de atividades antrópicas e está ameaçada de extinção33.
Para a fauna aquática, a destruição física, química e biológica é igualmente danosa. À drenagem total ou parcial de ecossistemas lagunares, à invasão dos leitos de lagoas por diques, à eutrofização, ao assoreamento e à poluição podem ser imputadas a maior responsabilidade pelo empobrecimento da diversidade faunística nativa. Com respeito ao Rio Itabapoana, o Estudo de Impacto Ambiental efetuado pela empresa de consultoria Engevix aponta 18 espécies nativas de peixes obtidas por captura e por informações de pescadores, o que configura um quadro bem pobre em relação à ictiofauna existente na bacia antes do desmatamento intenso perpetrado nas margens dos rios, da erosão, do assoreamento e da poluição oriunda de diversas fontes34. Na bacia do Rio Paraíba do Sul, a situação é ainda mais grave, pois as margens dos seus rios foram avassaladas por intensa atividade agropecuária, por agressiva industrialização e por descomunal processo de urbanização. As conseqüências sobre a fauna aquática fizeram-se sentir aos poucos. A poluição física e química é o principal fator de degradação da qualidade das águas, associada às barragens, às sangrias e ao assoreamento, como bem demonstra Lísia Vanacôr Barroso. Num levantamento preliminar, constatou-se que as populações de robalo, de peixe-rei, de curimatã, de piaba, de cachimbau, de cascudo, de camarão sapateiro, de camarão de unha e de lagosta de água doce estão declinando e ameaçando as referidas espécies de extinção local. A população de piabanha, por exemplo, tornou-se vestigial, a ponto de considerar-se a espécie como virtualmente extinta na bacia. No tocante às lagoas que restaram e ao que restou das lagoas, após as agressões cometidas pelo poder público e por particulares, não se conta ainda com um estudo detalhado sobre a fauna aquática. Estimava-se, em 1988, que 400 pescadores profissionais atuavam na Lagoa Feia e que as espécies mais capturadas para comercialização eram a corvina, a tainha, o robalo, o piau, o bagre, o acará, a traíra, o curimatã e o jundiá. Na Lagoa de Cima, 170 pescadores profissionais viviam do sairu, do acará, da traíra, do piau, do curimatã, do cachimbau e do acari. Na Lagoa do Campelo, 120 pescadores profissionais acotovelam-se com 100 amadoristas para extrair de suas águas a traíra, o acará e o xingó, além da exótica tilápia35. Pescadores antigos, entretanto, asseguram que a pesca sofreu drástica diminuição em volume e diversidade.
O caso dos ecossistemas de restinga de Quissamã parece deixar claro que a demolição dos ecossistemas nativos, aquáticos e terrestres concorreu de maneira excruciante para o empobrecimento da diversidade faunística antes da criação do Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba. Nesse município, não se passou, como nos solos da planície fluvial e dos tabuleiros, um inclemente rolo compressor. Restaram lagunas, lagoas e amostras de matas que transformaram Quissamã numa espécie de relíquia ecológica da baixada, fazendo contraponto com os remanescentes florestais dos píncaros da Serra do Mar. Nos ambientes nativos, transformados e mesmo antrópicos de Quissamã, um estudo de 1994 revela uma diversidade faunística espantosa, não mais encontrada em outros pontos do norte-noroeste fluminense, até prova em contrário. Os pesquisadores envolvidos no estudo inventariaram, em seis dias de trabalho, mediante entrevistas e observações de campo, 20 espécies de mamíferos: gambá, cuíca, tatu rabo mole, tatu testa de ferro, tatu galinha, tamanduá mirim, tamanduá bandeira, preá cutia, paca, capivara, ouriço cacheiro, tapeti, mão pelada, quati, lontra, furão, raposa, jaguarundi, rato d’água e gato feral. Surpreende a presença do tamanduá bandeira, visualizado pelos pesquisadores. Considerado extinto regionalmente há muito tempo, ele é mencionado como possivelmente existente no Vale do Itabapoana, se bem que os autores do relatório de impacto ambiental referente à hidrelétrica de Rosal jamais tenham visto um exemplar do animal em suas investigações esporádicas. Acreditam eles que, juntamente com o lobo guará, com o gato do mato e com o veado catingueiro, o tamanduá bandeira refugia-se em locais recônditos da Serra do Caparaó.
Em termos de ornitofauna, a diversidade é bem maior. A pesquisa direta e indireta revelou a presença de 141 espécies, a saber, codorna, inhambu chororó, mergulhão, atobá, biguá, alcatraz, maguari, garça branca, garça branca pequena, socozinho, socoí vermelho, socoí amarelo, garça vaqueira, jaburu, joão grande, cabeça seca, caneleira, asa branca, irerê, queixo branco, pé vermelho, marreca argentina, marrecão da Patagônia, pato do mato, urubu, urubu de cabeça amarela, urubu de cabeça vermelha, gavião peneira, gavião carijó, gavião caboclo, gavião caramujeiro, acauã, carcará, carrapateiro, falcão de coleira, gavião quiri quiri, jacupemba, carão, saracuna sanã, saracura matraca, saracura rajada, três potes, sana carijó, saracura mirim, frango d’água azul, frango d’água, jaçanã, quero-quero, batuiruçu de axila preta, batuíra de coleira, vira pedra, maçarico solitário, maçarico de pernas amarelas, maçarico grande de perna amarela, maçarico, maçaricão, narceja, gaivotão, pomba, pomba galega, asa branca, rolinha asa de canela, rolinha, juriti, chauá, alma de gato, anu, anu branco, saci, coruja buraqueira, mãe da lua, bacurau, curiango, bacurau tesoura, andorinhão de coleira, andorinhão, beija flor tesoura, beija flor de garganta verde, martim pescador, martim pescador verde, pica-pau anão, pica-pau do campo, joão velho, birro, joão-de-barro, casaca de couro, curutié, bate-bico, noivinha, lavadeira, viuvinha, suiriri vaqueiro, tesourinha, suiriri, neinei, bem-te-vi-pequeno, bem-te-vi, bico chato amarelado, relógio, teque-teque, barulhento, guaracava, risadinha, miudinho, andorinha de sobre branco, andorinha do campo, andorinha de casa grande, andorinha de casa pequena, andorinha de bando, sabiá da praia, sabiá do campo, japacanim, cambaxirra, sabiá larajeira, caminheiro, juruviara, vite-vite, maria preta, garibaldi, carretão, polícia inglesa, mariquita, cebinho, saí azul, saí de pé vermelho, saíra amarela, vi-vi, sanhaçu, sangue de boi, canário sapê, tiziu, coleirinho, baiano, canário da terra, tipiu, cigarra do bambu, galinho da serra, tico-tico, canário do campo e pardal.
Essas espécies, de diversas ordens, distribuem-se em lagoas litorâneas de água salobra, lagoas interioranas, vegetação de restinga, matas e áreas campestres ou de culturas. Várias são aves migratórias, que buscam pouso naqueles ambientes da ecorregião. O pardal é indiscutivelmente exótico e prosperou com incrível rapidez e sucesso em várias regiões do Brasil. Não causa estranheza o pequeno número de aves canoras, face à sistemática perseguição que sofreram para cumprirem o melancólico papel de animadores musicais domésticos. 
A ictiofauna também está significativamente representada nos ecossistemas aquáticos marinhos e continentais de Quissamã, com 51 espécies identificadas: duas espécies de sardinha, sardinha cascuda, savelha, manjuba de duas espécies, traíra, jeju, piau, sairu, peixe cachorro ou bocarra, quatro espécies de lambari, três espécies de piava, bagre urutu, mandi, bagre amarelo, cumbaca, cascudo, tamboatá, duas espécies de sarapó, quatro espécies de barrigudinho, peixe-rei ou escrivão, muçum, duas espécies de acará, joaninha, tainha, parati, duas espécies de corvina, carapeba, duas espécies de carapicu, maria da toca, peixe-flor, duas espécies de robalo, linguado, sola e baiacu espinho36.
Infelizmente, não contamos ainda com um levantamento da fauna que tem nos remanescentes de floresta estacional semidecidual e ombrófila o seu habitat. Carecemos também de um inventário da fauna aquática. A julgar pelos relatos de Couto Reis e de Maximiliano, principalmente, podemos concluir, com boa margem de segurança, que houve um empobrecimento alarmante da biodiversidade faunística na região norte-noroeste fluminense, com a extinção regional de várias espécies. Abatida, aprisionada, envenenada pelo uso agropecuário de insumos químicos, privada de sua moradia quer pela poluição quer pela supressão de ecossistemas, sofrendo a competição de espécies exóticas introduzidas pela colonização européia, a fauna aquática e terrestre desapareceu da ecorregião ou refugiou-se em condições desfavoráveis nos poucos fragmentos de ecossistemas nativos poupados pela implantação das atividades extrativistas, agropecuárias e industriais, bem como de cidades. A este processo impiedoso de pauperização, em termos qualitativos e quantitativos, resistiram algumas espécies que acabaram por merecer a comenda de ameaçadas de extinção, como o macaco barbado, o mono carvoeiro, a suçuarana, a jaguatirica, o gato do mato, o maracajá, o lobo guará e o veado campeiro (se confirmada a suspeita levantada no relatório de impacto ambiental da hidrelétrica de Rosal), a lontra, a preguiça de coleira, o tamanduá bandeira (a ser verídica a informação sobre sua existência em Quissamã), o chauá, o jacu (de provável ocorrência no vale do Itabapoana), a tartaruga cabeçuda, a tartaruga verde e a Lepidochelys olivacea37, o cágado de hogei, a surucucu pico de jaca, o jacaré de papo amarelo e a borboleta da praia, pelo menos.
Há também um trabalho de pesquisa com cetáceos na praia sanjoanense de Atafona (Projeto Cetáceos/FBCN) que conseguiu identificar, entre 1989 e 1996, as seguintes espécies da ordem dos Cetáceos, capturadas acidentalmente por pescadores: toninha (Pontopora blainvillei), tucuxi ou boto cinza (Sotalia fluviatilis), golfinho nariz de garrafa (Tursiops truncatus), golfinho de dentes rugosos (Steno bredanensis) e golfinho pintado (Stenella cf frontalis) As pesquisadoras do Projeto Anapaula di Beneditto e Renata Ramos também avistaram ou encontraram encalhadas nas praias da região a baleia jubarte (Megaptera novaeangliae), a baleia franca austral (Eubalaena australis) e a orca (Orcinus orca)38.

O provável impacto do complexo logístico industrial-portuário do Açu sobre a fauna nativa
Os comentários tecidos aqui tomam por base o Estudo de Impacto Ambiental da Infraestrutura do Distrito Industrial de São João da Barra39, por entender que seja mais completo que os relacionados a empreendimentos isolados que vão integrá-lo. O Distrito Industrial é parte do Complexo Logístico Industrial do Porto do Açu (CLIPA) e deverá abrigar um porto construído no mar com pedras retiradas do Morro do Itaoca, dois canais submarinos de acesso ao CLIPA, três emissários submarinos, um mineroduto, um estaleiro, três pátios logísticos, duas usinas termelétricas (uma a carvão mineral e outra a gás natural), duas siderúrgicas, unidades industriais metal-mecânicas, indústria de construção civil, pré-moldados e estruturas metálicas, indústrias de cerâmica, de beneficiamento de rochas ornamentais e de revestimentos, indústria de utilidades industriais (gases industriais, água, vapor e afins), indústria automotiva e cimenteiras. Duas adutoras fornecerão água captada no Rio Paraíba do Sul para o complexo, retirando dele, no seu trecho final, 10m3/s. O acesso por terra a ele será feito por um grande corredor logístico.
Manoel Martins do Couto Reis, no fim do século XVIII, Maximiliano de Wied-Neuwied, em 1815, Hermann Burmeister e J. J. Tschudi, ambos em meados do século XIX, conheceram os ecossistemas aquáticos continentais e os vegetais nativos muito mais íntegros do que seu estado atualmente. A diversidade faunística, no tempo de cada um, era muito maior que nos dias que correm. Para eles, o levantamento de animais nativos constituiu tarefa bem mais fácil que atualmente. Porém, ressalte-se que todos eles passaram mais tempo em cada local do que os pesquisadores de hoje. Couto Reis permaneceu na região norte-noroeste fluminense por dois anos. Os demais, apenas algumas semanas. Os pesquisadores atuais efetuam poucas expedições para visualização e coleta de animais, pois têm pressa em atender as empresas que os contratam.
De todas as áreas da região, a parte menos conhecida pelos naturalistas europeus é a seção meridional da restinga de Paraíba do Sul (entre a margem direita do rio de mesmo nome e o Cabo de São Tomé). Tal lacuna se deve às vias costeiras de acesso. Quem partia do sul ou do norte, ao chegar na altura do que hoje é o núcleo urbano do Farol de São Tomé, rumava para o interior por uma estrada de terra até Campos. Esta via seguiu o curso do Córrego do Cula e já era percorrida no século XVII. No século XIX, a Estrada de Ferro São Sebastião acompanhou seu traçado. No século XX, ela foi transformada na rodovia RJ-216 (Campos-Farol).
Quem, por outro lado, vinha do norte passava em Campos, seguia esse mesmo caminho e rumava para o sul. Nos dois casos, não se passava no segmento meridional da restinga. Só Manoel Martins do Couto Reis a percorreu, mas ele era cartógrafo, e não zoólogo, especialização que ainda não existia.
As informações colhidas pelas firmas de consultoria que formularam o Estudo de Impacto Ambiental relativo ao Distrito Industrial do Açu são bastante incompletas e se baseiam, em grande medida, em estudos formulados por outros autores.

Ecossistemas aquáticos continentais (limnossistemas)
As principais espécies identificadas na Lagoa do Taí foram Hoplerythrinus unitaeniatus (Marobá), Hoplosternum litoralle (tamboatá), Rhamdia quelen (jundiá), Geophagus brasiliensis (acará), Cyphocharax gilbert (sairu), Parauchinopterux striatulus (cumbaca), Hoplias malabaricus (traíra), Astyanax bimaculatus (lambari) e Loricariichthys sp (caximbau viola).
Na Lagoa de Gruçaí, destacam Oligosarcus hepsetus (bocarra), Geophagus brasiliensis (acará), Achirus lineatus (linguado listrado), Eucinostomus melenopterus (carapicu), Geniens genidens (bagre), Elops saurus (ubarana), Mugil curema (parati), Centropomus parallelus (robalo), Hoplias malabaricus (traíra), Mugil lisa (tainha), Astyanax bimaculatus (lambari), Cyphocharax gilbert (sairu), Hoplosternum litoralle (tamboatá), Rhamdia quelen (jundiá) e Parauchinopterux striatulus (cumbaca).­
Para a Lagoa de Iquipari, as espécies registradas são Pomatomus saltator (enxova), Oligosarcus hepsetus (bocarra), Diapterus olisthostomus (carapeba), Awaous tajasica (peixe flor), Syacium micrurum (linguado), Hoplias malabaricus (traíra) e Cyphocharax gilbert (sairu).
A Lagoa do Veiga foi a que menos espécies apresentou. Foram identificadas o Geophagus brasiliensis (acará), Astyanax fasciatus (tetra selvagem, peixe de aquário), Oligosarcus hepsetus (bocarra) e Hyphebrycon bifasciatus (tetra amarelo, também peixe de aquário).
Na Lagoa Salgada, foram encontrados Xenomelaniris brasiliensis (peixe rei), Centropomus parallelus (robalo), Geophagus brasiliensis (acará), Hoplias malabaricus (traíra), Astyanax bimaculatus (lambari), Hoplosternum litoralle (tamboatá) e Xenomelaniris brasiliensis (peixe rei).

Perturbações ambientais nos ecossistemas aquáticos continentais
Na fase de implantação do Complexo Logístico Industrial-Portuário do Açu, será impossível evitar as perturbações aos ecossistemas aquáticos continentais pela movimentação de veículos e por ruídos diversos. Na Audiência Pública relativa ao EIA do porto, a Comissão Estadual de Controle Ambiental (CECA) aprovou a deposição de areia do fundo do mar para a abertura do canal de acesso às instalações portuárias em outro ponto do mar. O mesmo foi aprovado quanto ao canal de acesso ao estaleiro. No entanto, grande parte dessa areia está sendo usada para elevar o terreno onde será erguido o distrito industrial de São João da Barra, que será construído pela Companhia de Desenvolvimento Industrial do Estado do Rio de Janeiro (CODIN), mas operado pela LLX, uma das empresas do grupo EBX.
Coletas recentes de água na Lagoa de Iquipari efetuadas pela Universidade Estadual Norte Fluminense mostram que os teores de salinidade de suas águas aumentam à medida que se afasta do mar. Há fortes indícios de que a água salgada que vem junto com a areia esteja correndo para as cabeceiras da Lagoa de Iquipari, que, outrora, foi um dos braços do delta do Paraíba do Sul.
Quando o complexo entrar em operação, o movimento de pessoas e veículos e os ruídos deverão se agravar, perturbando permanentemente as lagoas no entorno do distrito industrial. Espera-se também que as fundações dos prédios do Complexo Logístico Industrial do Porto do Açu (CLIPA), assim como o canal Campos-Açu, que o Instituto Estadual do Ambiente (INEA) pretende construir para drenagem, entre o Canal do Quitingute e o canal do estaleiro, interfiram na circulação das águas sub-superficiais da restinga. As figuras abaixo mostram a circulação das águas subterrâneas apenas com o CLIPA e com o canal.
A Lagoa do Veiga sofrerá um profundo impacto com a instalação do estaleiro cuja construção previa-se, inicialmente, em Santa Catarina. Como lá ele ameaçasse três Unidades de Conservação, o grupo EBX conseguiu licença para implantá-lo na restinga do Açu. Para que os navios nele aportem ou dele saiam para o mar, um canal de 300 metros de largura por 18 metros de profundidade cortará a Lagoa do Veiga em sua parte íntegra. Este é um impacto permanente e irreversível. Havia outro caminho para a sua abertura, mas a decisão foi mantida e licenciada pelo INEA. Pela legislação, as lagoas são bens públicos protegidos pela Constituição da República.
Tudo indica que outro atentado profundo aos ecossistemas aquáticos continentais será o aterro das cabeceiras da Lagoa de Iquipari para a construção do Distrito Industrial. As firmas de consultoria costumam ilustrar os projetos com mapas mudos, ou seja, aqueles que camuflam o contexto ambiental e social.


Ecossistemas terrestres (epinossistemas)
As principais espécies levantadas foram, entre os insetos, Xylocopa ordinaria (abelha da restinga), Atta robusta (saúva da restinga, não avistada) e Parides ascanius (borboleta da praia).
Entre os anfíbios, as espécies mais encontradas foram Aparasphenodon brunoi, Trachycephalus nigromaculatus, Dendropsophus decipiens, Hypsiboas albomarginata, Scinax alter, Scinax similis, Leptodactylus ocellatus e Phyllodytes luteulos (perereca da restinga, espécie que só ocorre em ambiente de restinga). O destaque do levantamento fica por conta de Rhinella pygmaea (rã bugio ou sapo da restinga) e Scinax perpusilus (rã bugio).
No que concerne aos répteis, assinalam-se como correntes Tropiduros torquatus (calango), Mabuya macrorhyncha, Mabuya agilis, Hemidactylus mabouia (lagartixa), Ameiva ameiva (lagarto verde), a serpente Waglerophis merremii (boipeva), Oxyrhopus trigeminus (falsa coral), Boa constrictor (jibóia), Bothropoides jararaca (jararaca) e Liophis miliaris (cobra d’água). Foram tomadas como espécies importantes Cnemidophorus littoralis (lagartinho de rabo verde), Acanthochelys radiolata (cágado amarelo), Caiman latirostris (jacaré de papo amarelo), Philodryas patagoniensis (cobra corre campo), Philodryas olfersii (cobra cipó), Bothropoides newiedi (jararaca) e Liolaemus lutzae (lagartinho branco). Sabe-se que o cientista Alexandre Fernandes Bamberg de Araújo introduziu o lagartinho branco na restinga de Morobá, à margem esquerda do Rio Itabapoana, para assegurar a sua proteção. É pouco provável que a espécie ocorra na restinga de Paraíba do Sul.
A lista das espécies de aves inclui Crotophaga ani (anu preto), Mimus saturninus (sabiá do campo), Coragyps atratus (urubu), Vanellus chilensis (quero-quero), Bubulcus íbis (garça vaqueira), Patagioenas picazuro (asa branca), Amazonetta brasiliensis (ananaí), Pitangus sulphuratus (bem-te-vi), Ammodramus humeralis (tico-tico do campo verdadeiro). Dentre as que merecem mais cuidados, estão Platalea ajaja (colhereiro), Choroicocephalus cirrocephalus (gaivota de cabeça cinza), Hymantopus melanurus (pernilongo). Cyanerpes cyaneus (saíra beija flor), Furnarius figulus (casaca de couro da lama), Phaetornis idaliae (besourinho), Aphantochroa cirrochloris (beija flor cinza), Anhinga anhinga (biguatinga) e Mimus gilvus (sabiá da praia). Quanto a este último, a equipe que redigiu o Estudo de Impacto Ambiental comenta que a espécie está ameaçada no Estado do Rio de Janeiro e extinta na baixada dos Goytacazes. Ele não foi visualizado pela equipe. A bióloga Norma Crud, acompanhado do autor do presente trabalho, conseguiu atrair um macho na localidade do Açu, em fins dos anos de 1990.
Por fim, acerca dos mamíferos, foram arrolados Euryoryzomys russatus (rato do mato), Cerradomys subflavus (rato do mato), Coendou villosus (ouriço cacheiro), Tamandua tetradactyla (tamanduá mirim), Dasypus novemcintus (tatu galinha), Euphractus sexcintus (tatu peba), Noctilio leporinus (morcego-pescador), Nectomys squamipes (rato d’água), Hidrochaeris hidrochaeris (capivara) e Artibeus lituratus (morcego frugívoro). Atenção especial merecem Gracilinanus microtarsus (cuíca), Pecari tajacu (cateto), Cabassous tatouay (tatu de rabo mole), Agouti paca (paca), Bradypus torquatus (preguiça de coleira), Leopardus pardalis (jaguatirica, não avistada, mas de ocorrência provável), Trinomys eliasi, Platyrrhinus recifinus (morcego), Diaemus yongi (morcego provavelmente existente), Mimon crenulatum (morcego (provavelmente existente), Phylloderma stenops (morcego provavelmente encontrável), Artibeus cinereus (morcego provavelmente ocorrente), Chiroderma doriae (morcego provavelmente encontrável) e Desmodus rotundus (morcego vampiro comum).

Perturbações aos ecossistemas
Na fase de instalação dos empreendimentos, será impossível evitar a produção de movimento de pessoas e de veículos, bem como a geração de ruídos, o que muito afugenta a fauna terrestre. As equipes que formulam Estudos de Impacto Ambiental costumam classificar as áreas da restinga ocupadas por lavouras e pastos como muito antropicizadas, descaracterizadas e degradadas. Cabe salientar, contudo, que as terras transformadas por atividades rurais podem ser restauradas e revitalizadas. São, portanto, atividades reversíveis. Não se pode dizer o mesmo de um complexo industrial-portuário gigantesco, pois ele muda radicalmente o uso do solo, não permitindo a reversão.
Mesmo que a vegetação nativa de restinga, em grande parte, tenha sido substituída por uma pequena atividade agropastoril, restaram, na área do CLIPA, fragmentos de ecossistemas vegetais nativos que abrigam espécies faunísticas silvestres. A remoção de tais fragmentos, mesmo que acompanhada de captura de animais em fuga a fim de transferi-los para outro local, digamos, para a Fazenda Caroara, onde será criada uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), jamais alcança êxito total. Ocorrem muitas fugas e mortes. Colocados em outros locais, os indivíduos capturados encontram a resistência de outros animais na competição por espaço e alimentos. A construção de um novo equilíbrio é sempre demorada e acompanhada de perdas significativas.
Na fase de operação, certos vetores de perturbação se agravam. Por exemplo, a movimentação de pessoas e de veículos e o aumento de ruídos em quantidade e intensidade. O próprio complexo industrial-portuário representa uma mudança profunda no ambiente, provocando a mutilação e a morte de animais que se atrevem a nele penetrar.

Ecossistemas marinhos (talassossistemas)
Ainda acompanhando o Estudo de Impacto Ambiental da Infraestrutura do Distrito Industrial de São João da Barra40, foram encontrados representantes da Classe Poliqueto (do grego polys=muitos+chaeta=pêlo, espinho, cerda), incluída do Filo Annelida. Ela é formada por vermes segmentados que representam o maior grupo do filo. Seus integrantes costumam ser predominantemente marinhos, vivendo em galerias escavadas na areia ou flutuando nas proximidades da superfície ou no interior de tubos que eles mesmos constroem. As principais espécies identificadas pelas equipes das empresas de consultoria foram Parandalia ocularis, Magelona capensis, Sigambra bassi, Paraprionispio pinnata, Magelona cincta e Neanthes bruaca.
Os sipúnculos constituem um filo de animais marinhos vermiformes com corpo não segmentado. Em comprimento, não ultrapassam 10 cm. Embora pequeno, o filo habita desde águas marinhas pouco profundas a profundidades abissais. Nenhuma espécie foi apontada.
Os equinodermos (do grego echinos, espinho + derma, pele + ata, caracterizado por) é um filo ao qual pertencem os conhecidos estrela do mar e ouriço do mar. São animais exclusivamente marinhos. Nenhuma espécie foi mencionada no EIA.
Quanto aos moluscos (do latim molluscus, mole), filo de animais invertebrados, marinhos, de água doce ou terrestres, foram registrados Nucula peulcha, Olivella minuta, Nucula semiornata, Plicatula gibbosa, Chama congregata e Tellina alternata.
Os crustáceos fazem parte do filo dos artrópodes (do grego arthros: articulado e podos: pés, patas, apêndices), animais invertebrados. A palavra crustáceo vem do latim crusta (carapaça). Nas coletas feitas no mar pelas equipes das firmas de consultoria, foram encontrados Pinnixa rapax, Ogyrides alphaerostris, Crassinella lunulata, Farfantepenaus brasiliensis (camarão rosa), Farfantepenaus paulensis (camarão rosa) e Xiphopenaeus kroyeri (camarão sete-barbas).
A palavra nemertíneo deriva de nemertea (do grego Nemertes, uma das nereides, a que não errava) também designado Nemertina, Nemertinea ou Nemertini É um filo formado por vermes de corpo segmentado que habitam ambiente marinho. É também conhecido por Rhynchocoela (do grego rhynchos, bico + koilos, cavidade). O grupo está presente na costa norte fluminense. Por fim, entre os invertebrados, foram também encontrados hemicordatos (do grego hemi, metade + chorda, corda), animais marinhos considerados como as formas mais primitivas dos cordados. O filo é formado por animais vermiformes que apresentam semelhanças com os cordados e com os equinodermos.
Para formular a lista de peixes cartilaginosos, a equipe de consultoria valeu-se bastante de estudiosos, talvez até mais do que coletas de campo. Cita Lessa et alli (LESSA, R.P.T.; SANTANA, F.M.; RINCÓN, G. GADIZ, O.B.F. e EL-DEIR, A.C.A. Biodiversidade de elasmobrânquios do Brasil. Brasília: MMA, 1999), que se refere a Rhinobatus percellens (raia viola), Mustelus higmani (cação), Carcharhinus brachyurus (cação), Rhizoprionodon lalandii (cação-frango). Olavo et alii (OLAVO, G.; COSTA, P.A.S. e MARTINS, A.S. Prospecção de grandes peixes pelágicos na região central da ZEE brasileira entre o Rio Real-BA e o Cabo de São Tomé-RJ. MARTINS, A.S. e OLAVO, G. (eds.). Pesca e potenciais de exploração de recursos vivos na região central da Zona Econômica Exclusiva brasileira. Rio de Janeiro: Museu Nacional,
2005) registraram Carcharhinus longimanus (gralha branca), Prionace glauca (tubarão azul), Sphyrna zygaena (tubarão martelo), Alopias superciliosus (cação raposa), Isurus oxyrhincus (anequim/cação mouro), Pteroplatytrygon violacea (raia) e Heptranchias perlo.
No que se refere aos peixes ósseos, as espécies mais destacadas são Maurolicus stehmanni, Trichiurus lapturus (peixe-espada), Engraulis anchoita (anchoveta), Synagrops spinosus e Bregmacerus cantori. Recorrendo novamente a Olavo (2005), a equipe menciona Coryphaena hippurus (dourado), Gempylus serpens (espada preto), Lepidocybium flavobrunneum (prego-liso), Tetrapturus albidus (agulhão-branco), Thunnus alalunga (albacora branca), Thunnus albacares (albacora laje), Thunnus atlanticus (albacorinha) e Masturus lanceolatus (peixe-lua).
As quatro espécies de quelônios que ocorrem nas costas do norte fluminense são Chelonia mydas (tartaruga verde), Lepidochelys olivacea (tartaruga oliva), Caretta caretta (tartaruga cabeçuda) e Eretmochelys imbricata (tartaruga de pente).
Concluindo o levantamento, os cetáceos que freqüentam o norte-fluminense são Tursiops truncatus (golfinho nariz de garrafa), Sotalia guianensis (boto cinza), Pontoporia brainvillei (toninha) e Steno bredanensis (golfinho de dentes rugosos).

Perturbações aos ecossistemas
Por serem abertos, os ecossistemas marinhos oferecem uma vantagem em relação aos aquáticos continentais e aos terrestres: a fuga dos animais de interferências perturbadoras e degradadoras. Por outro, espécies que buscam sempre os locais de nascimento para procriar, como as tartarugas marinhas, não conseguem escapar das atividades temporárias e permanentes. Nos dois casos, contudo, o resultado final é o empobrecimento da biodiversidade.
Como o Complexo Logístico Industrial Portuário do Açu (CLIPA) vai funcionar com recursos naturais não renováveis e carbono-intensivos, é de esperar impactos ambientais reais e potenciais muito altos. Parte do minério de ferro transportado de Minas Gerais ao porto será exportada e outra utilizada como matéria prima por duas siderúrgicas. A energia para atender ao complexo advirá de uma termelétrica a carvão mineral e a gás natural situadas no âmbito do próprio complexo. Além do mais, o porto atenderá às necessidades de exploração de petróleo pela OGX, uma das empresas do grupo EBX, na Bacia de Campos. Para tanto, serão efetuadas operações de sísmica marinha, altamente impactantes.
A abertura de dois canais de acesso, um para o porto e outro para o estaleiro, no fundo do mar, ambos longos, largos e profundos, não conseguirão evitar impactos sobre a fauna marinha, por maiores que tenham sido os esforços dos empreendedores no sentido de tranqüilizar a comunidade científica quanto a eles. Há informações de que a areia retirada do fundo do mar traz consigo invertebrados, peixes e tartarugas marinhas. As evidências se tornam cada vez mais eloqüentes para serem negadas. Por outro lado, inicialmente, a areia retirada da abertura de canais seria depositada dentro do próprio mar, o que, inegavelmente, acarreta impactos à biota de fundo. Contudo, grande parte dela está sendo destinada ao continente, como material de aterro para elevar o terreno em que será erigido o Distrito Industrial da CODIN, também gerando impactos ambientais aos ecossistemas aquáticos continentais e terrestres.
Em função de fortes correntes marinhas numa costa nova, aberta e baixa entre os Rios Macaé e Itapemirim, a dragagem dos dois canais deverá ser empreendida periodicamente para manter os dois canais em condições de acesso a navios de grande calado. Assim, a dragagem não é um impacto temporário, mas sim permanente, embora em caráter periódico. Por último, não se pode negar que o tráfego de navios se constitui num impacto permanente.

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WIED-NEUWIED, Maximiliano de. Viagem ao Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1989.

* Doutor em História Social com concentração em História Ambiental pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

1 WIED-NEUWIED, Maximiliano de. Viagem ao Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1989.

2 FREIREYSS, G.W. Viagem ao Interior do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1982.

3 SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem pelo Distrito dos Diamantes e Litoral do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo, Edusp, 1974.

4 BURMEISTER, Hermann. Viagem ao Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia: São Paulo: Edusp, 1980.

5 COUTO REIS, Manuel Martins do. Descrição Geográfica, Política e Cronográfica do Distrito dos Campos dos Goiataca que por ordem do Ilmo. e Exmo. Senhor Luiz de Vasconcellos e Souza do Conselho de S. Majestade, Vice-Rei e Capitão General do Mar e Terra do Estado do Brasil se escreveu para Servir de explicação ao Mapa Topográfico do mesmo terreno, que debaixo da dita ordem se levantou. Rio de Janeiro: 1785 (manuscrito original).

6 WIED-NEUWIED, Maximiliano de. Op. cit., págs. 85 e 103.

7 BURMEISTER, Hermann. Viagem ao Brasil, op. cit.

8 LIMA, Tania Andrade e SILVA, Regina Coeli Pinheiro da. Zoo-arqueologia: alguns resultados para a pré-história da Ilha de Santana. Revista de Arqueologia 2 (2). Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi, jul/dez de 1984.

9 DESCRIÇÃO que faz o Capitão Miguel Aires Maldonado e o Capitão José de Castilho Pinto e seus companheiros dos trabalhos e fadigas das suas vidas, que tiveram nas conquistas da capitania do Rio de Janeiro e São Vicente, com a gentilidade e com os piratas nesta costa. Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil tomo XVII. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1894.

10 COUTO REIS, Manoel Martins do. Op. cit., págs. 46 e 47. NOMURA, Hitoshi, em Dicionário dos Peixes do Brasil (Brasília: Editerra, 1984), menciona quatro espécies chamadas popularmente de dourado: Brachyplatystoma flavicans, do Rio Madeira; Coryphaena hippurus, espécie marinha comum no nordeste brasileiro; Salminus brevidens, nativo da Bacia do São Francisco; e Salminus maxillosus, dos Rios Parnaíba, Paraná, Pardo, Mogi Guaçu, Grande, Tietê, Paranapanema, Sapucaí, dos Peixes e Doce. Nenhuma delas, portanto, é nativa dos ecossistemas aquáticos continentais da ecorregião norte-noroeste fluminense.

11 CASAL, Manuel Aires de. Corografia Brasílica. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1976. SILVA, José Carneiro da. Memória Topográfica e Histórica sobre os Campos dos Goitacases.3ª ed.Campos dos Goytacazes: Fundação Cultural Jornalista Osvaldo Lima, 2010; PIZARRO E ARAUJO, José de Souza Azevedo. Memórias Históricas do Rio de Janeiro, 3º vol. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1945; SOUZA, Antonio Muniz de. Viagens e observações de um brasileiro que desejando ser útil à sua pátria se dedicou a estudar os usos e costumes de seus patrícios, e os três reinos da natureza em vários lugares e sertões do Brasil. Rio de Janeiro: Tip. Americana de I.P. da Costa, 1834; e MELLO, José Alexandre Teixeira de. Campos dos Goitacases em 1881. Rio de Janeiro: Laemmert & C., 1886.

12 LAMEGO FILHO, Alberto. A Planície do Solar e da Senzala. Rio de Janeiro: Católica, 1934.

13 COUTO REIS, Manoel Martins do. Op. cit., pág. 48; e WIED-NEUWIED, Maximiliano. Op. cit., pág. 103.

14 LIMA, Tania Andrade e SILVA, Regina Coeli Pinheiro da. Op. cit., págs. 86 e 87; COUTO REIS, Manoel Martins do. Op. cit., pág. 47; WIED-NEUWIED, Maximiliano de. Op. cit., págs. 88 e 125;  SOUZA, Antonio Muniz de. Op. cit. pág. 136; BURMEISTER, Hermann. Op. cit., pág. 145; e MELLO, José Alexandre Teixeira de. Op. cit., pág. 54.

15 COUTO REIS, Manoel Martins do. Op. cit. págs. 47 e 48; WIED-NEUWIED, Maximiliano de. Op. cit., págs., 77, 79 e 80; SOUZA, Antonio Muniz de. Op. cit., pág. 136; SILVA José Carneiro da. Op. cit., pág. 19.

16 MELLO, José Alexandre Teixeira de. Op. cit., pág. 54; LIMA, Tania Andrade e SILVA, Regina Coeli Pinheiro da. Op. cit., pág. 87; e PROJETO TAMAR/IBAMA. Relatório das Atividades do Projeto Tartaruga Marinha no Litoral Norte Fluminense - Campanha 93/94 - Base Bacia de Campos - Núcleo Atafona. Sem indicação de local: Ibama, s/d.

17 SILVA, Osório Peixoto. O Ururau da Lapa e Outras Estórias. Rio de Janeiro: Imago, 1976.

18 WIED-NEUWIED, Maximiliano de. Op. cit.

19 SILVA, Osório Peixoto. O Ururau da Lapa e Outras Estórias. Rio de Janeiro: Imago, 1976; COUTO REIS, Manoel Martins do. Op. cit., pág. 36; WIED-NEUWIED, Maximiliano de. Op. cit., págs. 120 a 128; e BURMEISTER, Hermann. Op. cit., pág. 160.

20 LIMA, Tania Andrade e SILVA Regina Coeli Pinheiro da. Op. cit., págs. 28 a 31.

21 Descrição que faz o Capitão Miguel Aires Maldonado...”, Op. cit.; e COUTO REIS, Manoel Martins do. Op. cit., págs. 38 a 46.

22 WIED-NEUWIED, Maximiliano de. Op. cit., págs. 75 a 129.

23 BURMEISTER, Hermann. Op. cit.

24 SAINT-HILAIRE, Auguste de. Op. cit., págs. 183 a 212; e BURMEISTER, Hermann. Op. cit., págs. 142 a 197.

25 SILVA, José Carneiro da. Op. cit.; PIZARRO E ARAUJO, José de Souza Azevedo. Op. cit., pág. 100; SOUZA, Antonio Muniz de. Op. cit., pág. 164; e MELLO, José Alexandre Teixeira de. Op. cit., págs. 54 a 56.

26 LIMA, Tania Andrade e SILVA, Regina Coeli Pinheiro da. Op. cit., págs. 32 a 35.

27 DESCRIÇÃO que faz o capitão Miguel Aires Maldonado..., pág. 357.

28 COUTO REIS, Manoel Martins do. Op. cit., págs. 34 a 37.

29 WIED-NEUWIED, Maximiliano de. Op. cit., págs. 84 a 129.

30 SOUZA, Antonio Muniz de. Op. cit., págs. 136 e 164.

31 SILVA, José Carneiro da. Op. cit.; PIZARRO E ARAUJO, José de Souza Azevedo. Op. cit., pág. 100; MARTINS, Fernando José. História do Descobrimento e Povoação da Cidade de S. João da Barra e dos Campos dos Goitacases, Antiga Capitania da Paraíba do Sul. Rio de Janeiro: Tipografia de Quirino & irmão, 1868; e MELLO, José Alexandre Teixeira de. Op. cit., 54.

32 COUTO REIS, Manoel Martins do Couto. Op. cit., págs. 34 a 46.

33 MACIEL, Norma Crud. A fauna da restinga do Estado do Rio de Janeiro: passado, presente e futuro. Proposta de preservação. In: LACERDA, L. D. de; ARAUJO, D.S.D. de; CERQUEIRA, R.; e TURQC, B. (orgs). Restingas: Origem, Estrutura, Processos. Niterói: CEUFF, 1984, págs. 285 a 304.

34 CERJ. Aproveitamento Hidrelétrico do Rio Itabapoana-Usina Hidrelétrica de Rosal-Relatório de Impacto Ambiental. Rio de Janeiro: Companhia de Eletricidade do Rio de Janeiro, outubro de 1992.

35 BARROSO, Lísia Vanacôr. Diagnóstico Ambiental para a Pesca de Águas Interiores no Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, 1989; WEKID, Rosa Maria Cordeiro. Levantamento da Pesca no Rio Paraíba do Sul na Região Norte Fluminense. Sem indicação de lugar: Superintendência do Desenvolvimento da Pesca/Coordenadoria Regional no Estado do Rio de Janeiro, 1984; e CASTELLO BRANCO, Rosa Maria Cordeiro Wekid. Diagnóstico Preliminar dos Recursos Naturais de Água Doce e Estuarinos e Algumas Considerações. Sem indicação de lugar: Superintendência do Desenvolvimento da Pesca/Coordenadoria Regional no Estado do Rio de Janeiro, 1988.

36 COLETIVO INTERDISCIPLINAR DE CONSULTORES LTDA. Zoneamento Agroecológico da Restinga: Contribuição ao Plano Diretor de Ocupação - Estudos do Meio Biótico. Quissamã: Prefeitura Municipal, 1994; e CERJ, Op. cit., pág. 34.

37 Cf. PROJETO TAMAR. Relatório das Atividades do Projeto Tartaruga Marinha no Litoral Norte-Fluminense - Campanha 94/95 - Base Bacia de Campos - Núcleo Atafona. Sem indicação de lugar: Centro Tamar/Ibama, 1995.

38 PROJETO CETÁCEOS/FBCN. Plano de Conservação e Manejo de Pequenos Cetáceos no Norte do Rio de Janeiro e seu Envolvimento em Operações de Pesca - Base de Pesquisa de Atafona. Rio de Janeiro: Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza, 1996.

39 LLX, ECOLOGUS E AGRAR. Estudo de Impacto Ambiental da Infraestrutura do Distrito Industrial de São João da Barra. Maio, 211.

40 LLX, ECOLOGUS E AGRAR. Estudo de Impacto Ambiental da Infraestrutura do Distrito Industrial de São João da Barra. Maio, 211.

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