A COISA, A FOTOGRAFIA E A IMAGEM DA COISA – I

A imagem de uma pessoa, de um grupo ou de uma coisa  não se constrói de um dia para outro.  Quer comece a ser trabalhada do zero ou continuada sobre um projecto já começado. Um verbo bem apropriado é mesmo o construir, utilizando aquilo que se pode reunir de melhor sobre o que, ou sobre quem se vai trabalhar. É bastante frequente alguém comparar uma imagem de marca, com tudo o que este conceito inclui, a um edifício de concreto, armado sobre uma estrutura sólida e segura, ou reforçada, de modo a ser capaz de sustentar paredes rijas que aguentem ao mau tempo, aos maus ventos e que resistam ao esforço periódico de manutenção - crescer dói e mudar inclui sofrer choques e abalos. Com uma fachada que chame a atenção pelo objectivo, pelas suas peculiaridades, mas também pela harmonia com o conjunto. Definindo fachada não como um disfarce, uma parede falsa, mas como um realce do conteúdo.
Conteúdo  que se esconde não  rende imagens. Modéstia, sobriedade e discrição são qualidades elegantes, mas há que ser dosadas nesse trabalho, para não serem confundidas com hipocrisia. Palavras que dão nome e que rotulam. Muita coisa vale mais para ilustrar esta analogia com o verbo construir, como a preocupação com a economia em material – por exemplo com a  qualidade das canalizações e sistemas eléctricos de um edifício. Com a imagem das pessoas também é assim, a economia em material pode prejudicar a construção, manutenção e durabilidade. Uma imagem construída com pouca informação, ou com dados mal escolhidos, não favorece a que vá sendo, aos poucos, mantida, restaurada e até reestruturada nos seus alicerces. Vamos chamar de agora em diante de "coisa" – e  sem aspas – as pessoas, empresas, instituições, objectos e o conjunto da clientela desta ideia. Apenas para simplificar raciocínios. Há a coisa, a imagem sobre a coisa (a fotografia no sentido mais abrangente do termo) e a imagem da coisa. Esta última interage com as outras duas estruturas, intertransformando-as. Sempre que preciso falar com alguém sobre este assunto, cito como exemplo a história da imagem construída do falecido político brasileiro de direita António Carlos Magalhães, baptizado espontaneamente pela mídia brasileira de Toninho Malvadeza. Sem se preocupar prioritariamente em esconder o seu passado, até porque isto não seria mesmo possível, foi mudando a sua imagem, realçando pontos flexíveis do seu carácter e se expondo à transformação. E colocando os feitos à frente do homem. Morreu como liberal, reconhecido por elementos de expressão da esquerda que anteriormente o criticaram, e por todo o povo da Bahia, sua região e celeiro político. O que pode nos levar até a pensar que, se alguns políticos – que nem o marketing político os salvaria – imitassem o ACM nos seus últimos anos de vida, o Brasil seria outro em pouco tempo. O marketing é uma ferramenta para ajudar na construção de uma imagem, mas o material vem da própria coisa e da história da coisa, fotografada e exposta, em transformação. Por isso até agora nenhum marketeiro vislumbrou candidatar-se à reabilitar a imagem do Pinochet e do Bin Laden. Ou já? Tudo o que sai na foto se revela tende a mudar, penso eu, ao contrário do que reza a convenção, de que a coisa se mexe e a fotografia é estática. Em marketing pessoal isto não é bem assim.
Uma fotografia bem focada (nos jornais ou na TV, por exemplo) de uma coisa má ou uma coisa feia (real), pode levar à construção uma boa imagem da coisa. Como? Se aos olhos dos outros  parecemos belos, belos nos tornamos. Essa transformação gradual vai obrigando a coisa a ser mais parecida com o que parece, se o que parece é bem melhor. Vai mudando a coisa a um ponto de ela necessitar parecer, aparentar, mostrar que está mudando, dinamicamente para melhor, para não ficar para trás. Ao contrário do que afirma o senso comum, trazer à tona as coisas más não as valoriza nas más influências que podem conter, mas pode significar influenciá-las e transformá-las. Os maus pontos da imagem, bem escolhidos e revelados fazem com que os bons pontos sejam editados em alto contraste, o que é positivo para ambas as coisas. As pessoas mudam, as coisas mudam, mas as fotografias e os filmes ficam, comprometem, exigem coerência, reforçam a construção da imagem dinâmica, no seu sentido mais amplo e contínuo.  Uma imagem que não  revela uma coisa apta a ser sempre melhorada  é como um edifício belo e abandonado. E uma imagem bem construída, assim como um edifício, para se manter bela tem que ser assistida constantemente, e não parecer uma coisa pronta e acabada.

É esta a lógica que faz com que um assessor de Comunicação e Imagem não discrimine um cliente com uma história particularmente incorrecta e difícil de ser contada. Na perspectiva de que o cliente sempre poderá melhorar um pouco se o assessor for competente e tiver sensibilidade e inspiração. Assim como um advogado de defesa ou um médico (muitas vezes em urgência), como acontece em tantas outras profissões de cariz humano, o assessor de Comunicação e Imagem também é um “salva-vidas”. A partir do momento em que você resolver construir ou reforçar a sua imagem, deve estar consciente de que entrou em um processo de transformação interior, de melhoramento como coisa, e que isto virá à tona.  Para isso deve lançar mão do que há de melhor em si para oferecer e informar. Sem esquecer do que aparentemente teria de ser esquecido, na sua história, quando no espelho se olha. Muitas vezes, os pontos negativos de uma história, quando assumidos positivamente podem revelar uma experiência humana a não ser repetida por quem a viveu ou por outras pessoas a quem a revelação pode ajudar.

Por que é que ultimamente está na moda as pessoas famosas irem à televisão e aos jornais e assumirem publicamente os seus defeitos crónicos de carácter, suas doenças-tabu e seus vícios? Simplesmente porque a negatividade dá audiência e porque a plateia é selvagem? Não! É porque tornam a coisa, na fotografia, mais humana e mais autêntica. Até o imaculado e claustro cantor Roberto Carlos, em subtil transformação desde a jovem-guarda rebelde, assume que sofre de transtorno bi-polar. Isto seria impensável há uns anos atrás. Mas assumido agora, isto também é bom para a imagem dele, sólida mas em constante evolução. Porque construir ou manter um edifício ou uma imagem, não é apenas fazer uma pintura nova o uma cirurgia plástica, ou, para os mais radicais, derrubar paredes para as fazer de novo, começar “nova vida” como dizem os amadores. É valorizar velhas e sólidas experiências – inclusive as de mudança – e reeditá-las, somando-as às novas. Informações verdadeiras, bem escolhidas, compiladas e divulgadas, que reforçam a imagem construída, tornando-a mais bonita, durável e resistente às adversidades. Quem contrata um especialista em imagem certamente não quer mudar apenas a imagem, e mesmo que só queira isso, não é só isso o que acontecerá.
 
Ana Lúcia Araújo
Operária em construção.

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