FUTEBOL E VIDA

Quando o São Paulo Futebol Clube decidiu contratar o zagueiro Lúcio - excelente zagueiro por sinal -, o técnico Nei Franco, um dos melhores da atual geração de técnicos brasileiros de futebol, manifestou à diretoria do clube uma preocupação. Lúcio é evangélico fervoroso e tem o hábito de tentar fazer pregação junto a companheiros de clubes na tentativa de recrutar novos fiéis para sua igreja.

Nei Franco alertou os dirigentes que a despeito do bom futebol de Lúcio uma brecha ia se abrir para desagregações, pois muitos jogadores não gostavam e não iriam aceitar as pregações de Lúcio. Uma cláusula contratual resolveu o problema. Pregações religiosas de Lúcio seriam motivo de justa causa para rescisão do contrato.

Terminada a Copa do Mundo de 2010 para o Brasil, na derrota para a Holanda, muitos jornalistas procuraram explicações para a apatia da equipe no segundo tempo. Os brasileiros venciam por um a zero, eram superiores aos holandeses e no segundo tempo a impressão que ficou é que não entraram em campo. Os holandeses viraram o jogo.

Um relatório da CBF deixou de incorporar as observações de um dos integrantes da entidade que criticou severamente a presença de um pastor junto à delegação. Dunga, o técnico e Jorginho, o auxiliar técnico, além de Lúcio, capitão da equipe, transformaram cada jogo numa batalha religiosa. Como em 1954, quando no intervalo do jogo Brasil e Hungria (o Brasil perdeu por quatro a dois e o jogo terminou numa baita briga). O cartola que presidia a CBD (nome antigo da CBF), João Lyra Filho, aos brados, gritava no vestiário que "a seleção é a pátria de chuteiras", tentando chamar os jogadores aos brios.

Era uma equipe notável, mas os húngaros eram melhores.

A não convocação de Ronaldinho Gaúcho em 2010 deveu-se ao gosto do jogador por pagode e sua costumeira atividade dentro da concentração de arrumar um grupo musical. Os evangélicos e o pastor agregado à Comissão Técnica achavam que isso prejudicava o ambiente. No intervalo do jogo com a Holanda não só o pastor, como Dunga, Jorginho e Lúcio, convocaram a Deus para confirmar a vitória brasileira até aquele momento. Ele não veio, ou então é holandês.

E não é só a religião. Paulo Maluf apareceu num treino do Fluminense Futebol Clube às vésperas de uma importante decisão e no domingo a equipe foi derrotada. Era o favorito disparado.

Um desses pastores dentre os que apareceram na lista de milionários brasileiros da revista norte-americana FORBES, já disse que vai acabar com a revista.

A fé é um direito inviolável de consciência de cada um. Não ter fé é outro direito inviolável de consciência de cada um.

O que a História mostra é que religiões têm servido a interesses políticos e se transformado em instrumento de enriquecimento de alguns (hoje são muitos) e dominação de "fiéis" iludidos na convicção que o dinheiro do pão que colocam para o pastor significa uma vaga no paraíso.

E não se exclui a Igreja Católica dessa característica.

As igrejas neopentecostais têm avançado em países africanos na tentativa de extinguir e sepultar as raízes da cultura negra. São largamente financiadas pela " fé", como por recursos de empresas, bancos e latifundiários, além de governos como os dos EUA e de Israel. Uma forma de dominação, de alienação.

Vale sempre lembrar Voltaire no leito de morte ao receber a visita de um sacerdote para a extrema unção. O pensador perguntou ao clérigo quem era ele e ouviu a seguinte resposta - "sou o emissário de Deus". E Voltaire, lúcido, pediu-lhe as credenciais. Morreu sem extrema unção.

O futebol reflete hoje as características da sociedade capitalista. Espetáculo, talvez o ponto maior no Brasil, como tal instrumento de alienação e hipocrisia pura e simples que permeia toda a sociedade chamada politicamente correta.

Somos todos juízes de "pecadores". Pouco se sabe sobre a história do macaco a debochar do rabo dos outros animais até que alguém lhe perguntou se já olhara o seu no espelho.

A sociedade da aparência, da caridade estampada em fotos, das pipocas dançantes, o caminho perfeito para que essa doença que transforma o mundo numa falsa guerra religiosa (puro pretexto para domínio político e econômico, ou para no caso individual, o trono ao final do show, decidido pelo palmômetro que marcava os antigos programas de auditório e hoje se caracteriza pela auto promoção e pela corte de áulicos).

"Sei mais de Paulo, quando Paulo fala de Pedro, que de Pedro". Sigmund Freud.

Não há problema algum se o sujeito cismar de sair nu às ruas. Entre o cismar e o fazer há uma grande diferença. E se o fizer há que arcar com o frio, ou o extremo calor. Pudor é hipocrisia. Para que essa não existisse seria necessário que todas as colunas sociais desaparecerem e todos os aparelhos de tevê estivessem desligados na hora do BBB, das novelas, de Míriam Leitão, de William Waack, do JORNAL NACIONAL, ou dos pastores vendendo a vida eterna em troca de quanto maior a contribuição maior o lote no paraíso.

Ora somos o lado claro da Lua, ora somos o lado escuro.

 

Criar condições de existência e coexistência leais depende menos de Deus e de colunistas sociais ou livros de auto ajuda, de juízes que não olham o próprio rabo e bem mais de percepção que uma das grandes crises do ser humano hoje, além da maior, o capitalismo, é a consequência, a crise existencial se assim podemos dizer.

Somos o que somos, perfeitos, imperfeitos, mas somos. Por isso é que figuras como Lúcio, por melhores zagueiros que sejam, serão sempre desagregadores.

E é por isso que se um banqueiro tiver um olho humano e outro de vidro, só o de vidro chora.

Estamos cercados de Bento XVI, de Edir Macedo, de Malafaia, de Valdemiro. E os donos montados em ogivas nucleares que garantem a "paz" e asseguram o "direito à fé" Por melhor zagueiro que seja, Lúcio vai ser sempre desagregador e se sentir entrando em campo ungido pelo Senhor, ao lado de impuros.

Judeus sionistas são meros criminosos e por incrível que pareça, andam o mesmo caminho que os neopentecostais e suas sacolinhas. Tudo termina nos bancos, nas grandes corporações, nos latifúndios.

Nei Franco, coitado, incorreu nas penas divinas dos que gostam de convocar a Deus para o jogo, mas com as regras deles.

Brilhante Ustra torturava, estuprava e matava tudo em nome da "democracia e da liberdade" e é temente a Deus.

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