"DEFENDO SEMPRE A EXPULSÃO SUMÁRIA"

A frase foi pronunciada pelo senador Demóstenes Torres (DEM/GO) a propósito das denúncias feitas contra o ex-senador Joaquim Roriz, acusado de corrupção. Roriz renunciou ao mandato antes de qualquer julgamento com o objetivo de manter-se elegível, pois pretendia voltar ao governo de Brasília. Não conseguiu. Dificuldades legais impediram sua candidatura.

Demóstenes Torres ganhou fama de intransigente em relação à corrupção envolvendo parlamentares. Em todas as oportunidades que se manifestou sobre o assunto sua posição, mesmo dentro de seu partido, era a mais radical.

O senador goiano é hoje um dos acusados de corrupção no esquema do banqueiro de jogo de bicho e empresário Carlos Cachoeira e vai ser julgado pela Comissão de Ética do Senado Federal. As primeiras notícias dão conta que os fatos constantes do inquérito realizado pela Polícia Federal e que terminaram na Operação Monte Carlos com a prisão de Cachoeira não serão remetidos ao Conselho. O STF julga o fato em segredo de justiça.

Antônio Carlos Valadares, senador do PSB/SE é o presidente escolhido para presidir o Conselho e pelo que se sabe vai ter que - ele e o relator principalmente - trabalharem com o noticiário que vazou para a mídia.

Há uma assertiva sobre situações críticas enfrentadas por parlamentares. É quase consenso que o julgamento das casas legislativas é político e não criminal. Esse cabe ao Judiciário

Demóstenes Torres está morto politicamente, causou um dano sem tamanho ao DEM, que já cogita de fundir-se ao PSDB, do qual aliás é um braço. A resistência a essa sugestão de algumas lideranças é que, nesse caso, o partido perderia o poder de barganha que tem e que, por exemplo, resultou na indicação de Gilberto Kassab para vice de José Serra na disputa pela Prefeitura da capital paulista em 2004.

A fusão implicaria em perda de força é o raciocínio dessas lideranças. As eleições municipais de 2012 mostram isso. O DEM tem candidato a prefeito de Salvador, Antônio Carlos Magalhães Neto e condiciona seu apoio a José Serra, candidato a prefeito de São Paulo à indicação dos vices. Ou seja, o PSDB apóia e indica o vice de ACM Neto e o DEM o vice de José Serra.

Esse tipo de ajuste é corriqueiro no mundo político institucional e caracteriza um jogo de interesses que ao final resta sendo um clube de amigos e inimigos cordiais. No governo Lula o ex-senador Artur Virgílio, então líder do PSDB, desmontou o Planalto com críticas gerais e duras, algumas ofensivas. O senador Eduardo Suplicy levantou-se em defesa do governo e ao final os dois saíram juntos, deram entrevistas juntos e foram jantar juntos.

Para alguns exemplo de prática política civilizada, para outros falta de vergonha recíproca e para muitos falência do sistema político vigente no País, resultado de uma Constituição que, ao final, acabou sendo moldada pelo antigo CENTRÃO (reação de grupos de deputados de direita contra avanços previstos no projeto original e encaminhado pela Comissão de Sistematização, à época presidida pelo então senador Mário Covas). Sem falar nos "adendos" e "modificações" no texto final feitas pelo então deputado Nelson Jobim, num acordo com algumas lideranças.

A esmagadora maioria de deputados federais e senadores faz suas campanhas com doações de empresas, bancos, latifundiários, quando não são indicados por esses grupos como candidatos e assim representantes desses interesses. Isso ocorre inclusive dentro do PT que nas eleições legislativas de 2006, em Minas, elegeu um candidato a deputado federal (cassado por abuso de poder econômico) que representava especificamente um determinado frigorífico e de quebra outras empresas para as quais trabalhava.

O Congresso hoje tem duas grandes bancadas em relação ao seu todo. A dos ruralistas (grandes produtores rurais) e a evangélica (que defende as políticas das igrejas e seitas neopentecostais).

O poder de fogo dessas bancadas é de tal ordem que em determinados momentos imobiliza o governo, ou gera aberrações como o novo Código Florestal (o relator foi do PC do B um partido supostamente comunista).

A bancada evangélica é um projeto de poder claro e bem definido.

A democracia no velho conceito de governo do povo, para o povo e pelo povo não é bem isso. Ou, afirmativamente, não é isso.

A participação popular é ínfima. O que deveria começar nas cidades, estender-se aos estados e a União é quase zero.

Seja pela anestesia diária aplicada pela mídia de mercado - braço desse modelo -, ou pela violência policial, na repressão a movimentos de trabalhadores sejam eles professores, bancários, estudantes, etc.

A palavra reforma volta e meia aparece como coelho da cartola pronta para resolver essas carências, digamos assim. Soa mais ou menos como tentar manter de pé uma estrutura carcomida e canhestra, que já nasceu limitada pelas condições impostas pelos militares na tal distensão lenta e gradual do general/presidente Ernesto Geisel e sob a égide de um coronel político dos mais perversos - se é que existe algum não perverso - o ex-presidente José Sarney. Dono de considerável fatia do poder até hoje.

Um dos principais aliados do governo Lula e do governo Dilma.

A semana que se inicia traz a notícia que perto de dois mil indígenas foram mortos à época da ditadura militar, números que não constam dos relatórios sobre mortos e desaparecidos durante aquele período de barbárie. O Conselho Indigenista Missionário (CIMI) denunciou o Brasil a ONU seja pelo genocídio continuo - até nossos dias -, seja pelos dados apurados com relação ao regime militar.

O sistema está falido.

Nem a contradição da presidente Dilma Roussef sobre o passo certo/errado do Joãozinho justifica coisa alguma, muito menos perante a Obama - para quem não temos que justificar nada - e tampouco para os brasileiros na perspectiva de mais um governo sem mudanças estruturais que passam por mudar o próprio modelo, o próprio sistema, num mergulho perigoso e num vôo rasante que pode engastalhar-se numa árvore qualquer, por conta da virada à direita de nossa política externa.

As críticas feitas pela mídia de mercado à visita de Dilma Roussef aos EUA centram-se no desejo de absoluta submissão aos interesses norte-americanos. Desejo dessa mídia, por sua vez, desejo de boa parte dos setores financeiros e empresariais de um País privatizado no essencial.

O que forças populares criticam em Dilma Roussef está além de uma visita aos EUA. Mas a todo o modelo, todo o sistema, fábrica de Cachoeiras, fábrica de Demóstenes, a imobilidade diante da necessidade de mudanças estruturais que não serão alcançadas dentro de visões neoliberais - o governo é neoliberal - ou em alianças com o clube de amigos e inimigos cordiais.

O que o Brasil necessita e é desafio para as próprias forças populares está além de eleições periódicas com a tal urna que não falha, não erra e é invulnerável.

Não se governa sem participação popular e participação popular implica em jogar fora todo esse recheio institucional, todo esse invólucro institucional que permitiu a Demóstenes Torres participar de uma farsa com Gilmar Mendes para manter fora da cadeia o banqueiro Daniel Dantas, com participação de VEJA, publicação do crime organizado no Brasil.

"Expulsão sumária" é do sistema. Não vai nos levar a lugar algum e cedo ou tarde estaremos pagando o preço de todos esses arranjos.
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