Os Tavares, os Silvas, os Almeidas, os Pratas
e a HISTÓRIA DE MACAÉ.

José Milbs de Lacerda Gama


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UMA EXISTÊNCIA DE LUZ

José Milbs continuava com a cabeça ainda menos bela. Ela, pacientemente moldava a obra humana. Suas mãos pareciam comandadas pela divindade. A espera pelo mamar do menino nos braços de Nilza e outras mães de leite pareciam a Nhasinha minutos de eternidades. Não arredava pé na espera do corpo fragilizado para moldar a cabeça molenga.

Com pouco tempo a cabeça de José Milbs tomou um formato menos feio. No lugar das carnes gelatinosas aparecia um lindo cabelinho que foi se castanhando e uma arredondada forma de beleza deu lugar a antiga imperfeição da natureza.

Nunca mais Nhasinha deixou que ninguém cuidasse do menino. O tempo foi passando e um novo mundo começou a dar lugar ao velho mundo na vida dessa senhora.

Dedicada ao catolicismo Nhasinha deu uma demonstração em vida, do que uma mulher pode fazer para sobreviver às tempestades que a natureza a fez enfrentar.

Na igreja católica dedicou eterna existência. Presidente do "Apostolado da Oração" durante mais de 20 anos. Cercada do carisma leonino, que a liderança tinha nela um vector, Alice Quintino de Lacerda, conhecida como Nhasinha, foi cimentando sua historia de mulher e guerreira na vida comunitária de Macaé.

Sua vida alegre e desprovida dos bens materiais, para uma mulher que tinha sido dona absoluta do maior patrimônio de terras dessa região, ela deve ter de fato se acumpliado com Deus e, em suas preces foram entendidas e atendidas.

Criando forças sobrenaturais, cuidou com tenacidade de seus pais e de 3 netos, que tiveram que ocupar sua existência por forças circunstanciais havidas na separação de Ecila e de Djecyr. forças que só as grandes portadoras de virtudes são possuídas.

A vida normal só foi interrompida no seu dia a dia com a chegada de uma doença pulmonar de nome pleurís.

Levada pelas bondosas mãos do médico Manoel do Carmo Louzada, que a atendia, Nhasinha foi levada para o Rio de Janeiro onde, vítima de uma possível irresponsabilidade médica que já existia nessa época, teve seu pulmão perfurado, quando de uma pulsão na pleura, vindo a falecer.

O dia 29 de agosto de 1962 ainda trazia para Macaé o vento frio, que marca toda esta região nessa época.

Um olhar triste tomava conta de toda a comunidade católica e não católica. Principalmente a Rua do Meio , onde ela morava . A notícia de sua morte vinha seguida de uma forte saudade dessa linda senhora de 72 anos, que sempre de preto, desfilava nas ruas de Macaé, nas festas católicas, nas procissões e nas tardes de Maio; indo e vindo para longas ladainhas.

Era a morte de Dona Alice ou dona Nhazinha que passava de boca em boca, até chegar no mais longínquo dos rincões de nossa cidade. A cidadezinha de Macaé era, como sempre digo em meus textos memoriais, uma grande familia. A perda de um ser, tão docilmente ligada a comunidade, trazia de fato uma grande comoção.

Seu corpo. Exposto na Igreja Matriz de São João Baptista, onde serviu por longas décadas, foi visitado por zeladoras do "Sagrado Coração de Jesus" e centenas de amigos.

Estava deixando este mundo uma das mais belas e mais lindas mulheres que já vi em toda minha vida.

Era minha avó, minha mãe e eterna companheira de sonhos e de alegrias. A mulher que moldou minha cabeça e pos para dentro um grande quantidade de carne avermelhada com toques de carinho, amor e muito afeto. Era a mulher que energizou minha cabeça e tirou de mim o medo das coisas deste mundo.

Sua morte se deu aos 72 anos de idade no dia 29 de agosto do ano de l962. Sepultada junto a Mathias Coutinho de Lacerda e seu filho José Milbs Quintino de Lacerda, tem até hoje seu nome ligado à beleza das lembranças de quantos conviveram com ela. Filhos, netos, descendentes dessas contemporaneidades que não conseguem deixar de demonstrar o quanto Nhasinha Lacerda foi importante na vida de cada um em sua época de Macaé.

Seu nome é imortalizado numa rua no Bairro Valentina de Miranda. Rua Alice Lacerda.

Nhazinha faleceu no Rio de Janeiro seu esposo Mathias idem sua filha Ecila em São Paulo. Todos vieram ser sepultados em Macaé . Desejos que foram cumpridos pelos seus descendentes.


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