_ Carol!... _ bradou do terraço o pai quarentão, chamando-a. _ Tá na hora do seu encontro, filha! Ele já deve tar te esperando!
Não obtendo resposta alguma, seu Agenor deu-se ao trabalho de ir ao quarto pêssego da mocinha. Enquanto se arrumava, Carol ouvia, do rádio-gravador à mesinha de cabeceira, sua música predileta: Deusa de Itamaracá, do cantor pop igarassuense Almir Rouche.
Entrando, o pai sorriu, feliz, ao vê-la metida em seu claro e alegre vestido de manhã de sol. Uma rosa branca nos cabelos encaracolados e negros como o ébano, os lábios em rosa acentuados pelo brilho, o sorriso angelical a iluminar-lhe o rosto de criança num belo corpo de mulher, aos 15 anos. Ela abandonou o espelho, volvendo-se para o genitor:
_ Tô bonita, pai?...
_ Um encanto, meu anjinho!...
Aproximou-se dela e beijou-a no rosto com muito afeto. Logo em seguida, emocionadíssimo, sussurrou-lhe:
_ Vai com Deus, minha filha... Vai ao encontro da tua nova vida, vai... _ E afastou-se, indo para seu quarto, não queria que ela o visse chorar. Assistira demais a esse espetáculo há 7 anos, quando no momento do atroz divórcio, merecia trégua eternamente.
O antigo relógio-cuco da sala anunciou 8 horas e, por um instante, Carol quase caiu em lágrimas, porém se conteve. Fitou a porta do quarto e leu, para seu consolo, a máxima de Amado Nervo, pregada num camurça cordiforme:
“Sempre que houver um espaço em tua vida, enche-o de amor.”
Respirou fundo, munida de força pelo pensamento amadeano, sorriu e se foi sem olhar para trás, linda, faceira...
alcionemazzeo.jpgsylviabandeira.jpg Pela beira das paradisíacas praias da Ilha de Itamaracá, as delicadas mãos na saia do vestido, sob um sol magnânimo, aquela garota que, um dia, sonhara em ser tão brilhante atriz quanto a Sylvia Bandeira e a Alcione Mazzeo, corria cinematograficamente... um deslumbre!
O coração palpitava-lhe no peito, bastante ansioso, a respiração ofegante quase a asfixiava, mas a esperança abria-lhe um sorriso amigo. “Estou aqui!”, era como se este sentimento “verde” se pronunciasse com suavidade.
Cansada de correr – uma dezena de minutos do percurso já havia se passado –, Carol estacionou: finalmente chegara ao coqueiral! O coração, agora, prestes a explodir de tamanha ânsia. O vento fazia-lhe as madeixas dançarem frenéticas.
_ Ai, meu Deus, cadê ele?... _indagava-se, mirando todos os lados.
Nada! Tempo de espera... Angústia. Ex-entusiasmo! Decepção!... Eram já 11 horas quando Carol não mais quis ficar. Deu uma rabanada para um pardal que havia pousado na relva à sua frente, esmagou sem ver uma esperança que ali pulara há pouco, largou a rosa branca no chão e pôs-se a andar de volta para casa. Triste. Bom, na verdade até mais do que triste: infeliz.
_ Ei, Ana Carolina, aqui! _ uma voz mansa de homem já ancião a chamou.
Como em câmera lenta, ela se voltou na direção daquela voz. Na carroça, o Padre Érico, duas freiras e três crianças carentes do orfanato municipal a aguardavam contentes. Contagiada pela alegria deles, Carol correu, subiu na carroça e se foram. A quermesse anual beneficente não podia esperar.
De lá, seguiria com a mãe para o Rio de Janeiro. Morar em definitivo, estudar piano, progredir intelectualmente e dedicar-se aos mais necessitados de pão e de Vida. O sonho de ser atriz, pois, ficou para trás. Por amor ao próximo...
Quem sabe a mais nova Madre Teresa de Calcutá?

Momento Jornalístico!

“O Cenário do Conto, o Astro & As Musas"

praiadoforteorangeitamaraca.jpg A Ilha Itamaracá, a 40 km da cidade do Recife, fica separada do continente pelo Canal de Santa Cruz. Possui praias serenas, com coqueiros, piscinas naturais, recifes, bancos de areia e águas calmas. Além das reservas ecológicas com matas nativas, possui o Centro de Preservação do Peixe-Boi. A região é bastante conhecida pela prática de esportes náuticos.
“Deusa de Itamaracá”, de Almir Rouche, cantor e puxador oficial do famosíssimo bloco recifense O Galo da Madrugada, é uma das músicas-símbolo da bela Ilha. Almir, hoje também secretário de Turismo, Cultura e Esportes da histórica e fascinante cidade de Igarassu, vizinha à Ilha, sabe bem propagandear com sua voz suave, através da canção, o romantismo da mulher pernambucana e as belezas do mar de Itamaracá (para maiores informações, eis o site: www.almirrouche.com.br).
almirrouche.jpg Por falar em beleza, esta, somada ao talento de representar, faz parte de duas grandes musas inspiradoras deste conto: as atrizes Sylvia Bandeira e Alcione Mazzeo. Sylvia, vivendo a Cilene da novela “Vidas Opostas” e também na reprise de “A Escrava Isaura”, como a bondosa Perpétua, encontra-se em cartaz com a peça “Rádio Nacional”, um sucesso de crítica e público (seu site: www.sylviabandeira.com.br).
Alcione, tanto dramática quanto cômica atriz, é um exemplo de talento também em alto grau. “Zorra Total”, “A Escolinha do Professor Raimundo”, “Senta Que Lá Vem Comédia”, “A Praça é Nossa” são apenas alguns dos muitos programas em sua carreira magnífica. (seu site: www.alcionemazzeo.com.br)
Duas belíssimas fontes de inspiração, sem dúvida!
No entanto, não desmerecendo as esplêndidas atrizes citadas anteriormente, a musa-mor de “Tempo de Amor” já sabemos qual é. Isso mesmo, a SOLIDARIEDADE, exemplificada pela doce figura da Madre Teresa de Calcutá. E não só doce: firme, decidida, abençoada! Aliás, em pessoa a própria paz. É preciso dizer mais?

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O CONTO DO DIÁRIO


Cálida, saltitante, mais de um milhão de estrelas nos olhos, foi assim que Natália chegou em casa. Disparou para o quarto, trancou-se: os pais não podiam incomodá-la! Pegou o diário e a caneta na gaveta da cômoda, mergulhou na cama e pôs-se a metralhar tinta azul-turquesa, cintilante, nas páginas cor-de-rosa:

“SEGUNDA-FEIRA, 12 DE JUNHO, ‘Dia dos Namorados', tardinha. _ Ai, meu Deus, obrigada!... Que beleza! Que maravilha! Venci mais uma batalha: o Diogo aceitou me dividir com ele!
Pôxa, Diário, mas como foi difícil! Meu namorado não é mole, não. Nem parece que já estamos no século XXI. O Diogo mais parece um daqueles homens que viviam nas cavernas, os trogloditas. Diz que mulher dele só deve ter olhos pra ele, pode? Hoje mesmo, pela manhã, ele me falou isso. Depois, cedeu.
Foi preciso um mês pra convencê-lo, implorando todos os dias. Me tornei mais atenciosa com ele, mais carinhosa, mais obediente... Você bem sabe, Diário. Até trocar as mini-saias pelas calças compridas eu troquei. Menos batom, menos blush, menos sombra, menos riso, menos quase tudo. A mais, só a roupa e o grau de comportamento _ este, impecável. Tolice!... Já estava ficando histérica de tanto esperar pelo sim dele, quando, agora há pouco, na saída do colégio, ousei dizer ao teimoso, com todas as letras:
_ Cansei de ser enrolada por você, Diogo, e eu não sou fio pra isso. Te amo muito, mas... das duas, uma: ou você aceita, pra valer, me dividir com ele... ou a gente rompe o namoro agora, tá legal? Tô falando sério!
_ Eu não posso te dividir com ele! _ me respondeu, impaciente.
_ Você já me dividiu com tantos outros, rapá, qualé agora, hein?
_ Só que os outros de antes não eram ele...
_ Ah, é, mocinho? Então, qual a diferença entre os outros e ele, quer me dizer, por favor?
_ Não gosto dele. Simplesmente não gosto, Natália.
Daí insisti, forçando-o a se sentar comigo em um dos bancos verdes, de ferro:
_ Por quê? Não, eu exijo que você me diga. Você sempre foi tão nem-aí pros outros, ô cara... O que é que tá pegando, hein?
_ Nada. Só sei que mulher minha só é pra ter olhos pra mim!
_ Ciúme bobo, cara. Estamos nos tempos modernos, Terceiro Milênio, lembra? Robôs, Internet, supercelulares...
_ Mas isso tudo aí não me mete medo, não. O que você quer fazer, ficando com aquele outro lá, isso, sim.
Relaxei. Tentando entendê-lo melhor, indaguei, terna:
_ E você tem medo do quê, exatamente, hein, amor?...
_ Te perder, Tatá _ a resposta foi corajosa e lacônica.
_ Me perder?... _ me surpreendi.
_ É. Sempre que você tá com qualquer um outro, eu me sinto... supervazio, sabe? É como se ele tivesse arrancado você de mim pra sempre. Esse novo que você quer aí, então, pra mim, é o pior de todos!”

Contou-lhe que sonhava com ela todos os dias, acomodada nos chifres dele, Diogo, a vista prenhe de cobiça, mordendo os lábios carnudos na intenção do mais novo ficante. O último havia sido há um mês e meio.

“ _ Que absurdo esse teu sonho! _ Era um absurdo mesmo.
_ Absurdo, é? Vai que você se empolga com esse aí, resolve se aventurar mais, aí me esquece, me abandona, né?!
Inacreditável aquele ciúme! De súbito, beijei-o ardentemente pra aplacar seu coração, como nunca o tinha beijado antes, e, depois, aproveitando o seu desarmamento, confessei:
_ Nunquinha que eu vou te deixar, Diogo. Eu te amo! Olha, sou apaixonada por tudo em você: teus olhos, tua boca... teu cheiro, esse teu cabelo hippie... tuas roupas largadonas, tua ideologia não-às-drogas... Até por teu mau-humor, sabe? Sou doidona por você. Completamente insana, mas... também tô loucamente apaixonada por ele, e isso desde que a Silvinha me falou dele, me fez conhecê-lo na casa dela... Ah, quero tanto poder ficar com ele sem ter que abrir mão de você, meu tchutchuco... Será que não dá pra compreender isso?...
_ Não _ respondeu, seco.
_ Não? _ cansei, e fui ríspida: _ Então prefere que eu fique com ele às escondidas? Que eu vá pra cama com ele às escondidas, é?
_ Você não seria capaz _ duvidou, erguendo-se.
_ Sou, e não há quem me impeça! _ contra-ataquei, também me levantando. _ Você não é meu dono, completei 18 ontem, meus pais são liberais...
Baqueado, Diogo se sentou novamente; eu, em seguida, pra acrescentar:
_ Além disso, amor, vivemos hoje numa democracia. Pra tudo!
_ Quase tudo!
_ É, mas vivemos... Vem cá, me diz uma coisa, sinceramente, vai: do que é que você não gosta nele, hein? Já me dividiu com tantos... Do que é?
_ Jura que... não vai rir de mim? _ me perguntou, acanhado.
_ Juro. Do que é?
_ É... é do nome dele... _ e cobriu o rosto, com vergonha.
Ah, o meu amor por Diogo se agigantou naquele momento. Beijando-lhe a orelha ao mesmo tempo em que lhe afagava os cabelos, senti que ele tinha me dado a permissão pra eu ficar com os dois.
Antes de a gente se despedir, Diogo me prometeu trazê-lo pra dormir comigo, ficar comigo. Quando ele promete, cumpre, chova ou faça sol! É como promessa divina. Pois é, Diário, e é justamente isso, esse lado Deus dele o que mais me atrai. Bom, mas chega de papo, que, daqui a pouco, os dois vão estar aí. Tenho que me cuidar. Preciso realçar minha beleza!”

Diário cerrado, devolvido ao lugar de sempre, Natália partiu para o ritual da beleza _ considerava um ritual o ato de se produzir.
Despida, o corpo já semi-imerso nos sais de banho, nas ervas aromáticas, ela brincava com as bolhas. Pose sensualíssima, bastante espuma para soprar. Auto-abraço, um quase adormecer, relaxamento. Prazer. Alegria no cair daquela noite gostosa e curitibana de inverno.
O quarto, na penumbra lilás do abajur (única luz acesa), aquecia-se só de abrigar a ninfeta a secar-se e vestir-se. O minivestido de cetim vermelho, sobre a pele bronzeada, incrivelmente alheia ao friozinho, caiu-lhe como uma luva; o batom Boka Loka, da mesma cor, mais ainda na boca louca. Cabelos longos, úmidos, cheiro de rosas, contemplou-se através do imenso espelho. Belíssima!
Toque de campainha!
_ São eles!... _ vibrou, indo atender sobre saltos altos também vermelhos; o corpo, tão candente quanto o coração, prestes a explodir de êxtase.
Eram eles, sim. Entretanto, nem deixou Diogo abrir a boca, sequer entrar. Apenas o outro. Só o outro. Tudo seria o outro naquela noite. Tirou-lhe a “roupa”, que a impedia de vê-lo como realmente era; levou-o ao quarto e deitou-se em sua companhia. Há muito esperava por isto, para tê--lo no “Dia dos Namorados”. Centenas de abraços, mil beijos... Ia dormir com ele! Nem acreditava.
No dia seguinte, começou a devorá-lo avidamente; o papel de presente, a “roupa” dele, ainda repousava no chão da sala, junto à porta.
Diogo, o ciumento bobo, deixara de fricotes e o havia comprado para ela. “O Garanhão”, o livro dos seus sonhos. Pena Diogo não apreciar a leitura... 

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