O que o Green Peace tem que a esquerda brasileira não tem?

O que o Green Peace tem que a esquerda brasileira não tem?
Comentando o plebiscito da Vale.

Quase ao mesmo tempo em que acontecia no Brasil o plebiscito nacional sobre a anulação do leilão, notoriamente ilegal, em que foi privatizada a companhia mineradora Vale do Rio Doce há 10 anos, o Green Peace realizava em Botafogo, no Rio, um protesto cujo tema nem chamava muito a atenção, perto da importância da discussão em torno da Vale. Mas ao contrário do que aconteceu com o plebiscito, o protesto dos verdes ganhou as páginas da grande imprensa brasileira e repercutiu no resto do mundo, muito mais porque o Green Peace foi corrido a gás lacrimogênico. O que faltou acontecer na campanha do plebiscito - pelo NÃO ou pelo SIM, para chamar a atenção, por exemplo, do O Globo? Se até as perguntas estavam direccionadas para um não sonoro e sintonizada com um pretenso  sentimento negativo nacional?! Se até foram incluídas questões locais no questionário - um achado em termos de idéia. Faltou incêndio? A esquerda brasileira, que liderou o plebiscito e a campanha, terá se endireitado?
 
A questão mais importante nem é esta, mas vale a pena pensar. Se a esquerda brasileira tivesse endireitado,  era suposto os movimentos coordenados por esta terem passsado a constar no menu obrigatório da pauta do O Globo, um jornal burguês. Então não se endireitou nada, ficou foi monótona nos seus formatos de campanha. Quando era incendiária nos protestos, a esquerda precisava da imprensa engajada para propagar os seus interesses. Agora que os protestos são pacíficos, continua na mesma. Ou nada disso, só estou a raciocinar. Portanto, será porque os verdes são chatos e incomodam muita gente que são corridos e chamam a atenção da imprensa, ou porque aparentam não ligar nenhuma a isto?  Porque têm uma causa mais justa ou mais popular,  à direita ou à esquerda, ou é por tudo isso e mais alguma coisa? Estou apenas estudando o assunto, mas acho que tem a ver com o "discurso" prático, com o foco dado às causas e aos interesses. Se o leilão que vendeu a Vale foi ilegal, se a sangria das riquezas brasileiras atingiu grande fluxo a partir desta desastrosa privatização, se nem os interesses actuais do Governo Federal foi capaz de impedir a realização do plebiscito, se a participação foi recorde, o que faltou para que a ainda chamada grande imprensa - pela própria esquerda - fosse obrigada a acompanhar? Faltou que os leitores pedissem isso, lá do fundo do seu anonimato. As secções do leitor ganham cada vez mais importância e interatividade com as pautas dos chamados grandes jornais. Não subestimemos os foros de leitores.
 
Artista sem fã-clube não se mantém na media. Cada vez mais ganha importância no cenário da informação globalizada a sociedade civil "desorganizada", que precisa ser trabalhada na sua espontaneidade individual, com a mesma importância com que os coletivos que representam os interesses sociais são mobilizados pela esquerda. A informação espontânea é a maior fomentadora de media espontânea, maior aliada ainda de conceitos já quase ultrapassados como "comunicação de massa", "formadores de opinião" e outros tantos que se transfomaram em meros chavões diante de outros já bem experimentados na vida diária, como os "multiplicadores de opinião", "grupos de interesse", etc. Formador de opinião, nem o Caetano Veloso quer ser mais. Este Caetano sempre se superando. Chorar o desinteresse da media no site www.avaleenossa.org.br é pecado mortal para a causa. Criticar o Lula, heróico sobrevivente dos escândalos governamentais, campeão de opinião, por ele ter falado que o PT apoiou o plebiscito para fazer média foi mau negócio. Em campanha, isto deveria ter sido capitalizado como um elogio à causa. São pequenos gestos que podem promover ou despromover uma causa junto da opinião dos grupos de interesse, compostos por pessoas que frequentam foros na internet e que se ocupam regularmente de escrever para a imprensa de alcance nacional, para criticar, enviar pauta, dar sugestões, xingar... e que se recusam, na prática, ao papel de formandos em opinião. Por falar no site A Vale é Nossa, acho que é objectivo, contém o essencial, mas não tem um apelo informativo aos jovens, aos adolescentes e às crianças. Um apelo aos que não votam ainda, mas multiplicam informação e sabem bem o significado de um roubo. O rosto do site quase lembra os visual da campanha "O Petróleo é Nosso" de tão anacrónico. E a imagem de cabeçalho invocando apenas mais um protesto.
 
A mobilização pela internet foi positiva. E ao fim e ao cabo foi esta media a que mais puxou a numerosa participação no plebiscito. Agora é preciso que também seja aproveitada para sensibilizar os poderes quando da entrega do resultado ao presidente Lula e no desenrolar do assunto. Então, porque continuar chorando o desinteresse da grande imprensa? Os leitores que escreveram para os foros de leitores dos jornais do Rio de Janeiro e de São Paulo - e que ainda circulam em todo o território nacional - aplaudindo o tiroteio ao trem cheio de ministros, no Rio, não foram tolhidos, nem ignorados, nem censurados nos seus interesses. E o próprio O Globo não pôde deixar de lado o assunto e até enfatizou-o bastante. Esses leitores não precisam de sugerir em artigos bem escritos que é preciso uma imprensa "de esquerda" para fazer frente à "imprensa burguesa" e incentivar jornais como O Brasil de Facto - que tem a sua importância na história das causas populares e da esquerda, mas nunca serão o suficiente para divulgar em um país tão grande o que quer que seja. "Massificar" uma causa, para usar mais um termo ultrapassado, requer mais do que afinar um discurso entre lideranças e estabelecer uma linha de campanha. Num mundo visto de todo lado pelas imagens, é preciso regular o foco. Mais importante é explicar a fraude do leilão na ótica das leis vigentes, e menos explicar os intereses tucanos na altura. O desgaste da figura do FHC - já ex-presidente do Brasil - agora, pode ser mau para o futuro dos tucanos e aliados, mas é insuficiente para explicar o facto em si, o facto reversível, o famoso leilão.
 
Voltando ao Green Peace, o que eles tem que a esquerda brasileira não tem? Invertendo a pergunta, o que os verdes não tem e que a esquerda brasileira tem de sobra? Lavam demasiada roupa suja em público, deixam sempre transparecer demasiado as divergências antes de afinarem o discurso - as divergências são salutares, desde que não denotem interesses demasiado próprios de alguém. O acúmulo desta prática vai desgastando as causas comuns. E por falar em causas comuns, muita atenção a este apelo da reestatização. Eu sou a favor da anulação do leilão fraudulento, e como operacional do marketing político ouso me posicionar. Mas reestatizar uma empresa rentável para que ela passe a ser gerida por um governo impregnado pela idéia da corrupção? Coloco-me no lugar da  brasileira, leitora, cidadã participativa que não vai em qualquer conversa, internauta e multiplicadora de opinião. Não confio que o actual governo gerisse bem a Vale do Rio Doce. A ainda superestimada grande imprensa já não esconde os actos corruptos dos governos - deveria esconder para que o discurso da reestatização pegasse? Se calhar daria jeito. Mas não. Tudo o que é gritante está na grande imprensa, na pequena imprensa, na internet, na cabeça do cidadão ex-alienado.  Deixem-me "viajar" um pouco, eu que não dependo do O Globo para opinar, muito pelo contrário:
 
E se a idéia fosse transformar a Vale do Rio Doce em uma sociedade aberta à participação dos cidadãos? Uma empresa gerida pelos brasileiros e que o Estado apenas a regulasse? Bem explicado isso, não faltaria quem escrevesse para os jornais todos esmiuçando, especulando, forçando as pautas. Alguém falou durante a campanha sobre um novo modelo possível de estatização, mas foi pouco. Mal acabou o plebiscito, o resultado nem foi entregue ao Presidente Lula e já estou a pensar num futuro possível para a Vale. E não devo ser a única. Penso que seria muito bom para o Brasil se a empresa fosse nacionalizada, mas com Oferta Pública de Acções, percentagem de participação estrangeira regulada em quotas não limitadas ao mínimo, mas com limite máximo regulado por aquisição. Não sou economista nem creio estar falando de alguma novidade. É um pensamento positivo pós-plebiscito que sugere confiança no futuro e pode incentivar decisões. Reestatização, para além de ser um termo carrancudo, é uma solução discutível.
 
Ana Lúcia Araújo
No papel de marketeira e multiplicadora do NÃO

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